História de um pescador – Capítulo I

Numa praia do litoral nordestino, Guiça era um pescador que se dizia muito corajoso, mas só passava um dia no mar e os outros seis nos bares da praia tomando cachaça e contando suas aventuras.

O povo de fora parava para escutar, mas os demais moradores entendiam que ele era apenas um preguiçoso. O sogro tinha uma peixaria muito grande e comprava todos os peixes dos pescadores da Colônia. Claro que encobria as mentiras do genro, dizendo que ele trazia os peixes de madrugada e entregava na peixaria do sogro. O que não era verdade. Quando ele pescava era tão pouco, que só dava para comer em casa.

Mas um dia ele saiu no início da madrugada para o alto mar sozinho com sua rede, e fez o lançamento muito longe da praia. Depois que o dia amanheceu, o sol o encontro dormindo e a rede estava toda dentro do barco, como se alguém tivesse recolhido. Ele tomou um susto, pois não havia sido ele. Quando começou a preparar para lançar novamente ao mar, ele ouviu alguém falar.

- Psiu! Quero falar com você.

- Quem está falando? Perguntou ele morrendo de medo.

- Sou eu. Lara, a irmã da Iara, a Rainha do mar. Foi ela quem tirou a sua rede da água e me deixou aqui como um presente para você.

Aquilo não podia estar acontecendo. Deveria ser um sonho. Ele meteu as mãos na água do mar e molhou o rosto várias vezes.

- Sou eu mesma. Vou sempre voltar à praia para lhe ver, quando falar suas mentiras, mas antes de eu sumir agora, preciso lhe contar um segredo. Eu já sei de todas as suas mentiras, mas a partir de agora eu vou lhe acompanhar onde você estiver, e toda mentira que você contar vai ter de se tornar verdade. Portanto, se mentir a respeito de pescarias, vai ter de realizar.

Ti bum! Ela se jogou na água e sumiu.

- Ora, isso é uma piada. De Iara, a Rainha do mar, eu já ouvi falar, mas aquela Lara eu não conhecia.

E agora? Agora nada. Ele iria continuar sem pegar peixe, contando com a ajuda e a proteção do sogro nas mentiras.

Será que vai acontecer alguma coisa se ele mentir outra vez? Será que ele terá de realizar?

Somente saberemos no capítulo II deste pequeno conto.