As praga de mãe

Tô falâno! Nem bem as novidade começa a existí e nóis aqui já toma de conhecê...

Pois é! Foi aquele negóço que faláro que ia mudá as lei. Que agora diz que ia modernizá. Que a muieráda agora pudia ficá tudo disprocupada, que num ia sê mais farta de vergonha esses causo de hôme tê mais de uma muié. Que agora a lei vai potregê...

Aqui na Colonha o povo ficô tudo de orêia em pé. Ninguém se atreveu de botá prosa no assunto.

Com tanta coisa pra esses político pensá e os danado só qué sabê de bobage.

Ô meu Jesuis Cristinho! Quando é que vai tê hôme sério nesse guvêrno?

Tão pensâno o que?

Já pensô?

Se com uma muié só já dá um trabaião danado! Cruiz credo! Magine com umas trêis. Tudo juntado numa veizada só...

Vai vê é isso que eles tão pensâno de arresorvê: dá trabáio pro povo!

Ôtro dia nóis escutêmo uma prosa daquele deputadinho de merda, que só aparece quando tá nas confusão, dizêno que o pobrema do Brasir era a farta de trabáio pro povo.

É bem capaiz de sê isso! Tão querêno arranjá ocupação. Aí ninguém mais pode chiá. Num vão tê tempo de sobra e eles vão podê maracutaiá a vontade.

O povo aqui já conhece de longe essas estória.

Nóis aqui até fala que tem uma diferênça entre o rádio e os pulítico: o rádio nóis liga pra escoitá... os pulítico nóis escóita e num liga.

É sô presidênti, a coisa tá feia! Que povinho o sr. foi se enroscá!

É miór o sr. ficá aí bem quetinho na salinha de presidí, porque se um dia dé de topá com o padre Onofre, ele vai esparramá excomungação, que nem ele tá fazêno nos sermão das missa. E se fô por causo de reza, pó prepará as passage pros quinto dos inferno, que num vai tê nem uma letrinha pro seu lado.

E óia, praga de padre é piór que praga de mãe...

Uma vêiz aconteceu um causo de praga aqui, que até hoje num há jeito de desencantá.

E óia que foi só uma praguinha atoa, sem muitas intenção...

Foi por causo de um jogo de futibór e o pragueado foi o Marirdinho, que tinha esse nome por causo de que o pai dele, o seu Aristíde, só tinha ôio pro danado do futibór. Dêisde mocinho sabia as escalação de tudo que é time dos profissonár.

Diz que tinha virado botafoguense porque uma vêiz, tava ainda morâno em São Lorenço, quando o time do botafogo foi lá fazê uns trêno e ele, que era bão de bola, compretô o time que tinha uns jogadô meio machucado e num ia tê jeito de dá umas corrida se num arranjasse um quarqué da cidade pra interá no ataque.

Depois disso, já muito tempo casado, desandô a nascê as fiarada e pra cada um era um nome de jogadô e tinha que sê dos bão. O primêro foi o Édso, por causo do Pelé, depois veio o Nirtinho, do Nirto Santos, o Dirceuzinho, que era só prá pô pelido de Didi. Aí veio a Inacinha, que ficô assim mesmo porque num tinha jogadô muié e o Marirdinho, por causo do Marirdo, aquele da copa de 62 que entrô no lugá do Pelé.

Desses tudo, só o Marirdinho puxô pro pai, o resto ainda tentáro mais era tudo perna de páu, num servíro nem pra reserva do rânca tôco, que era um timinho daqui da roça.

Pois óia, foi num jogo do timão da cidade contra o time lá do bairro do Guatapará, lá no campo deles. Time bão, era de roça mais era bão. Os becão dava cada tirambaço pra frente que a bola passava zunino lá nas artura. Num havéra dos atacante da cidade pegá de jeito. Eles tava tudo de ôio no Marirdinho que era o mais bão do time.

Toda hora que ele pegava na bola, destampava naqueles carrerão nas berada do campo, com um becão bufâno do lado. Uma hora eles passáro corrêno bem na beradinha, o Marirdinho e o becão, pertinho duma turminha das torcida que escutô um lá gritá pro becão: – Rânca o tampo dele!

A coisa tava feia. Num saía gor pra nenhum dos lado. Jogo duro!

Depois que viráro os lado dos time, o Marirdinho falô pros cumpanhêro mandá as bola tudo no arto prá caí lá no fervedô, que ele ia dá um jeito de dá umas cutucada. E lá foi bola pra riba dos adiversáro. Só que o golerão pegava tudo. Aí o Marirdinho pensô: só tem um jeito, tem que bulí com o golêro, dexá o bicho nervoso. E aí começô...

Cada bola que o bicho buscava lá no artão, na hora que descia o Marirdinho mandava o dedão esticado lá no fiofó dele.

Na primêra vêiz o golerão deu aquela estrimicida, mandô o pé na bola e foi com os peito aberto pra cima do Marirdinho. Deu uma juntação de gente, foi um puxa pra cá, empurra pra lá, mais cabô carmâno. Na segunda vêiz foi a mesma coisa, só que agora a mãe do golerão que sempre ficava atráis do gor pra encorajá o fío, num se conteve, garrô numa lasca de páu e meaçô entrá no campo e sentá uma paulada no Marirdinho e ainda por cima deu uma praguejada, dizêno que se acontecesse ôtra vêiz, ia entrá pra acertá, ela mesma, com o desaforado, que além de baxá o cacete nele e que ele ainda havéra de ficá com o dedo duro que era pra se alembrá dos porquê da surra.

E lá veio a tercêra cutucada.

Pronto o golerão num quis mais sabê de nada, virô uma bulacha no pé do ovído do Marirdinho que rolô até perto da mãe, que tamém pruveitô pra cumprí os prometido, e sentô uma daquelas paulada bem dada, bem no meio dos zóio do coitado.

Do jeito que caiu ficô e aí o tempo fechô. Juntô todo mundo na briga que foi supapo pra tudo que é lado. A mãe do golerão garrô no braço do fío, levô ele pra tráis dela e ficô meaçâno com o porrete quem chegasse perto. É craro, ninguém chegô perto da véia. Preferíro tudo estapeá os becão.

Ficáro assim até que chegô uns lá e botáro água fria nas fervura.

Uns dois dia depois do acontecido, tava o Marirdinho, com aqueles zoião inchadão, íno na farmácia pra remendá os curativo, quando num deu nem pra chegá.

Prantô no chão e num havia esse que acordava o hôme. Corrêro com ele pra farmácia mas lá víro que a coisa era mais séria e tratáro de levá direto pra Posalegre no hospitár.

O bicho num guentô os firimênto e teve um tár de derrâmi, que acabô dexâno ele com tudo que era do lado direito parado. Ficô assim tudo meio mole. Num guentava levantá o braço, a perna. A mão ficô assim meio esgruvinhadinha. Tudo molinho.

Só uma coisa ficô duro...

É verdade... foi o dedão que ele lascô no fiofó do golerão.

Chico Da Mona
Enviado por Chico Da Mona em 20/05/2007
Código do texto: T494561