MARIA FARINHA

   Do fundo do armazém eu via Maria, ela vinha sempre pedir um pouco de farinha a seu João, o dono, que até chegou a lhe ajudar por algumas vezes, mas como se tornou rotina ele deixou de dar farinha para a menina Maria, aquela que eu ficava aguardando todos os dias só para vê-la e esperar que pelo menos olhasse prá mim, mesmo a uma certa distância. Eu passei a admirá-la desde que cruzei com ela, foi um encontro casual, eu estava quase atrasado para chegar ao armazém, meu local de trabalho. Quando Maria passou a freqüentar o armazém de seu João eu vi uma oportunidade de me aproximar dela, mas o patrão era muito rígido e eu temia perder o emprego.

   Certo dia seu João estava distraído atendendo um fornecedor de produtos e não viu Maria entrar, foi nesse momento que de lá do fundo do armazém, onde eu era estoquista, me aproximei e, criando coragem, me dirigi a menina com um sorriso. Ela me pediu farinha. Olhei discretamente para seu João que continuava ocupado. Apontei para o saco de farinha e mandei-a pegar, o que ela fez. Meu patrão virou-se nesse exato momento e gritou: "Maria Farinha, ponha-se daqui prá fora!" Nesse dia perdi o emprego, mas ganhei a simpatia de Maria.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 24/10/2021
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