POBRE GUAIAMUM

Em inícios da década de 80, quando em férias ou feriado prolongado, eu costumava viajar para um lugarejo denominado Ponta de Areia, no sul da Bahia, próximo daS cidadeS de Caravelas e Alcobaça, ambas também naquele estado.

Ao retornar para casa, levava também na bagagem, alguns guaiamuns, soltava-os no quintal e provia-lhes alimentação.

Aos poucos apanhava um a um, para cozinhar e apreciar sua carne branca e leve.

Passados alguns meses, quando já não mais imaginávamos a existência de algum crustáceo, localizamos um deles, já bem crescido, saindo sorrateiro de sua toca.

Meu irmão logo se adiantou: “esse guaiamum é meu, eu tô deixano ele crescê”!

Diante disso o guaiamum se tornou intocável, passando a ser de estimação.

Certa noite, ao exibir o bitela a um colega, meu irmão deixou-o cair no cimento duro, ocasionando-lhe a quebra do casco.

Eu logo gritei: “vô cozinhá ele”!

Furioso, o meu irmão esbravejou: “ocê faz isso procê vê”!

Diante de tanta irritação, desisti da ideia.

Alguns minutos depois, quando viu que não tinha mais jeito, meu irmão me chamou em apartado, cabisbaixo, com os olhos marejados e olhando para o lado, disse-me: “pode cozinhá ele”!

Confesso que também me comovi com o sofrimento do caranguejo, mas, como não havia mais o que fazer, fervi a água e o cozinhei.

Quando subi ao galpão com o graúdo, meu irmão abaixou a cabeça, saiu de fininho e não foi mais visto, naquela noite.

Rafael Arcângelo
Enviado por Rafael Arcângelo em 25/06/2015
Código do texto: T5289340
Classificação de conteúdo: seguro