Pavarotti

Não creio que tenha existido um amor tão puro quanto aquele. Já conheci muitos deles. Amores desinteressados, inesquecíveis. Mas igual ao amor de Inalda e Pavarotti não existiu.

E foi em meio ao barulho dos carros e da poeira do asfalto quente de Copacabana que o pequeno aprendiz de cantor chegou para ficar.

Ele teve toda a liberdade que precisava em um quarto só pra ele.

Certa vez, quando estava na janela tomando seu banho de sol, um pequeno pardal

se aproximou. Conversaram muito. Pavarotti do lado de dentro e o pardal do lado de fora.

E ouvindo o pardal piar, Pavarotti cantou pela primeira vez.

A melodia era tão linda, que os vizinhos vieram conhecer o maravilhoso artista, e qual não foi a surpresa, ao se depararem com um pequeno canário belga cantando bem em cima de um banquinho.

Ah, sim!, era uma linda ave! E este era o modo de declarar sua afeição a quem tanto carinho lhe dedicava: Inalda.

Adorava o suco de agrião e de aveia que ela fazia.

As visitas de que ele mais gostava eram de crianças, especialmente bebês.

Costumava pousar na cabeça deles, com o devido consentimento.

Pavarotti ocupava um lugar especial na vida de Inalda.

Entre eles havia um amor incondicional.

Um dia, ele acordou tremendo muito. Ela o colocou perto de uma lâmpada para que se aquecesse e deu-lhe água com açúcar. Mas ele não estava bem.

Inalda chamou o veterinário. E fez o que pôde...

Ela sabia que seu parceiro de estimação não era mais jovem, já tinha dez anos.

Subitamente, Pavarotti bateu as asinhas, deu um último pio e morreu.

Algumas pessoas são escolhidas para cuidar de um determinado animal, ajudando-o na sua evolução de alma grupal à individualização. Portanto, os laços que temos com o reino animal são profundos. Os animais são nossos amigos e têm muito a nos ensinar.

Pavarotti deixou uma saudade imensa.

A última vez que falei com Inalda, ela chorava e ria ao mesmo tempo. Chorava de saudade e ria lembrando-se das peraltices que ele aprontava. E dizia:

- Eu deveria ter tirado uma foto aquele dia... Não podia imaginar que ele fosse morrer tão rápidamente!

Mas nós duas sabemos que ele está vivo, em cada canto daquela casa e em nossos corações.

Sandra Reis
Enviado por Sandra Reis em 10/06/2007
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