SUSSUCA O CICERONE

Sussuca não se sentia mais à vontade . Cansado estava de tanto contar as mesmas historias de Ouro preto: Senhores, estamos no maior conjunto arquitetônico barroco do mundo tombado pela UNESCO como Cidade Patrimônio Mundial. Este aqui é o Museu da Inconfidência, antiga cadeia de Vila Rica. Ao fundo do outro lado da praça , após a estatua podemos ver a Escola de Minas de Ouro Preto antigo Palácio do Imperador ou senão aqui nesta casa viveu Tomaz Antônio Gonzaga , um dos Inconfidentes e namorado de Marilia , o Dirceu e etc...

Sussuca estava num processo de mudança de percepção da cidade ou estava tendo algum tipo de psicose , visto que atitudes estranhas andavam tomando conta dele e ele já não era aquele cicerone conhecedor profundo da cidade, sério e batalhador como era conhecido.

Era ver um ônibus ou um carro de turistas adentrando a praça que corria para oferecer os seu préstimos aos ilustres visitantes.

Naquele dia eu acho que houvera com ele o qu e se chama de “estalo do vieira” e ele de repente começou a contar a historia de Ouro Preto de forma diferente. Para ele tudo deveria ser dito em versos e ele não falaria a respeito de história , mas sim a respeito das origens dos nomes das ruas e de seus personagens favoritos da cidade. Nada de contar aquele papo antigo. E assim mudou o seu estilo que o levaria a ser internado em uma clínica especializada em doenças mentais em Belo Horizonte.

Normalmente , ele começava o seu roteiro pela rua direita e seguia em direção ao Rosário.

Senhores, essa rua direita e soltava a partir daquele instante a historia em forma de poema.

Rua direita

Na rua direita

Tem muita coisa torta.

Nos idos da ditadura,

Estava politicamente engajada

Ela era ultra direita conservadora

Mas , com o passar do tempo

Mudou e hoje é uma rua plural

Aceitando qualquer facção

Sem nenhuma restrição ser

Centro, esquerda, neo-liberal

Comunista e até a si mesma.

Moralmente falando

Sua conduta é ilibada

Mas, vez ou outra é quebrada

Pelo doze de Outubro

ou pelas loucuras carnaval.

Além desses fatos

E alguns encontros fortuitos encontros

Na calada das madrugadas

De alguns casais de amantes

Nos becos que a cortam

não há nada

Que possa denegrir a sua imagem.

Mas devemos enfatizar

Que ela é uma rua muito volúvel

E a sua posição topográfica

E de posicionamento político

Muda numa fração de segundo

Dependendo da referencia

Que estiver sendo tomada.

De frente para o museu : direita

De costas para o museu: esquerda

Desta forma às vezes não é reconhecida

Mas o nome de direita é mantido

Por não ter sido encontrado

Outro que retrate esta rua

Que é meio "Maria vai com as outras".

Antes de seguir o nosso roteiro no rumo Ao Rosário, gostaria de voltar atrás um pouco para lhes falar a respeito da rua do Ouvidor.

Rua do ouvidor

Por mais que você fale

Coloque seus pontos de vista

Faça comícios ,

Cante ,

Grite,

Nada acontece...

Ela não se emociona

Nem se manifesta

Já por ela passaram

Pessoas eloqüentes

que de tudo fizeram

Para que ela desse o seu veredicto

A respeito de assuntos variados,

Que seria a sua função primeira

Mas ela tem-se mantido

Num silencio sepulcral

Há vários anos.

Desconfia-se que :

A Rua do Ouvidor é surda... e muda.

Vamos descer agora a rua direita rumo a Visconde Bobadella. Este largo tem uma estória interessante:

Largo Visconde de Bobadella

Ela caiu feito um patinho:

Conversa ,era o forte dele

E homem, era o fraco dela

Ele usava de toda a sua nobreza

Pra manipular com esperteza

O frágil coração da donzela

Jogava toda sua malícia

Que aprendera nas hostes

Palacianas

Pra encantar os olhos

E aguçar os hormônios

Da doce donzela.

Ela por sua vez

Não deixava por menos

Usava de sua beleza

E da falta de mulheres

Crônica que sempre teve

A Vila Rica de Ouro

Prá enfeitiçar um nobre, um Conde

E assim todo aquela louca paixão

Foi crescendo até que o esperado aconteceu:

Um Viscondezinho a vista.

