NOSTALGIA

Fico horas pensando nos pássaros do meu sertão.

Praticamente ouço o som do canto do boiadeiro pelos campos.

Fico lembrando os cantos e gritos dos sapos e rãs nas taboas do lago do grotão, orquestrando seus sons com a ave Maria no rádio nos finais de tardes.

Recordo-me os grilos com suas insônias, num leve fole bem afinado indo noite afora com suas apresentações.

No porão sob o assoalho da sala, lembro-me dos barulhos dos jumentos, dos bezerros misturados com os cabritos que ali ficavam para fugir do orvalho.

Na mesa central da sala grande, tenho em memória o jarro com flores cortadas ao cair da tarde, com as pontas dos caules mergulhados na água fria e límpida, colhida por Anastácia.

Na parede do lado esquerdo, sem nenhuma porta e nem janela, um triângulo, com traços fortes e grudados como tela quente, de cor forte e bem parecida com o vinho da boa uva amassada pelos pés dos fortes.

Fico imaginando os trabalhadores que vinham ao cair da tarde, todos sujos de terra, poeira no lombo, seus embornais com as marmitas de alumínio vazias, tudo isso sem direito a nada, apenas um mísero salário por tamanha jornada.

Homens e mulheres que arrastaram enxada o dia todo, debaixo da impiedosa luz do sol. Todos cavando a terra, falando e contando histórias, assoviando e cantando memórias.

Pena que não tem reprise, nem foi gravado e nem o som das vozes existem mais.

Fico pensando nos milagres, cegos falando, surdos enxergando, mudos escutando, quem usava muletas, agora andam muletando. Milagres, milagres, milagres.

O mudo disse que o tempo não castra o pensamento, o cego escutando o som dos sentimentos, o surto vendo o amor nos corações daqueles que vivem como o vento. O coxo andando sobre as nobres nuvens da justiça e da paz. Eis o milagre!

Estou saudoso dos meus sonhos de juventude, dos meus silêncios nos terreiros pobres e abençoados, depois de um jantar delicioso, regado de um bom copo de água e um docinho adocicado.

Estou nostálgico dos conselhos dos anciãos, dos belos olhares envelhecidos em direção ao poente, daqueles heróis que me ensinaram tanto, sobre a vida, através da vivencia deles e de seus passados.

É isso aí!

Acácio Nunes

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 21/07/2016
Código do texto: T5705001
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