HISTÓRIA DO SCARAMOUCHE ESCULTOR   
 
Quando eu transformei a minha carreira de luta, que era um hobby, em forma de trabalho, eu teria de conseguir outra maneira de ter outro hobby. Então surgiu a escultura que era uma coisa antiga e que de alguma forma estava latente dentro de mim. Faz muitos anos que eu uma vez fiz uma escultura dos três macaquinhos. Foi um pedido de um parente que queria que os mesmos fossem de barro, coisas para dar sorte. Eu poderia dizer que foi a minha primeira escultura quando eu deveria ter uns 20 anos, lá pelos anos de 1963. “Ainda tenho a foto”. Posterior a esse fato eu fiquei por muitos anos com a dedicação especial a Judô. Como escultor, sou considerado mais um autodidata do que um escolado. Trabalhei muitas horas por dia entalhando madeiras, pedras, pesquisando materiais, desenhando, consultando com amigos escultores. Algumas peças que não teriam utilidades ou que eu não as aprovava, tive que destruí-las. Tive também estudos de desenho numa escola do estado com uns 17 anos, com o meu grande professor Cláudio Martins Costa, hoje falecido, Falei com ele um ano antes do seu falecimento, que foi em 2009. Quando ingressei na escola, ele pediu-me para fazer algum tipo de desenho, então eu fiz uma cabeça de cavalo. Anos depois quando eu novamente tive aulas com o mesmo professor, ele me falou: ainda tenho aquela cabeça de cavalo que tu fizeste quando tinhas 17 anos. Ele guardava tudo, principalmente o que se tratava de artes. Não fiquei muito tempo lá, e vivi uma lacuna bem grande, mas sempre guardei comigo, a idéia de algum dia me tornar um escultor de verdade. Passado algum tempo o meu professor foi morar próximo a minha casa, então ele me convidou a para posar nu num projeto que ele estava começando a desenvolver para um painel público. Posei sem constrangimento, e até por conhecê-lo, e o nu para quem é artista plástico não existe tabus, e por coincidência, acabei por ser um praticante do naturismo – sempre estava com alguma ligação com a arte. Passados alguns anos mais tarde e eu já perto dos 47 anos, comecei a entalhar totens, de forma autodidata inspirados nas culturas primitivistas dos Andes, onde vivi parte do ano de 1970. Era o meu hobby se tornando realidade. Depois comecei a estudar desenho no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, onde o meu professor era o meu já conhecido Prof. Cláudio Martins Costa. Depois de ter aprendido um tempo de desenho, ele me falou - tu tens Neri, é que ser um escultor. Foi uma luz que ele acendeu dentro de mim, com aquelas palavras. Tem conselhos ou palavras, que fazem tu acreditares naquilo que estás almejando. Então comecei a me tornar um escultor, e não parei mais. Era um hobby, que mais tarde tornou-se a minha profissão, quando os limites do judô chegaram ao seu auge. Como é importante a gente trabalhar com o que realmente gosta. Eu senti isso, pois saí de um trabalho durante seis anos na Olivetti do Brasil, e me tornei profissional em lutas, e depois em como escultor também por profissão. É como se eu não trabalhasse, pois tinha conseguido por duas vezes transformar meu hobby como profissão. Após sair do Atelier, me propus a continuar com minhas condições de autodidata, pois sempre acreditei que é trabalhando bastantes que nós vamos aprendendo e conquistando o aperfeiçoamento. Como esculpir ou pintar, são coisas de inspirações próprias, que vêem de dentro de nós, apenas necessitamos apreender as técnicas de manejo das ferramentas. As constantes repetições nos levam ao aprimoramento, pois a arte esta dentro da gente. Eu ainda ministrava aulas de Judô, e fazia minhas esculturas. Numa determinada vez um clube de Canoas, queria que eu desenvolvesse um troféu, para a Rainha do Canoas Country. Fiz a minha primeira peça, como troféu, e a pessoa que me solicitou, falou assim: “Não precisava