Resultado ele juntou toda a sua fortuna

E pertences

E saiu na calada da madrugada para nunca mais.

Bobadella , não?

Esta história vez em quando se repete

Só que os Viscondes do Brasil desapareceram

E só sobrou uns muitos estudantes

Na bela Vila Rica de Ouro Preto

Que chegam hoje atrás do ouro do saber

E não do metal,

Que se empenham bravamente

Em arranjar um namorada.

E elas ? Se esbaldam, deitam e rolam.

Resultado: mais um Viscondezinho

Bobadella?

Não.. hoje elas sabem bem o que estão fazendo , estão atrás de prazer e às vezes de marido

Os Viscondes de hoje é que caem feito patinhos

Eu acho que o nome mais correto

deveria ser dos Bobodelles.

Ontem Vis Condes ..Hoje? nem tão vis assim...

Bem Senhores em prosseguimento ao nosso passeio pela cidade seguiremos pela rua Sâo José, mas antes vamos dar uma passada pela casa dos contos:

Casa dos contos

Conta-se

Que aqui contos

Eram contados

De réis

De fadas

De assombrações

De um enforcado traidor

Debaixo de uma dessas escadas

Uns juram tê-los ouvidos

Outros não.

Eu na minha modesta opinião

Acho que aqui

Foram e são contados

Ou executados outros contos

Que muitos não tem coragem

De contá-los:

Do vigário

Do suadouro

Muita malandragem contemporânea

E muita sacanagem inconfidente

Principalmente mais ali na frente

Na ponte dos contos.

Lugar perfeito

Para se falar de coisas

Não tão perfeitas assim.

Rua São José

Êta rua cheia de estórias

Algumas dignas do nome que tem

Outras nem tão santas assim

São José que nos perdoe

Usar seu santo nome

para uma rua tão foliona.

O carnaval pega fogo é aqui

Mulher vestida de homem

Mostrando os grandes sapatos

Homem que não tem muita certeza se é

Todo mundo junto

No mesmo cordão

O footing é aqui...

A bebedeira maior é aqui...

Os encontros são marcados aqui

E muitos casamentos

Começaram e acabaram aqui...

As Marilias e os Dirceus

Ainda estâo por aqui...

O serio Hotel Tofollo

O centro acadêmico da escola de farmácia

Não tão serio assim.

O Peret , lugar do cafezinho

De uma manha ressaqueada

O chafariz ,lugar mais fino

E freqüentado pela fina flor

Da cidade.

Na São José desfilam ainda,

No carnaval,

O Balanço da Cobra, da Cidão

O Bloco do Caixão, que ninguém quer ser dono

A Bandalheira, do Virgílio

Já desfilaram

A Nata da Sociedade, do Silvério Malão

Os Baitolas, que estão muito em moda

Hoje em dia

E trezenas de outros.

Além da maioria absoluta

Dos Eu sozinho.

Praia do circo

Lá tem prefeitura

Ex - cadeia

É meio fundo de igreja

Tem um jardim

Bem cuidado

Um bar na esquina

E até uma academia

Mas não adianta levar

Óculos escuros

Bronzeador

Barracas

Comprar ingressos

Pipoca

Porque lá não tem o mais importante:

Nem circo e nem mar

Conde D'Eu

Dizem que o Conde D'EU passou por Ouro Preto. Não me perguntem se ele andou dando para alguém aqui que eu não sei. Pelo menos eu não o comi. Posso garantir. Agora tem gente nessa terra que anda a grito que é capaz de ter encarado. Quem sabe os tais Vis condes? Alias devo informar que foi feita uma marchinha de carnaval a respeito desse tema e que já foi sucesso por aqui. A letra diz:

"Se o Conde D'Eu

E não foi você quem o comeu,

Garanto...garanto que não fui eu( bis )

Não sou chegado

A essa estranha filosofia ,

Nem falo a mesma língua,

Ao ter que comer tão diferente

Prefiro morrer a mingua"

Rua das Mercês

A Rua das Mercês definitivamente não é delas. Posso garantir. Inclusive uma delas, a de Brito Machado, mora lá na rua do barão , que por sinal é uma outra mentira, pois não tem nenhum por lá .

Poeta de Gravata
Enviado por Poeta de Gravata em 22/11/2007
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