Os homens homolus

Pois é, exatamente tudo que eu pensava sobre o código machista era exatamente isso tudo me falam: que depende da mulher. A obrigação e natureza do homem é querer sempre, o da mulher é falar sim ou não. E sempre fui feliz assim, porque controlar homem pela cama é muito cômodo.

Daí que de repente no alto dos meus 30 anos eu faço a descoberta da humanidade: Lá no meio do pacífico, numa daquelas minúsculas ilhotas no meio da imensidão azul, originou-se uma civilização, quase uma tribo com culturas e costumes extremamente únicos: os homolus. Os homens de homolus tinham como característica mais marcante o desinteresse não diria total, mas quase extremo do sexo. Assim as mulheres homolus eram como se diria na nossa sociedade atual, totalmente volúveis, trocavam constantemente de parceiros a procura em vão da satisfação, pois nenhum deles se mostrava interessado ou demonstravam a mínima vontade.

O processo de reprodução era extremamente delicado, já que os homens se propunham a realizar o coito uma vez ano, no primeiro dia do outono, quando o calor já não era insuportável e as mulheres já não estavam mais tão ávidas devida a própria natureza dos dias de versão. Contudo, os homens homolus, uma vez que nascido o seu legado, se transformavam. Eles se dedicavam integralmente ao filho.

As mães eram separadas dos filhos ao nascer, assim as mulheres eram meras reprodutoras.

Mas apenas os mais antigos eram conhecedores do segredo dos homolus. Dizia a lenda, que quando não existia mar para todos os lados, a parte seca da terra era unificada em um único bloco, e bem ao centro dela viviam os únicos humanos do planeta: os primeiros homolus. Eram altamente organizados socialmente, com divisões de tarefas e responsabilidades. E tinham como tradição os homens, demostrar sua masculinidade através do sexo. Era quase uma obrigação manter relações diárias, e as mulheres homolus que não acompanhavam e não satisfaziam seus homens eram rapidamente trocadas ou condenadas ao exílio, o que era o pior dos castigos pois não existia nenhuma outra civilização humana. Quanto maior era sua capacidade de fazer sexo, maior era sua posição na sociedade.

Eis que no meio desse tempo nasceu Mali. Um belíssimo exemplar de mulher, que além da formação física perfeita, tinha talentos manuais, matemáticos e foi agraciada com o dom da sedução. Mas Mali, diferente das outras mulheres, tinha um desejo sexual enorme. Não se satisfazia nunca. E trocava de parceiros, fazia orgias, e mesmo assim sempre queria mais. Os homens homolus sempre de prontidão, atendiam todos seus desejos. Mas Mali, mexia com a cabeça deles, perdiam a cabeça por ela, largavam filhos e esposa, não cumpriam mais suas tarefas, passavam dias e noites na esperança dela os chamar. Mali tinha relações com todos os homens homolus.

A situação foi ficando caótica, a ponto de abalar a sociedade homolu. O chefe de estado teve que intervir e foi obrigado a tomar medidas extremas: Todos os homens teriam sua língua arrancada e Mali seria presa em uma gaiola de vidro e pendurada no alto de um tronco bem ao centro de uma espécie de arena fechada com muros altos. Não havia nada apenas um mastro de madeira e a gaiola de vidro.

Assim foi feito Mali, foi presa, e o chefe reuniu todos os homens e separou-os em grupos. E mandou o primeiro grupo de 50, ficar nu e passar dias na arena. Lógico que não se passaram alguns minutos aprisionados e o primeiro homem cego pelo desejo começou a escalar, louco com a visão de Mali nua sozinha na gaiola. Logo que ele deu o primeiro impulso para subir, a superfície do tronco começou a trepidar e de seu veio surgiram inúmeros espinhos de todas as espécies. Extremamente afiados e resistentes, fizeram milhares de pequenos furos no corpo do homem que estava agarrado ao tronco. Quando ele conseguiu se soltar, ouviu um zumbido estranho e o céu começou a escurecer. Do alto das paredes do muro pareciam saltar milhares de pontos escuros como se fosse em abelhas em fúria. Mas eram espinhos. Uma chuva de espinhos que vinha do outro lado da muralha. Todos os homens começaram a correr de um lado para outro mas não tinham proteção nenhuma e os espinhos perfuraram sem dó toda a superfície de seus corpos. Apesar de serem pequenos penetravam na pele e causavam uma dor terrível, pois haviam sido banhados em veneno de uma aranha, que apesar de não mortífera, causava uma dor terrível.

