TERMÔMETRO MALUCO

Era costume, em priscas eras, o uso de difusoras como meio de comunicação junto à comunidade.

Santa Cruz (RN) contou com a Difusora Irapuru, de Theodorico Bezerra; com a Difusora Paroquial, primeiro com a locução de Cleonice, depois do professor Ribeiro que utilizava como música de abertura e encerramento o “Concerto nº 1 para piano”, de Tchaikovsky, o imortal compositor russo; da Difusora Municipal de Santa Cruz (RN), pela qual passaram Jandir, Edson e Janeide Cruz, meu primo Eugênio Fernandes (in memoriam), Hudson Fonseca, Geraldo Dantas e eu.

Tivemos também a pirata Rádio Difusora Municipal de Santa Cruz, que após transmitir por um breve período, teve que sair do ar por determinação do governo federal, responsável pelo controle das comunicações.

Por derradeiro, tivemos a difusora comandada pelo engenheiro agrônomo Manoel Bezerra.

Recordo-me de mais uma das peripécias dos meninos peraltas Wellingson Ferreira Lima e Eduardo de Til, mais conhecido como Dunga de Til.

Depois da janta as pessoas costumavam passear pela praça. Horácio Rocha, meu parente, tinha ponto cativo na cigarreira de Raimundo, com quem gostava de prosear, escutar músicas e se informar das notícias da cidade.

Da cabine de locução João Leite comandava a programação. Costumava, entre uma música e outra, fornecer informações úteis, entre elas, a hora certa e a temperatura:

- Na capital do Trairy são precisamente vinte horas e cinco minutos. O nosso termômetro marca 24 graus Celsius – dizia o locutor.

Wellingson e Dunga fizeram planos. Dunga levou um isqueiro, surrupiado da cigarreira do irmão Raimundo e Wellingson trazia de casa várias pedras de gelo num saco plástico.

Seu Horácio, em conversa com Raimundo, costumava fazer algumas observações sobre a temperatura e disse que o tempo estava muito agradável, constatando a existência de uma brisa leve e fresca.

Wellingson e Dunga atuavam para fraudar o termômetro, colocando na parte sensíveldo instrumento uma pedra de gelo.

- Na capital do Trairy são vinte horas e quinze minutos. O nosso termômetro marca 18 graus Celsius – dizia João Leite sem se aperceber.

Horácio Rocha, no entanto, estava atento:

- Mas não é possível. Há pouco o termômetro marcava 24 graus; agora 18 graus. Baixou muito. Como pode?

Na cabine do locutor, Dunga fez uso do isqueiro.

- Na capital do Trairy são vinte horas e vinte minutos. O nosso termômetro marca 56 graus Celsius – dizia Leite, ainda sem atentar para a enorme amplitude térmica.

Horácio pulou da cadeira e quase caiu do susto. Como poderia uma diferença de trinta e oito graus em cinco minutos.

- Esse termômetro ficou maluco! – exclamou Horácio.

DJAHY LIMA

DJAHY LIMA
Enviado por DJAHY LIMA em 27/08/2018
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