O Tio Jacó


(Causo popular)
 
Roceiro andava puto com uma família de macacos que estava casando e batizando no seu roçado. A ousadia dos animais era tão grande que era ele plantando e os macacos atrás desenterrando os grãos. A situação estava insustentável, chegando ao ponto de o matuto decidir: ou morria ele ou morriam os macacos.

Quando foi um dia o homem teve uma ideia: combinou uma armadilha com o seu cavalo. Passou todo o serviço bem baixinho na orelha do bicho e ficou muito do satisfeito mas não deu bandeira, continuou maldizendo a macacada que, atrepada nos galhos do pé de castanhola, entretinha-se em arrancar os frutos e arremessá-los no terreiro do inimigo.

Dia seguinte, ao quebrar da barra, o roceiro pegou o embornal e a enxada, assanhou os cabelos, puxou a calça mais pra baixo de modo a mostrar o mucumbu e saiu puxando o cavalo pelos arreios, se maldizendo alto:
“Ai! Meu cavalo, tão forte, tão belo, de uma hora pra outra ficou doente! O que vai ser de mim, meu Deus, privado da única companhia que eu tenho no mundo?...”  E os macacos seguindo o homem na mesma pisada, só ouvindo e achando bom. Não eram dados a comer carne mas podiam negociar com os urubus.

Perto d’ameidia o cavalo, combinado com seu dono, se estirou no chão e ficou todo se tremendo. O roceiro fez um escândalo, chorou sobre “o corpo” do animal e saiu gritando pelo veterinário que morava a três léguas dali. No ente, os macacos saíram detrás das moitas e, pensando que o cavalo tinha morrido, se agarraram à crina do bicho e começaram a pular em cima dele para chamar a atenção dos urubus. Oh, rapaz. Pra que. O alazão se levantou de um salto e, com um relincho glorioso, desatou num galope magnífico rumo à casa de seu dono que já por ele esperava, espingarda em punho para dizimar aquela macacada atrevida.
Com o susto do cavalo ressurrecto os macacos se agarraram ainda mais à crina e ao dorso do bicho, afinal cair de um alazão em fuga seria letal. Acontece que ao mais velho só deu tempo segurar bem forte no rabo do cavalo e saiu arrastado pelas capoeiras, quebrando os beiços nas pedras, os lábios em carne viva de modo que só se viam os dentes arreganhados. Nisso, um dos macacos que ia na garupa do cavalo olhou para baixo e disse “ar’maria, o tio Jacó tá vendo a gente nessa situação e fica é achando graça!”
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 19/09/2016
Reeditado em 21/09/2016
Código do texto: T5765645
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