Traquinagens no bate-papo da UOL

Depois de muita expectativa, finalmente tinha internet em casa. Eu já estava louco de vontade de sair navegando, conversando e, por isso, decidi entrar no bate-papo da UOL.

 

Eu tinha uns catorze anos de idade, mas por achar as pessoas da minha idade muito imaturas, entrei numa sala para maiores de trinta.

 

Na verdade, não importava qual sala eu escolhesse, todas elas serviam para unir pessoas, para o bem ou para o mal.

 

Dei uma lida rápida nas conversas, para me ambientar e chamar alguém para o bate papo.

 

Vi que uma moça, que utilizava o apelido de “Florzinha” era muito assediada, mas não falava com ninguém. Decidi que eu seria o próximo a tentar a sorte.

 

“Oi, florzinha, posso sentir seu perfume?”, esta foi a coisa mais ousada que eu já havia dito para uma mulher até então.

 

“Garanto que você vai gostar!”, foi a resposta.

 

Para que a conversa fluísse, eu precisava criar um personagem compatível. Disse que me chamava Marcus, tinha 33 anos e era dono de uma loja de cds, contudo, eu era muito tímido e isso acabava por afastar potenciais clientes.

 

Florzinha se mostrava muito interessada, e a conversa foi tomando um rumo que eu não esperava. Foi então que resolvi abrir o jogo:

 

“Você parece muito legal, então vou dizer a verdade: meu nome é Rodrigo e tenho 14 anos”.

 

“POR QUÊ VOCÊ FEZ ISSO COMIGO??????”, ela digitou e logo sumiu do chat.

 

Senti um peso na consciência que nunca se foi de todo. E, ao pensar que hoje esta mulher deve estar na faixa dos 50, me pergunto: será que ela superou? Acredito que sim, mas o inconsciente às vezes traz a tona lembranças da épocas distantes, então troço apenas que esteja bem e que não tenha ficado com nenhum trauma de se relacionar pela internet.