A Rapariga

(Causo popular)


Matuto nunca tinha ido à cidade.

Depois de passear bastante, avistou as bancas e foi curiar.
Em meio a lamparinas, pentes e miçangas ele viu um espelho:

"Retrato do meu pai!"

Botou o espelho no bolso, pagou e saiu. Ao chegar em casa, guardou no fundo da mala. Todos os dias ia lá, se olhava,
"Retrato do meu pai!" - e guardava o espelho de novo.

A mulher, desconfiada dessas avistações do marido àquele quadradinho emoldurado, foi queixar-se à mãe:

"Mamãe, o fulano tá me traindo. Todo dia antes de sair pra roça ele olha o retrato da rapariga e tranca de volta na mala."

"Pois dê um jeito de abrir a mala mode nós ver quem é a quenga!", disse a sogra, molhando um capucho de algodão em Seiva de Alfazema da Phebo  para colocar em cima do caco de dente que doía há dias.

Na calada da noite a mulher, aproveitando-se do fato de o amarelinho ter chegado bêbado, roubou a chave do seu bolso e abriu a mala, pegou o espelho e correu para o quarto da mãe, tremendo de raiva e curiosidade, vai que a rapariga era bonita!

Entramelaram a porta e ela finalmente decidiu-se a olhar o "retrato".

"Mamãe, mas que rapariga fêa o fulano arrumou! Espia! Descabelada, boca de cu, chêa de pé de galinha nos canto do zói!"

"Xeu ver!" - disse a anciã, tomando o espelho das mãos da filha;

"E É VÉA!"
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 16/08/2015
Reeditado em 16/08/2015
Código do texto: T5348349
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