O Caseiro


(Causo popular)
 
Contam que uma súcia de vereadores do interior do Ceará davam o maior valor se juntarem num grupinho seleto e passar o sábado no sítio de um deles em Maranguape. E para embelezar o lazer levavam umas moças de companhia.
Os leitores sabem; rapariga de luxo é tudo bonita, só tem gata de cinema. Nem se comparam àquelas que fazem ponto na Av. José Bastos. Lindas mesmo, daquelas que a gente olha até dobrar a esquina.

O caseiro do sítio, rapaz velho que nunca teve um amor para chamar de seu, ficava só guvejando as beldades de longe. Era uma visão celestial para ele, as formosas mergulhando nuas na piscina, tomando banho de sol, passando bronzeador nos lombos de paca dos vereadores. E ele maldizia muito a vida, afinal só porque era meio feio, pobre e analfabeto, não tinha direito de pelo menos ganhar um chamego de uma mulher?

Apois. Quando foi um dia ele estava espiando as ninfas detrás de uma moita de capim-santo quando o patrão dele o flagrou. O pobre começou logo a se tremer, pediu pelo amor de Deus para não ser despedido, não tinha para onde ir e nem idade para arrumar outro emprego.
O vereador, como toda gente endinheirada, andava sempre de bom-humor. Achou graça do empregado e prometeu que, na próxima reunião, levaria uma moça muito linda para ele.

Oh, rapaz. Pense num homem que ficou feliz. Trabalhou a semana inteira cantando, leve como uma pluma, imaginando a flor que ele colheria no sábado.

Acontece que as esposas dos vereadores há tempos vinham achando estranhas essas reuniões em fim de semana. E se revoltaram. Deram uma prensa nos maridos: se eles não as levassem à próxima reunião, o povo da cidade ia ficar sabendo de umas marmotas envolvendo dinheiro público.
Aí foi o jeito. Os vereadores cancelaram o passeio com as moças e colocaram as esposas dentro das Hilux. E rumaram para o sítio.

Ixe maria. De longe o caseiro viu os carrões chegando e abriu um sorriso do tamanho do mundo. Enfim, a sua vez de ser feliz. Abriu o portão, os vidros fumê dos carros refletiram o seu sorriso de dois dentes, o de doer e o de abrir lata, fechou, seguiu pela varedinha do jardim e quando deu fé foi aquela ruma de coroa empoada descendo dos carros.

Oh, rapaz. Pra que. O homem ficou uma fera. Olhou para os vereadores e exclamou "ôs rapariga fêa que vocês trouxeram dessa vez, hem!"
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 14/10/2015
Reeditado em 14/10/2015
Código do texto: T5414235
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