ter exagerado”. Palavras de incentivo não sei se foram para me agradar ou ela realmente gostou da peça. Mas foram palavras certas e por isso marcou muito em e mim. Como foi a minha primeira peça, eu me esforcei bastante, e foi um marco para me firmar além de escultor, como um produtor de troféus esculpidos. Fui ampliando o meu conhecimento a respeito, abrangendo a maioria dos eventos que envolviam troféus, como premiação. Em 2012, com 20 anos trabalhando como escultor de troféus, cheguei a produzir mais de 1200 modelos e mais de 40.000 peças reproduzidas em metal fundido, que se encontram pelo Brasil e Exterior. E tinha um bom currículo como professor de judô, mas agora eu precisava de um currículo como escultor, para dar mais credibilidade com as minhas criações, e assim provar a mim mesmo que as peças possuíam procedência artística, ou não. Tive que me esforçar, já que eu tive algumas peças que foram criticadas. Uma vez apresentei minhas esculturas numa galeria de São Leopoldo, mas o merchant da galeria me disse: Tu tens que desenvolver mais o teu trabalho, ainda não estão ao nível da nossa galeria. Ou eu desistia ou melhorava o meu trabalho. Fui para casa e pensei a respeito daquela crítica, e cheguei à conclusão, de que se alguém me disser que devo melhorar então eu devo melhorar - seria apenas mais um escultor, ou desistiria – ainda me faltava técnicas, e foi o que fiz melhorei as condições técnicas, pois se não melhorasse eu teria que partir para outra atividade, ou não iria me destacar. Um ano mais tarde voltei ao mesmo Merchant, como um escultor premiado, e fui recebido para expor na sua galeria. Foi a minha primeira vitória dentro das esculturas. Nunca devemos desistir da luta. Noutra ocasião eu fiz um troféu para uma empresa de Canoas/RS. Era sobre judô, um dos temas que mais conhecia, me entusiasmei e fiz a peça solicitada, e achei muito bonita. Eu mesmo a levei ao cliente, e dentro do seu escritório, mostrei a peça, e ele disse para mim - ficou muito bom. Neste instante passava pelo local a sua secretária e ele aproveitou e mostrou a ela o troféu que ele havia gostado e perguntou o que ela achava? E ela olhou de cima para baixo, fez uma analisada, e disse: ficou aos meus olhos uma porcaria. O meu cliente olhou para ela e lhe disse - mas tu nem conhece o nosso artista e fala mal do troféu, ou tu estás brincando. E secretária falou: - tu não me pediste para dar uma opinião, e opinião é assim ou agrada ou não, e eu continuo com a minha opinião, pediu desculpas e saiu da sala. Que lição que eu aprendi. As obras nunca agradam todas as pessoas e foi mais uma ameaça, que tive que engolir. Fique até um pouco aborrecido com a crítica, mas não fiquei bravo com a opinião daquela secretária - depois eu comecei a pensar sobre a escultura, seu equilíbrio, o conjunto com o pedestal, e cheguei à mesma conclusão da secretaria do meu cliente. Na realidade ela tinha uma sensibilidade para a arte, faltava alguma coisa, mas não parecia uma porcaria. Mais um aprendizado de vida. Não adianta ficar bravo com as pessoas, sempre há algum aprendizado escondidos nas ameaças. É claro que não precisava dizer que tinha ficado uma porcaria. Poderia ter dito, não ficou tão boa assim. Às vezes a agressão à gente nunca mais esquece, e sua agressão foi importante para mim e hoje este episódio, esta nas minhas memórias e no nesta crônica. Escrevi-me num concurso Nacional chamado, Prêmio Chagall/1989, em Porto Alegre, Cujo prêmio era uma viagem para Israel, com todas as despesas pagas pelos organizadores. Foram inscritos mais de 280 esculturas de todo o Brasil, pois foi um evento muito divulgado pela mídia. Atraindo os melhores escultores, nacionais, mas mesmo assim eu também estava lá, com a minha obra, apesar de achar muita areia para a minha caçamba, mas eu queria era me expor ou expor a minha