Fazenda do pião

Nos anos 40, foi minha infância e adolescência em São João do Oriente MG. Nessa época ouvi falar muito da assombrada Fazenda do Pião, era assim que o roceiro falava dessa misteriosa propriedade. Segundo contavam era um grande fazendeiro com procedimentos atípicos de um ser humano. Bebia sangue de animais, cabritos e bois degolados ainda vivos. Diziam que ele tinha um enorme caixão vermelho em seu quarto e dormia dentro dele. Também uma boa soma de dinheiro, para pagamento de carregadores ao cemitério quando o diabo levasse sua alma, dizem, que assim dizia. Muitos tinham cisma; transformava em lobisomem nas noites de quaresma.

Quando morreu, já viúvo da mulher que o povo desconfiava de tê-la assassinada. Não tinha filhos, por tanto não tinha herdeiro, o latifúndio ficou para o Estado. A sede da fazenda ficou abandonada, o tempo foi deteriorando o sobradão ameaçando cair, o caramanchão onde funcionava o Engenho de fazer rapadura, todo tomado de mato.

Diziam que uma pessoa, ao passar na estrada,das proximidades da fazenda, mas ou menos meia a noite, viu a sede toda iluminada.o Engenho de moer cana puxado por bois, resolveu ir tomar garapa e comer puxa de melado; ao chegar lá tudo tomado de mato, tudo caindo aos pedaços. O cabelo arrepiou, a cara empalideceu, respiração ofegante, caiu duro... Acharam-no, no outro dia desacordado. Ficou louco.

Por ser uma passagem contado por antigos moradores da região, a escrevi em forma de conto.

Lair Estanislau Alves.