Os Quatro Anéis de Ouro

Minha mãe casou – se aos 15 anos, e ficou viúva aos vinte e tantos. Teve 4 filhas com seu marido.

E de repente se viu sozinha com suas filhas pequenas para sustentar com seu pequeno salário de doméstica, exercia duas funções na verdade, ajudava na limpeza da casa e também do consultório do patrão que era médico. Fazia o trabalho de assistente.

Mas a vida era difícil, ninguém estava disposto a dar-lhe uma ajuda, na verdade se podiam complicavam.

Em meio a essas dificuldades conheceu meu pai. Um homem solteiro nos seus quarenta e sete ou quarenta e oito anos. Bonito de olhos azuis, meigo e inteligente.

Casaram-se, talvez não por ostentação dele em exibir uma jovem esposa de menos de trinta, mas por riqueza de alma, para ajudar minha mãe a cuidar das pequenas meninas que seu marido morto lhe deixou.

Tenho em minha sala uma antiga foto do início do namoro deles. Na foto estão meu pai, minha mãe e três de suas quatro filhas. Uma delas, a mais rebelde não quis aparecer na foto, porque vaidosa como é ainda hoje, não estava se achando arrumada para tirar uma foto.

Em meio a muitas dificuldades o novo casal iniciou sua vida, sem bens, sem casa própria, com pouco dinheiro e muitas despesas. Afinal pagar aluguel e alimentar seis bocas não é tarefa fácil. Ainda me lembro das brigas entre minhas irmãs mais velhas por mais um pequeno pedaço de pão. Ou a desistência de sonhos por conta de falta de dinheiro.

Meu pai, como já me admitiu em uma conversa, apesar de inteligente, não tinha muito jeito para negócios. Fazia o trabalho bem feito, trabalho esse que as vezes só ele era capaz de fazer, e esperava que os ricos fazendeiros reconhecessem o valor e pagassem o merecido, mas como sabemos se você não valorizar seu trabalho ninguém o valorizará por você. O ser humano tende a levar vantagem.

Mas meu pai sacou que ele sabia fazer o trabalho bem feito e que se juntasse a alguém que soubesse cuidar dessa parte financeira poderia dar certo. Fez então uma bem sucedida sociedade e montou um negócio que deu rendimentos.

Quando nasci ainda vivíamos em uma velha casa de madeira, cheia de buracos e goteira, vivi nessa casa por treze anos, e só nos mudamos porque o dono da casa intencionava demoli-la.

Fomos morar numa das casas de meu avô materno. Moramos nessa casa durante o início do negócio bem sucedido do meu pai. E quando eu tinha quinze anos nos mudamos para nossa casa recém construída.

Meu pai caprichou nos detalhes, fez tudo de acordo com seu gosto pessoal, escolheu cortinas, cores, e arquitetura. Minha mãe assistiu a tudo pacificamente.

Fez apenas uma exigência para o emprego do dinheiro que conseguiram guardar com o trabalho de ambos no empreendimento: Queria comprar uma joia para cada uma de suas quatro filhas. Já éramos seis filhas nessa época. Mas mamãe achou que as quatro sofreram mais provações e que naquele momento já casadas e morando longe, não desfrutariam da nova vida abundante.

Fomos os três, meu pai, minha mãe e eu, na joalheria comprar joias para elas mais especificamente anéis de ouro.

Cada um foi escolhido de acordo com a dona que o receberia.

Mamãe analisou as pedras o formato e destinou cada joia a uma de suas meninas.

A mais velha ganhou um anel simples e delicado, apenas com seu nome gravado, a segunda ganhou um pequeno chuveiro de rubis, a terceira um anel com uma flor e uma pequenina pérola incrustada, a quarta ganhou um anel de pedra azul.

Minha irmã número dois, guardou seu precioso anel sua vida inteira, e desde que o recebeu nunca o usou. Ficava na caixinha preta em que o recebeu.

Achava que havia sido um presente de meu pai pra ela, sempre a ouvia falar com orgulho do anel que tinha e estava guardado como uma preciosa relíquia.

Essa minha irmã nos deixou cedo, morreu antes dos cinquenta e cinco anos, e poucos meses antes dela morrer a visitei. Tive oportunidade nessa visita de lhe contar a história do anel.

Ela me mostrou o anel pela enésima vez, fazia isso todas a vezes que eu ia na casa dela.

Me perguntou: _ Você não tem mais o seu anel, não é? Respondi que eu não havia ganhado um anel, nem eu e nem minha irmã mais nova. Que aquele era um presente de mamãe para suas meninas. Ela ficou muito surpresa por saber a história de seu anel. Realmente dos quatro anéis só o dela sobreviveu. Sobreviveu inclusive a ela.

Não sei o que aconteceu com o anel, depois que ela se foi, talvez tenha sido vendido, talvez tenha sido perdido. Ele não era nem de longe sua joia mais cara, minha irmã tinha muitas joias caras e bonitas, mas com certeza era o mais precioso pra ela. E para minha mãe que o deu com tanto carinho.

Rosahoney
Enviado por Rosahoney em 29/04/2021
Código do texto: T7244579
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