obra junto aos melhores da arte. Consegui classificar a minha escultura para uma exposição das 30 obras finalistas, com o direito a um certificado de classificação. Elas seriam expostas durante um mês. Considerado o número de participantes a minha classificação como finalista que concorreu com o prêmio maior, foi à garantia de que a minha obra iniciou meu currículo, e foi vista pelo grande público lá comparecido durante o tempo de exposição. Posteriormente resolvi participar do Salão de Artes em Novo Hamburgo/RS destinadas a escultores do RGS e que era bastante exigente para os participantes. Apresentei uma escultura de bronze, com mais de 45 quilos de peso. Era o que eu tinha de melhor. Minha obra não foi aceita nem para participar do evento. Voltei com a crista baixa, mas não vou desistir, pois sempre penso em que desistir dos nossos objetivos e como se fosse perder. Devemos acreditar nas coisas que almejamos e sempre pensar que vai dar tudo certo, mas se desistir, pelo menos tem que lutar muito. Ser derrotado, não é perder a guerra. Vamos em frente. Continuei trabalhando todo o ano, e me preocupando sempre com melhorias no meu trabalho, e aguçando a criatividade. No ano seguinte fiquei na expectativa de participar do próximo Salão de Eventos de Novo Hamburgo. Fiz a minha inscrição, e fiquei sem saber o que deveria preparar para participar da seletiva do evento, mesmo sem objetivar uma classificação. Aí veio a idéia da minha esposa. Na frente nossa casa a empresa de Armas Rossi, havia colocados um aterro de fundição, que tinham também blocos de resina usados na fundição de peças para armas, e que poderiam ser esculpidos. Ela me disse: se tu pegar alguns daqueles blocos e fizer uma escultura, eu acho que será uma invenção diferente, pelo material empregado. Busquei um dos blocos e fiz uma escultura, em mais ou menos duas horas, pois era fácil de trabalhar com as ferramentas. Denominei. “AVE EXÓTICA EM REPOUSO” Tinha ficado uma obra, diferente, esculpida por uma projeção que vem de dentro da gente, pois, eu não havia feito alguma projeção por desenhos. Acho que agora eu vou me classificar pelo menos para a exposição. E lá fui eu abraçado na minha obra para mais uma tentativa de classificação. OBA – Recebi a notícia que a minha escultura foi classificada entre as 30 finalistas, e iria participar da exposição, onde lá estava eu, como um dos escultores, classificado, pensei: eu já estava continuando com o meu currículo, pois já estava fazendo parte o meu nome como expositor classificado naquele exigente evento. E aquela gente toda que iria visitar no período de 30 dias, lá estava o meu trabalho junto aos demais sendo vista. Eu conto este feito como se eu estivesse vivendo naquela época, com todo o meu entusiasmo, almejando algo, num evento que parecia muito importante na minha vida, e era. Mas hoje são apenas mais histórias fazendo parte das minhas histórias. E os que ganharão prêmios, hoje, foram substituídos e é apenas um conto a mais. Mas continuando com as minhas euforias sentidas na época. Depois dos classificados haveria a comissão que iriam premiar os quatro melhores. E a gente ficava na expectativa, até o resultado ser oficialmente divulgado. Onde eu queria chegar, estava bom, e eu não estava preparado para quaisquer melhorias, mas queria saber dos resultados para ver quem eram os premiados. E a minha surpresa! Eu liguei para a direção do evento a fim de saber do resultado, e me informaram que a minha peça foi classificada em primeiro lugar das 30 finalistas. Não acreditei, mandei outras pessoas ligarem, pois acho que estou sonhando, e não estava. Naquela noite não dormi, meu primeiro prêmio importante. Quando acordei, no dia seguinte, mandei alguém ligar novamente para confirmar. O primeiro lugar saiu para o autor: João Neri Satter Mello. É eu não estava