A SANDÁLIA

Um homem caminhava, em um dos pés uma sandália. Todos ao seu redor zombando e gargalhando e gritando por todos os cantos daquele lugar:

" - He!He!He!He! Coitado! Vive caminhando pra lá e pra cá. Deve ter perdido a outra sandália e desesperado procura em tudo que é beco..."

Todos acham estranho mas não seguram o riso, não páram de humilhá-lo e continuam-lhe seguindo os passos!

Aglomeram-se em volta dele e o cercam, impossibilitando-o de prosseguir! Finalmente, um dos mais zombadores de todos resolve abordá-lo perguntando:

" - Nós aqui não estamos mais aguentando de rir de você e sua paspalhice pública atrairá rapidamente milhares de olhares de outros milhares de transeuntes! Até os motoristas estão querendo ser transeuntes para vê-lo! (Motoristas virando transeuntes!) Não vê que não irá encontrar o que tanto procura? Admita que não encontrará a sandália que perdeu!!!"

A sandália com a qual calçava o pé esquerdo não parecera representar algo de tão especial assim nem adicionara nada de notório em sua vida ignota! Mas ele continuava a caminhar sem revelar a ninguém nem a si mesmo o que o movia naquela busca desenfreada! Quando tomou consciência da aproximação de uma pessoa desconhecida, decidiu dar satisfação como se tivesse sido levado por uma curiosidade importante - assim o considerava! Mas sua resposta encetou-se por um sentimento bastante imerso em uma distração muito condizente com sua causa! Assim ele respondeu a seu zombador:

" - Hmmm!? Não, eu nunca tive sandálias antes! Até gostaria muito de merecê-las! Prefiro sapatilhas: são bem mais confortáveis e denfendem a fragilidade ortopédica que adquiri por herança genética ou hereditariedade materna. Peço agora que me deixe continuar no meu caminho! A não ser é claro que tenha algum motivo de me deter! Embora pra mim o único motivo admissível seja a propriedade sobre esta sandália!"

O zombador baixou os cantos dos lábios e engoliu um pouco de saliva, uma pequena quantidade que geralmente se forma ali na entrada da garganta quando se recebe uma notícia inesperada! Sacudiu a cabeça como se tomasse um "jab" e não soubesse mais como iniciar os próprios movimentos locomotores! Ainda que pudesse se despedir e desculpar-se junto a tantas outras pessoas e principalmente diante daquela que lhe apresentava um intrigante comportamento, mesmo assim insistiu:

" - Quê!? Como está dizendo? Está alegando não ser o dono nem possuir ou mesmo estar calçando uma sandália que está mesmo calçando bem diante dos meus olhos?"

" - Bom, não vejo qual seria a legalidade de sua abordagem! Nem me sinto ameaçado por insinuações e zombarias que todos vieram fazendo de mim! Esta sandália que uso não uso! Está aqui por qualquer acidente que explique sua existência sob e envolta do meu pé! Ouça, estou procurando a outra sandália! Em meu caminho pretendo encontrar seu verdadeiro proprietário! Espero encontrar os dois juntos assim terei a confirmação aparentemente indutória da posse! Não gosto de andar descalço - como disse, prefiro sapatilhas! Infelizmente sou um mendigo em ato e não posso alimentar meus caprichos. Quando encontrei esta sandália jogada bem rente a meus pés não necessitei aceitar o sortilégio, como necessito aceitar este no qual vivo! A pessoa que perdeu deve estar desesperada em encontrar como eu estou em restituir! Se eu encontrar a outra sandália estarei justificando meu caminhar!