O Gol

Aprendi com meu pai o amor pelo futebol.

Lá em casa sempre foi Deus no céu e o Atlético de Zumbilândia (homenagem a Zumbi dos Palmares) na terra.

Inúmeras vezes fui doente para ir ao estádio de nossa cidade assistir aos jogos, não importava com as consequências.

Aprendi também, desde criança a nutrir um ódio fervoroso pelo nosso grande rival, o time da cidade vizinha: o Clube Regatas Primeiro de abril.  

Naquele ano nosso time estava mal no campeonato estadual. Havíamos perdido quase todos os jogos e perigávamos cair para a segunda divisão, sendo aquele jogo contra nosso arque rival que definiria se nosso time permaneceria ou não na primeira divisão.  

Precisávamos da vitória a qualquer custo e muitos já davam como certo o nosso rebaixamento, uma vez que o Primeiro de Abril estava invicto e contava com o melhor ataque do campeonato.

Mas jogo se decide dentro de campo e tudo pode acontecer com a bola rolando, portanto não perdi as esperanças e quando o juiz apitou dando início ao jogo senti algum tipo de premonição, uma coisa que não sei explicar me disse que aquele jogo mudaria minha vida.  

Mas não dei muita importância… o que me importava naquele momento era o zumbi, continuei tomando minha cerveja gelada e a torcer para meu time de coração.  

Para o meu desespero nosso time estava jogando muito mal, retrancado, quase não pegávamos na bola e o juiz parecia estar torcendo pelo Primeiro de Abril.

No intervalo do primeiro tempo um amigo meu apareceu com uma caixa de foguetes e começou a solta-lós, mesmo sem sair gol, dizendo que isso intimidaria o primeiro de abril.

Eu não me importei e continuei acompanhando aflito o jogo. Mas o jogo não mudava. O Primeiro de abril já havia acertado duas bolas na trave, parecia ser questão de tempo até o gol da derrota.

Contrariando todas as expectativas, chegamos próximo aos quarenta e cinco do segundo tempo com o resultado de zero a zero.

Foi quando em um contra-ataque meio atrapalhado meu time triunfantemente marcou um gol. Aquele foi o momento mais feliz de minha vida. Não consegui conter minha alegria, pulei, gritei e abri os braços expressando toda minha a felicidade, gritava euforicamente: Gol!  Gol! Gol!

Em minha empolgação e meio sem saber o que estava fazendo, talvez também pelo fato de já estar bêbado devido às cervejas que havia tomado, resolvi soltar um foguete, mas minha euforia era tanta, eu estava tão fora de mim, que não vi direito o que estava fazendo… me confundi depois que ascendi o foguete, pois naquele exato momento o juiz apitara anulando o gol do meu time e eu atônito com aquela reviravolta, segurando o foguete em uma mão e a latinha de cerveja na outra, fiz a pior confusão de minha vida.. acabei levantando a lata de cerveja para o alto como se fosse o foguete e bebendo o foguete aceso como se fosse a cerveja, que explodiu violentamente em minha boca.

Denis Glauber da Silva Reis
Enviado por Denis Glauber da Silva Reis em 10/03/2022
Reeditado em 07/05/2024
Código do texto: T7469688
Classificação de conteúdo: seguro