Regredimos, Eu Acho.
Lembro-me de minha infância,
A escola era pública,
Uma das coisas difícil de esquecer,
Era Das tias da cantina,
E o horário mais esperado,
Era o do Recreio,
Não por que eu não gostasse de estudar,
Mas os tempos eram difíceis,
E com tanto cardápio variado,
Era difícil querer não ir para a escola,
Mas depois de saciado a fome,
As aulas eram sempre melhores,
E me lembro também das muitas (os),
Professoras (es) que tive,
Na escola o Planeta e o Universo,
Nos eram apresentados,
E aprendiamos coisas que hoje em dia,
Nossos filhos não aprenderam,
Nem nas muitas faculdades,
Regredimos, eu acho,
E no campo das administrações públicas,
Lembro-me que os políticos,
Só subiam no palanque,
Em duas situações,
Ou era época de campanha eleitoral,
Ou para anunciar uma obra gigantesca,
Seja o asfaltamento de uma estrada,
Ou a construção de um hospital,
Hoje, sobem por qualquer coisa,
Até mesmo por cumprir,
Com a mínima obrigação,
Regredimos, eu acho,
Uma vez por ano,
Eu ia da cidade para o interior,
Vi muita pobreza,
Andei em cima de carroceria,
De caminhão que coletava,
E distribuía leite no povoado,
Tantos amigos e primos,
Que usavam a enxada no roçado,
No lugar dos lápis da escola,
E vi muito adulto valorizar mais,
O trabalho infantil do que o estudo,
E perdemos uma boa geração,
De possíveis intelectuais,
E vi tantos e tantos largarem,
A vida difícil do campo,
Para sobreviverem na cidade,
Mas vi também em outra década,
O campo ser valorizado,
O empregado virar patrão,
E gente sem terra,
Virar dono de seu próprio chão,
Mas está Vitória não atingiu a todos,
E a liberdade não foi duradoura,
Regredimos, eu acho,
Sobre a natureza,
Nossa, realmente nosso verde,
Era mais belo,
E nossas matas mais cheias de vida,
Mas eu vi muita matança de animais,
Provocada por caçadores,
E vi muita poluição nos mares,
Por esgotos lançados nas praias,
E esgotos a céu aberto,
E vi uma cidade próximo da minha,
Ser considerada a cidade,
Mais poluidora do Brasil,
Cubatão, como entristeceu meu coração,
Em ver seu ar poluído,
E crianças nascendo com problemas,
Devido o envenenamento da água e do ar,
Mas vi a luz no fim do túnel,
E a esperança reviveu,
Eu assistir na televisão o ECO-92,
A Cúpula da Terra,
Com mais de 100 Chefes de Estado,
E vi que o Rio Tietê que um dia pesquei,
Em meio ao lixo para saciar a fome,
Poderia ser despoluido,
O Mar de Bertioga poderia ser protegido,
O mangue que eu e muitas crianças,
Pegavamos caranguejos,
Seria preservado,
Fui crescendo com esta esperança,
E meus pais voltaram para as montanhas,
Famosas que só via em livros,
De história e geografia,
A nossa, a minha Minas Gerais,
E conheci o Velho Chico,
Visitei a famosa Velhas,
E me estabeleci em suas bacias,
Vi a promessa de despoluição do VELHAS,
Um certo Mineirinho falando em palanque,
Que iria nadar no famoso e poluído,
Rio Das Velhas,
Nossa, mais uma vez me alegrei,
E acreditei nesta promessa também,
Mas alguns anos depois, nada mudou,
Pior, mais poluído ficou,
E para complicar mais,
A Barragem Da Samarco em Mariana,
Se rompeu, e tanta lama,
Metal pesado, correu pro mar,
Mais uma vez estive lá,
Para ajudar pessoas,
Tentar salvar animais,
Proteger a natureza,
Mas somos apenas humanos,
E o dano ambiental,
Foi em proporções desumanas,
Regredimos, eu acho,
Recentemente voltei em Santos,
Aquela Mata Atlântica,
Está sendo devastada,
Com a má ocupação do solo,
Vejo na tevê e redes sociais,
A Amazônia ser desmatada,
Além das queimadas,
Todo dia tem barcos com cargas,
Colossais de madeiras,
Singrando os rios em direção aos mares,
E vejo de perto o Cerrado,
Sendo queimado, cortado, pilhado,
Mau ocupado, pastoreado,
E sinto um aperto no peito,
E num suspiro de lamento,
Penso:
Regredimos, eu acho.
Autor: Denis A. Valério - Ambientalista.