QUE MAU CHEIRO É ESTE

A estória que vou contar a seguir aconteceu por volta do ano de 1960:

Éramos de família numerosa e muito pobre e em nossa casa não tinha chuveiro nem vaso sanitário. Fazíamos nossas necessidades em privadas (aqueles pequenos compartimentos de madeira e no piso um buraco no meio e sob o qual havia uma fossa. Esse tipo de sanitário existia na maiorias dos quintais das casas dos bairros pobres).

Certo dia o meu pai me levou para trabalhar na casa de um italiano, conhecido dele. Quando ainda estava lá, sobreveio-me uma vontade incontida de defecar. A cada segundo aumentava mais a minha aflição e eu tentava a todo custo segurar.

Temia cometer o mesmo erro que o meu irmão mais velho. Este, não sabendo diferenciar o bidê do vaso sanitário, fez as necessidades sobre o bidê. Nunca havia feito uso de sanitários tão luxuosos.

Como não consegui segurar mais, involuntariamente enchi as calças, ou melhor, o short. Tentei disfarçar, mas os mosquitinhos e o mau cheiro não cooperavam. Acompanhavam-me por onde quer que eu fosse e eu não podia ir além do cômodo em que estávamos.

Ao perceber a situação, a dona da casa saiu com essa: “ô seu João, essa madeira tem um cheiro estranho não é?”. Quando o meu pai respondeu com um misto de deboche, vergonha e de raiva: “não é cheiro estranho de madeira coisa nenhuma. Foi esse moleque cagão que borrou nas calças”.

E eu, oprimido, tive que me manter encolhido em um canto, até chegar a casa. E como isso demorou!

Rafael Arcângelo
Enviado por Rafael Arcângelo em 03/12/2014
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