BECO DO CORRE NU
Eduardo Andrade (Duda)
FS, 29/12/1984
Escritores do Brasil – Pág.: 119 – Ano: 1986 – RJ/BR
É um beco bastante movimentado pelo grande número de crianças ali existentes. O mais interessante disso tudo é o modo pelo qual Dona Paulides, uma das mais antigas moradoras do local, escolhe alguns dos nomes para serem colocados em seus filhos, que não são poucos, através de relação por ela solicitada ao necrotério da sua cidade.
Lá, no Corre-Nu, o filho mais novo de dona Paulides com o Sr. Cornélio se chama Caveirinha. Certo dia ele corria de um lado para o outro da viela com a periquita de fora e o periquito – tipo arraia e feito de papel – à mão, bradando alto:
- Vai voar, vai voar!
E todos aqueles que moravam ali pelos arredores buscavam as suas portas e janelas, alguns atormentados, outros alvoroçados, sem saber o que ocorrera com o Caveirinha. Desbandeirado atrás dele ia Chifronésia, a irmã mais velha do Caveirinha, chamando-o:
- Corre cá, Caveirinha, o’cê ta pelado, moleque descarado!
E com o zum-zum-zum criado, a meninada resolveu aderir e daí começou o pega-pega e solta-solta.
Depois do tumulto acabado, todos foram para suas casas já totalmente breados. Tomado banho, digo: feito meia-sola, o Caveirinha se posta rente à porta de casa, esperando uma brecha para poder escapulir. Nisso sua vizinha Mariazinha, que possui duas velinhas a mais no bolo de aniversário que o Caveirinha, chama-o e lhe pergunta maliciosamente:
- Caveirinha, Caveirinha! Quando é que você vai fazer da sua periquita uma pipazinha?
Inocentemente, responde o Caveirinha:
- Quando o pão-duro do painho soltar um miúdo pra eu poder comprar na mercearia de Sinhô Chico uns papeizinhos de seda.