Diálogo...
- Sabes...
- Que foi?
- Tenho um problema...
- Então conta.
- Hmmm... não sei. Não sei se diga!
- É contigo. Se não quiseres...
- Tá bom.
- Tá bom o quê?
- Vou dizer...
- Então diz, vá lá, desembucha.
- Ok... vou começar.
- Está certo, começa lá, heim...
- Sabes... a prima do Júlio...
- Sim... Que tem ela?
- Aquela baixinha, morena engraçada que tem um apartamento lá em
Oeiras...
- Sim, sei quem é. Que tem?
- Bem... ela tem uma cadela "Yorkshire Terrier" com um laço vermelho
não é?
- Sim, a Sacha. Um pouco arisco o bicho!
- Pois é... Sabes quem lhe fez o laço?
- Não.
- Pois foi a dona Gertrudes, esta mesmo que vive rodeada de gatos no
quinto direito do nosso prédio.
- Hmmm... e depois?
- Não achas estranho?
- Estranho o quê? A mulher ter feito o laço para o cão da prima do
Júlio?
- Sim.
- Não. Porque haveria de achar?
- Estranho a outra morar connosco e ela nunca nos ter falado da
mulher...
- Estranho nada. Provavelmente nem sabe que a nossa vizinha vive
aqui.
- É... pode ser, pode ser.
- Mas... que tem isso a ver com o teu problema?
- Bem... ela tem uma irmã mais nova não é?
- Sim, a Sónia. Ela não se separou do marido recentemente?
- Separou sim. Aquilo já não andava nada bem entre eles. Um belo dia
no mês passado pegou na trouxa, mudou-se para casa da irmã e
deixou um "SMS" ao gajo a dizer-lhe que já era, que tinha sido
catapultado para um daqueles passados que já não voltam.
- Hmmm... nem quero imaginar a cara dele!
- Pois é... aquilo ficou que nem barata tonta. E sabes que mais?
Orgulho masculino ferido, vai daí o gajo pegou numa e outra fotos
dela. Daquelas bem indecorosas. E colocou tudo na Net. Tudo
devidamente legendado.
- Pois... imagino as legendas... mas que tem isso a ver contigo?
- Bem... sabes... o Tiago, o puto da loja de computadores...
- Sim. O lingrinhas louro de óculos, cabelo em pé e cara cheia de
borbulhas. É esse não é?
- Esse mesmo.
- Que tem ele?
- Bem, o gajo tem o meu e-mail e enviou-me as fotos.
- E?
- E eu vi logo que eram fotos da tipa.
- Pois... e que fizeste?
- Bem... peguei no carro e fui lá.
- Foste lá?
- Sim.
- E então? Continuo a não perceber o que tem isso a ver com o teu
problema.
- Pois é. Imagina que quando cheguei lá a gaja estava sozinha. Mesmo
assim recebeu-me. Mandou-me entrar para a sala e então contei-lhe
tudo. Tim tim por tim tim!
- E ela?
- Bem... podes imaginar! Está até com vontade de contratar advogado
para processar o "ex".
- Pois... eu também processava. Mas só depois de encarar o gajo e lhe
dar um pontapé bem dado no respectivo abono de família. Mas...
continuo a não perceber...
- Bem... aconteceram duas coisas: Primeiro ela ficou fula com o
ex-marido. Depois ficou-me muito agradecida. E começou até a olhar
para mim com outros olhos. Sabes... a tirar-me as medidas...
- Hmmm... Bem. Finalmente parece que estou a perceber onde queres
chegar. Quer isso dizer que tiveram um caso...
- Tivemos nada. Na verdade ela começou foi a tirar a medida aos meus
pés.
- Aos teus pés? Que coisa... Porquê?
- É que nas trouxas dela ela levou também um item que não lhe
pertencia: os sapatos que o gajo tinha usado no casamento.
- Hmmm... interessante.
- Pois. Na fúria decidiu que não queria mais nada dele e naquele mesmo
momento ofereceu-me este belo par de sapatos italianos.
- Pois... estou a ver que aceitaste.
- Claro que sim. Ela não me deu alternativa. Ou eu ou o lixo!
- Bem... mas continuo a não entender que tem isso a ver com o teu
problema.
- Bem... é que o número do gajo não é exactamente igual ao meu. Ele
calça "um abaixo". De modo que desde que coloquei os sapatos que
estou cá com uma dor!...