A árvore e o tempo

A água novamente caíra sobre a árvore morta. Ele apenas segurava o regador e a agoava, todos os dias. Sem proza, numa terra sem vida, em frente à casa, está ela: A árvore sem vida. O sol era causticante durante o dia e, de longe, a terra tremia.

A água caía, molhando a terra seca, judiada, sofrida. Uma terra que não poderia indicar sequer condições de vida. Após derramar a última gota, ele verificava árvore, a olhava fixamente e nada dizia. Ia embora e retornava no outro dia.

Costumava se sentar numa grande pedra para observar o pôr do sol, sempre que assim o podia. E quando o fazia, ficava ali até o sumiço de seu último raio. Então voltava para casa, cumpria seus afazeres e dormia.

No outro dia, ao nascer do sol, lá estava ele, novamente agoando a árvore morta. As pessoas que moravam em volta, tinham compromissos com a venda da colheita de suas terras nas cidades mais próximas e quando passavam a caminho, elas o viam e riam... riam... Apontavam de longe e zombavam do homem que agoava uma árvore morta.

Morto estava tudo em volta: A terra, sua casa, as plantações, os animais (com exceção dos poucos que persistiam), e até mesmo os rios e os ideais dos muitos que ele ouvia, mais exatamente daqueles que o pediam para parar com a loucura de agoar uma árvore morta. E ele ficava mudo, não ouvia. E continuava depositando ali a sua água todo dia...

Passaram-se anos e tudo se tornou mais velho: Seus cabelos grisalhos, sua pele enrugada, seu rosto cansado, seus hábitos e até mesmo o regador com que molhava a velha árvore. E mesmo assim ele não desistia: Continuava a agoar a árvore seca todo dia.

E não questionava seu ato. Creio que qualquer um outro, em algum momento, o faria. Mas ele não: Despejava ali sua água, e nada que ocorresse em volta disso o impediria... A árvore continuava seca, e a terra esturricada, e assim permanecia ao passar dos anos.

Continuou desse modo por um longo tempo. Até que em um dado momento, ao abrir a porta de casa, de longe, ele observa algo de novo e muito estranho. Aproxima-se da árvore e então constata: Havia nascido nela uma única flor. Lá em cima, na ponta de seu galho mais alto e seco, havia uma flor. Ele observou durante horas aquela flor. A viu sob as mais diversas formas e perspectivas. Mostrou-a a seus vizinhos que ficaram abismados. Sorriu, chorou e disse "Sim... É... Continuarei regando aquela flor..." E continuou regando a árvore. Novamente sem questões, sem ilusões, mas com a certeza visível de que, com o tempo, de sua árvore seca poderia nascer uma flor.

Inspirado no provérbio

"De toda árvore seca, poderá nascer uma flor".

 

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Oscar Calixto
Enviado por Oscar Calixto em 03/09/2007
Reeditado em 23/05/2023
Código do texto: T636413
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