sonhando, ou foi um sonho que se tornou realidade. Fiquei muito feliz Tive com aquela classificação, reportagens no jornal, local, na ZH, na rádio, e revista Veja. E além do primeiro lugar a mesma peça foi também classificada em mais um primeiro lugar por votações dos participantes do evento que durou um mês. Minhas obras começaram a ter valor e reconhecimento artístico. Estou citando, este feito, mas é bom lembrar que não medi esforços com trabalhos e calejando as mãos, para correr atrás do que eu queria, e consegui. Foram prêmios que a vida não apagará mais, pois se tornou uma história, um prêmio e um momento, apesar de acontecer outros vencedores e outros prêmios e até mais láureos. Parecia que eu estava com o meu currículo pronto, mas devo mencionar também o concurso público com prêmio de um milhão de cruzados novos na cidade de Santa Maria, para escolher um troféu denominado cidade cultura de Santa Maria. Que seria outorgado a premiar as pessoas destacadas em várias categorias nas atividades artísticas naquela cidade. Dentre os inscritos do Rio Grande do Sul, foram escolhidas duas peças por uma equipe de avaliadores, tendo sido a minha peça junta. E depois mostradas para que o prefeito da época fizesse a escolha final. Tive a sorte de o prefeito simpatizar com a minha peça, e ser a escolhida, como o primeiro lugar. Acho que a sorte também conta, e não só o talento e o esforço. Além do prêmio em dinheiro, ainda fiz as réplicas em bronze, para os agraciados, que foi reprisado por vários anos. Foi também um grande feito por tratar-se de um concurso público e com premiação em dinheiro. PRÊMIOS ADQUIRIDOS 5° SALÃO INTERNACIONAL DAS NAÇÕES UNIDAS EM 1990 NO PREDIO DA BIENAL. Classificação medalha de Ouro. 6° PRÊMIO PALETA DE OURO EM SÃO PAULO 1991. Realizado no Salão Portinari. Classificação. Medalha de Ouro PRÊMIO LEONEL BRIZOLA NO RIO DE JANEIRO 1991 – Classificação Medalha de Ouro. PRÊMIO LINDOLFO COLLOR NO RIO DE JANEIRO. Realizado pela Associação de Desenho e artes visuais. Classificação. Medalha de Ouro. PRÊMIO VANGUARDA BRASILEIRA DE ARTES PLÁSTICAS. REALIZADO EM SÃO PAULO. Classificação. Medalha de prata MOSTRA MUNDIAL DE ECOLOGIA. NO RIO DE JANEIRO. Realizado no espaço Cultural da Associação de Imprensa. Classificação. Medalha de Ouro. SALÃO DE ARTE DE NOVO HAMBURGO/RS. Realizado pela Pref. Municipal de Novo Hamburgo e Secretaria Municipal de Cultura. Classificação. Menção Honrosa. SALÃO DACY RIBEIRO. RIO DE JANEIRO. Realizado na Galeria de Arte da Academia de Polícia. Classificação. Medalha de Ouro. 3° SALÃO CANOENSE DE PINTURA, DESENHO E ESCULTURA. Realizado pela Fundação Cultural de Canoas/RS em 1993. Classificação. Primeiro Lugar. 4° SALÃO CANOENSE DE PINTURA, DESENHO E ESCULTURA. Realizado pela Fundação Cultural de Canoas/RS. Em 1995. Classificação. Menção Honrosa. CONCURSO DE DESENHO PARA CRIAÇÃO DE MEDALHA. Realizado pela Federação Gaúcha de Judô, em 1996. Classificação. Primeiro Lugar. ESCULTOR SELECIONADO, Pela PUCRS com artistas plásticos do RS, para criação do troféu São Marcelino Champagnat. Realizado em 1996 O que tem realmente valor é a obra feita o que ela representa tanto para mim, como para os outros, e colocar a emoção, a inspiração e a transpiração e em fim, vê-la pronta. Isso deve estar em cada peça feita, e a importância e que ela motivou para a pessoa que a adquiriu. A vida é uma viagem e não o destino, viver tem que ser o agora, por isso coisas passadas, prêmios conquistados, serão esquecidos, Fizeram sua época, tivera o seu glamour e como o viver é o agora, é mais importante as minhas novas criações e sempre colocar alguma obra em algum lugar neste mundo.

“AS OBRAS DE ARTE NÃO EXISTIRIAM SE O SEU AUTOR NÃO TIVESSE EXISTIDO”
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 17/09/2021
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