Guarda Chuvinha
- Pitizinha, está na hora da escola. Vamos, apresse-se! – gritou dna Luzia, minha mãe, ao ver- me atrasada.
Sem tardar, dei uma última mordida no pãozinho quente com manteiga, beberiquei outro gole de café com leite e pulei da cadeira ao chão... E já uniformizada, de mochila nas costas, e lancheira (de lata de biscoito) nas mãos, saí.
Mas, mal pus os pés na rua..
- Cataprumm!! – um estrondo de trovão ecoou barulhento no ar e uma tempestade passou a cair na terra, com furor...
Dei ½ volta, e voltei correndo para casa.
Vendo o tempo ruim que fazia lá, minha mãe mais que depressa foi apanhar o guarda chuvinha e a capinha de plástico - que ganhei, dias atrás, da tia Zoraide,
e sobrepôs ao meu uniforme escolar..
- Ebaaaa!! – gritei de alegria, frente a oportunidade de usar tais apetrechos.
A capinha era toda de plástico cor de rosa clara, com botões e bolinhas brancas - distribuídas desde o colarinho até os joelhos... Havia nela dois bolsões... Um deles tinha o desenho de um patinho nadando sob um arco-íris. No outro, a letra A de meu nome. Completava o conjunto, o guarda-chuva na mesma tonalidade.
- “Minhas amiguinhas vão morrer de inveja ao ver-me vestida assim...- pensei, orgulhosa da silva - Ah! Isso vão mesmo.”
Após examinar-me com os olhos - de cima abaixo, minha progenitora beijou-me na testa e deu um caloroso tchau, despedindo-se de mim.
E assim preparada para a chuva, voltei a sair - rumo ao Grupo Escolar Barão Homem de Mello (escola que eu estudava).
E na larga Avenida Alfredo Pujol, os pingos da chuva não se cansavam de cair do céu, arrastando tudo que encontravam pela frente. Papeis, lixos, folhas de arvores passavam rapidamente, avenida abaixo direto aos bueiros.
Enquanto isso, na calçada, a violenta natureza açoitava impiedosa as minhas frágeis perninhas infantis, encharcando os meus sapatinhos pretos e meias brancas da escola...
Mas indiferente a chuva, caminhava alegre nela, debaixo do meu guarda chuvinha rosa, cantando:
“Bom dia, dona chuva...
Pode cair com vontade.
já que tenho pra me proteger
o guarda chuva e a capinha rosa
que ganhei
da tia Zoraide... lá....lá...lá”
- Vuuuuuuh!... Vuuuuuuuuuh!
Um repentino vendaval, vindo do norte, soprou ao redor, e arrancou raivoso para o meio da grande avenida., a preciosidade de plástico que tinha nas mãos. Só então, o tempo fechou realmente para mim!
Transtornada, sem pensar, corri avenida adentro, atrás do meu guarda chuvinha fujão. E correndo, correndo, fui parar no meio dela, que naquele minuto fechara o sinal.
- Cá está danado! – gritei, ao apanhá-lo, num pulo certeiro. Nisso o farol abriu , e os
veículos avançaram pra cima de mim, como se não me enxergassem. .. Acuada, sem ter pra onde correr, instintivamente ergui a mão direita na direção daquele trafego cego - a fim de pará-lo.
E, surpresa! Ele parou!
Feito isso, malcriada como eu só, mostrei a língua aos veículos; depois, atravessei a avenida tranquilamente; e, quando voltei a pisar na calçada, é que os o trafego voltou a circular.
kms à frente, um automóvel preto, parou no acostamento, próximo de onde eu caminhava... Um senhor, alto, grisalho, com ar espantado, saltou dele, e colocou-se diante de mim..
Coçou a cabeça, e disse:
- Garotinha, estava com o pé no acelerador do meu carro, e abruptamente ele parou... E, de repente, vi você , no meio da avenida, mostrando a língua para os demais carros que ali circulavam, com a mão direita erguida!!...O que foi que você fez?
Com um sorriso maroto no canto dos lábios, aprumei o corpo, e respondi
- Não fiz nada não, seu moço! Eu só fiz apanhar o meu guarda chuvinha fujão, que voou de minhas mãos!
E, deixando o pobre homem boquiaberto,, voltei a andar na chuva, rumo a escola.
fim!