O SAPO-CURURU E SEU JOÃO QUEBRA QUEIXO

O SAPO CURURU E SEU JOÃO QUEBRA QUEIXO

Seu João Quebra Queixo que alguns daqui já conhecem, mas que em Itapipoca era por todos conhecido como um homem sério, valente,

amigo da verdade e que gostava muito da natureza, do cantar dos passari-

nhos, apreciador das matas verdejantes da serra estava numa manhã de domingo sem saber o que fazer.."Matutou", "matutou" e lembrou-se que

seu compadre Chico da Lagoa Grande há 2 meses o tinha convidado para almoçar uma galinha caipira que, para quem não conhece, é aquela galinha criada à solta nas fazendas, ciscando nos terreiros das casas. Bem, seu João arranjou no pensamento pra onde ir, mas lhe faltava o transporte..Lembrou-se então do Coronel Chico da Lagoa das Pedras, como era conhecido, e foi pedir o caminhão dele emprestado para fazer

a sua viagem de lazer. O Coronel emprestou o caminhão, de pronto, e como seu João só pilotava motos , mandou que o motorista Zeca Casca Grossa o levasse até o destino e esperasse pela volta dele.

Ao sair, seu João viu o céu nublado com nuvens carregadas. Era no mês de abril, época em que chove mais no Ceará , quando tem inverno. Isso é uma coisa óbvia e ignorante é quem não sabe disso. Bem, seu João seguiu caminho, buraco aqui, buraco ali devido a erosão de chuvas passadas cuja água escorrera pela estrada de barro e fizera buracos tão profundos que o motorista tinha que ser perito para o carro não cair em um deles e ser engolido como a cobra saramanta engole um sapo. Bom, neste vai e vem, solavancos e mais solavancos chegaram na casa do Chico da Lagoa Grande. O carro ia fumaçando mais do que as pobres das Marias Fumaças da estrada de ferro. Levantaram o capuz, colocaram água e foram conversar no alpendre da casa. Abancaram-se em dois tamboretes de madeira, relembraram os velhos tempos enquanto o Chico da Lagoa Grande mandava sua mulher, Dona Maricota, puxar o pescoço de uma galinha pedrês para fazer o almoço do compadre João Quebra Queixo.

Conversa vai, conversa vem falaram de caçadas, da pega de barbatões na caatinga, de pescaria e de tudo o mais. Reminiscências que não acabavam mais entre uma e outra talagada de cachaça branca, chamada de matadeira. Até que nessa conversa de miolo de pote (miolo de poete pessoal, é água, conversa mole que o goiano chama de baboseira e o mineiro de trem, uai). Foram almoçar a galinha. Os melhores pedaços ficavam para Seu João Quebra Queixo que era o visitante. Ele gostava muito da titela que, como tudo muda, o pessoal hoje chama filé de frango, não é? Acabaram. Foram para o alpendre e armaram uma rede branca para seu João que refastelado pelo galináceo balançava a rede encostando o pé na parede. Emendaram a conversar e as horas foram passando e quando seu João olhou para o relógio de algibeira já era mais de 2 horas de tarde.Gritou:

- Te apressa Casca Grossa, bota o caminhão pra funcionar que temos de ir, pois senão vamos ser engolidos por aqueles buracos, ainda mais agora que choveu muito.

Mais do que depressa partiram depois dos agradecimentos e abraços se foram pela estrada afora.. Ao chegarem à altura da Lagoa da Cruz o cafute (o cão pessoal, tenho de explicar tudo para vocês entenderem) meteu o rabo no meio e furou um pneu. Mais rápido do que um corisco foram apanhar o macaco para mudar o pneu. Desgraça. O macaco não

tinha ido. Seu João coçou a cabela e disse: - E AGORA. Ao dizer isso viu um sapo-cururu de 3 quilos, verdade segundo ele, na beira da lagoa; o sapo inchava e desinchava.

-EPA, pensou seu João vou colocar o sapo no lugar do macaco e levantar o caminhão.

Cortou uma varinha de marmeleiro e foi apanhar o sapo. Destarrachou os tarugos da traseira do carro, tirou as porcas e deixou somente o pneu para sustentar o peso. Puxou a sobressalença e deixou pertinho. Colocou o sapo no lugar do macaco e começou a coçar a barriga do cururu com a varinha. Ele foi inchando, inchando, inchando.

Nestas alturas o povo já tinha tomado conta da praça do Mercado Central. Tinha cerca de 200 pessoas ouvindo. Parecia comício de político safado que já existia naquele tempo. Zé Capote estava no meio todo faceiro e bonachão pois não perdia uma estória de Seu João.

Pois bem, o sapo foi inchando, inchando até que chegou no ponto de levantar o carro que foi subindo, subindo e Seu João gritou:

-Casca Grossa tira o pneu furado e põe a sobressalença, o que foi feito de imediato. Seu João deu mais duas coçadinhas na barriga do sapo e Casca Grossa mudou o pneu. Acocharam as porcas e chegaram em Itapipoca ainda com a luz do sol. Todos emudeceram, pois confiavam em Seu João, mas Zé Capote não se conteve e perguntou:

- Seu João mas como foi que este sapo não estourou com o peso do caminhão? Só vendo para crer.

Nisso seu João esbugalhou os olhos que ficaram maiores do que sapo-cururu e gritou num urro de onça acuada.

-Zé capote, cabra"fila" da puta, tu sempre se metendo nas minhas estórias e duvidando. O sapo não estourou assim como não vai estourar a tua barriga depois que eu te der uma facada na tua pança para ver que cor tem as tuas tripas.

A faca já estava na mão de Seu João que não cometeu o ato assassino porque cinco homens de força contiveram-no, mas se fossem dois homenzinhos não teriam segurado não. O pobre do Zé capote teve uma apoplexia e foi necessário levá-lo ao médico.

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Antonio Tavares de Lima
Enviado por Antonio Tavares de Lima em 24/04/2016
Reeditado em 28/04/2016
Código do texto: T5615026
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