DÁ O PÉ LOURO

Eduardo Andrade (Duda)

FS, 22/01/1986

Escritores do Brasil – Págs.: 118 e 119 – Ano: 1986 - RJ/BR

Pardalino da Silva é um especialista no tocante a pássaros lá na pacata cidade de Viveiros. Qualquer dúvida o pessoal logo o procurava. Fosse a respeito de muda, cria, venda ou briga, Pardalino dava o seu parecer, e às vezes até não cobrava de quem o solicitava.

Nos fins de semana ia à rinha de pássaros e quando não tinha um sabiá qualificado, ele assistia as brigas e daí comprava aqueles pássaros que todos ali tinham como irrecuperáveis e os transformava, na maioria das vezes, em verdadeiros campeões ou se prestava a ser porteiro da própria rinha, ganhando, assim um trocado extra.

Para se ter uma idéia, Pardalino acordava sempre às quatro horas da manhã e saía sempre com uma gaiola contendo um pássaro e um alçapão, só voltando a sua residência quando surgisse uma necessidade fisiológica, se caso por lá mesmo não desse para resolver.

Para espanto de todos, já que tivera anteriormente recebido muitos conselhos de sua família e de seus amigos em relação a sua obsessão aos pássaros, fez uma reflexão e resolveu abolir de sua mente aquela “vida passariana”... Dia vai, dia vem e o Pardalino não mais assoviava imitando o canto de algum pássaro, e começou a ser o exemplo da família.

Ao concluir o 2º ciclo estudantil, Pardalino partiu para o exame de vestibular, como qualquer rapaz de sua fase. E todos os seus familiares resolveram fazer uma “corrente pra frente” na expectativa de verem Pardalino aprovado no vestibular que houvera feito na cidade vizinha. A rádio da cidade começou a divulgar os nomes dos aprovados, e no momento todos estavam apreensivos, inclusive, lógico, Pardalino:

- Engenharia Civil: Fulano de tal,... , beltrano de tal,...

- Agronomia: Beltrano... , Sicrano..., Fulano,...

- Veterinária: ..., Sicrano de tal e Pardalino da Silva.

A alegria reinou no coração de Pardalino que começou novamente a cantarolar:

- “Voa canarinho, voa...”;

- “Sabiá na gaiola, sabiá...”.

Enquanto que para a família foi um impacto, pois ele não dissera a ninguém o curso para o qual tinha optado; o choro veio ao rosto de todos. O consolo aos familiares de Pardalino coube ao Sr. Francisco, um velho naturalista que morava por aquela redondeza.

CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA ANDRADE
Enviado por CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA ANDRADE em 07/07/2007
Código do texto: T555994
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