Depois da chuva de espinhos, demorou muitos dias para se recuperarem de seus ferimentos, e apesar da visão encantadora de Mali, não tinham forças para nada. Quando já começavam a se sentir mais fortes, os portões da arena se abriram e os guardas do chefe entraram e começaram a arrastar para dentro de uma carroça, uma dezena de homens da arena, justamente os que estavam ainda afetados e não conseguiam se levantar. Assim que a carroça atravessou novamente os portões, os guardas empurraram para dentro da arena um grupo de 10 homens. Nus e sem língua também. Mas com saúde perfeita e virilidade a flor da pele.

O grupo novo logo que avistaram Mali, ficaram loucos, seus desejos eram maior que tudo. Os homens feridos que já estavam lá tentaram avisar para não tentarem subir, mas com as línguas cortadas não conseguiam, tentavam fazer gestos, mas os novatos já estavam cegos. Logo 5 começaram a escalar o tronco. E veio o zumbido da chuva de espinhos. E mais dias para se recuperarem.

Quando o terceiro grupo de novatos entrou na arena, aqueles que já haviam levado duas chuvas de espinhos já estavam loucos de raiva. Que quando o primeiro homem que avistou Mali insinuou que iria subir, o grupo todo que já estava lá nem tentou fazer gestos para avisar, caíram logo por cima do pobre homem e começaram a surrá-lo. O restante do grupo dos novatos não entenderam direito mas acharam melhor não tentar subir. Mas ao cair da noite um deles não resistiu e esperou todos dormirem para escalar o troco. E no meio de seus sonhos eles ouviram o zumbido.

E assim foi se repetindo até que chegou um momento que qualquer um dos novatos que chegasse sequer dirigisse o olhar para Mali, era surrado quase até a morte. Os grupo foram se renovando até que não sobrasse mais nenhum homem do grupo original e sempre que alguém que chegasse, olhasse para Mali apanhava sem dó dos homens que já estavam lá.

Até o dia que todos os homens que estavam na arena, ao menos sabiam da chuva de espinhos. Apenas sabiam que tinham que bater naquele que olhasse para Mali, mas não sabiam porquê. E condicionaram-se a isso. Como nenhum deles conseguia falar para se comunicar, logo todo o restante dos homens homolus apenas sabiam que se pensassem em sexo ou olhassem muito para uma mulher, algo muito ruim iria acontecer. Assim começaram a ter relações apenas para procriação e mesmo assim não tinham o mínimo de prazer.

E essa tradição foi se fazendo, e gerações e gerações mais tarde, os homolus eram homens que não pensavam em sexo e não sabiam explicar a razão.

Os homens que levaram a chuva de espinhos na arena foram condenados ao exílio e amarrados em uma carroça e largados a deriva da força e vontade dos animais que a puxavam. Eram os únicos que ainda sabiam do verdadeiro motivo. Alguns desse homens encontraram suas esposas que no passado haviam sido trocadas e mandadas também ao exílio, e finalmente deram o real valor a fidelidade e ao casamento. E foram explorar novas terras e se aventuraram e povoaram outras regiões do planeta.

Nessa época o mundo ainda era muito recente e estava ainda se compondo, e no terceiro grande terremoto o grande bloco de terra se separou abrindo veios do centro para as pontas, e por essas enormes crateras as águas foram tomando conta e achando seu caminho e o que antes era o centro de um único bloco de continente, agora se reduzia a uma pequena ilha. A ilha do homens homolus.

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EPÍLOGO

Ainda demorou para o planeta se acomodar, e numa dessas vezes de eterna briga de terra e água, uma pequena passagem aflorou entre a imensidão de água entre a ilhota dos homens homolus e os outros continentes que se faziam. Nessa ocasião, os homolus fizeram a grande travessia.

Muito aos poucos eles foram sumindo e se separando, as mulheres que levianas logo acharam satisfação em outras sociedades e por fim os homens aparentemente desapareceram na multidão.

E esse é o grande segredo da humanidade, 99,99% dos homens de hoje pensam constantemente em sexo, porque descendem dos homens que levaram espinhos. E apesar de daram muito valor a família e casamento, às vezes sua virilidade fala mais alto, e eles se sentem mais másculos e poderosos tendo relações com outras mulheres.

Mas o que quase ninguém sabe, é que ainda existem exemplares homolus. São aqueles homens, que não ligam muito para sexo, fazem muito pouco e quando nasce o primogênito largam tudo para viver em função do rebento. Só que esses homens são espécies extremamente raras, exatamente porque eles só reproduzem uma vez na vida. Então sempre terá o mesmo número de homolus aparentemente desaparecidos no meio da multidão.

Belit
Enviado por Belit em 10/08/2007
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