A MULHER QUE NÃO SABIA AMAR

   Regina era a mais velha de uma "penca" de dez filhos, vangloriava-se de poder mandar nos outros aproveitando aquela época dos anos sessenta quando realmente hierarquia funcionava. Era ordem da matriarca: "Respeite seu irmão mais velho". E ai de quem desobedecesse. Regina, então com 25 anos, começa a namorar um rapaz dos seus quase 30 anos, mas tinha portanto a "vigilância" dos irmãos mais novos, pois naquele tempo não tinha esse negócio não de ficar à vontade, todo cuidado era pouco e olhe que ela já ia no terceiro namorado, pois os outros ela mesma dispensou. Com esse agora vamos ver se vai dar certo. Durou pouco tempo o namoro, como era um rapaz evangélico teve todo o apoio da mãe, que também freqüentava a igreja de crentes. Benito era o nome dele. Noivaram e foi logo marcada a data do casamento. Ela não queria, mas de tanto a mãe insistir ela aceitou. Foram morar ali perto em uma casinha alugada (naquele tempo aluguel era barato e comprar uma casa era caro).

   Tudo transcorreu bem com o casamento de Regina, ela até passou a freqüentar a igreja junto com o marido, mas era uma crente muito avançadinha, suas roupas, diziam, não eram dignas de uma "filha de Deus". Ela se chateou e deixou de ir a igreja. Com as constantes desavenças com Benito o casamento foi pro beleléu. Perguntada por que acabou o casamento ela simplesmente disse que não gostava dele. Ainda bem que não teve filhos nesses três anos de casada.

   Apareceu na vida de Regina um rapaz que ela conheceu no trabalho, era o gerente dela. Começaram o namoro e agora não tinha mais "fiscalização" dos irmãos não, como já era uma mulher separada tinha livre arbítrio para namorar com quem quisesse. Como já tinha casa e móveis, frutos a maior parte do seu salário, ficou com tudo (espertinha!). E o gerente "tibungou" dentro. Pronto, marido e mulher morando juntos. Mas a "festa" não durou muito tempo, o gerente da loja onde ela trabalhava foi demitido e ela achou por bem ele cair fora da "jogada" (ia manter a casa como?).

   Pouco tempo depois Regina já estava de caso com um rapaz "da pesada", mas ela só ficou sabendo depois que se envolveu e foi para o motel com ele. Tarde demais? Talvez não! Ela podia muito bem desistir e "tirar o corpo fora" enquanto era tempo, afinal ela era uma mulher de família. Dito e feito, mandou o cara "andar" e partiu prá outra. Ufa! - suspirou ela.

   A familia estava um tanto preocupada, os irmãos começaram a "fazer" suas vidas, foram crescendo, namorando e casando e Regina tentando erguer a sua sem sucesso e já passando dos trinta e cinco anos, já já era uma quarentona e nada sabia sobre o amor, poucos foram os momentos que aproveitou, porém bem longe do que realmente desejava. Mas agora com Renato talvez as coisas se ajustassem, pois era um antigo namorado que havia se separado da esposa e estava a procura de um novo amor, quer dizer, de um antigo amor. Regina se surpreendeu com aquela aparição assim de repente, Renato foi um exemplo de galanteador, gostava de Regina no tempo da juventude, acabaram e ele praticamente não havia dado motivo. Agora vão tentar novamente, talvez dê certo. Que nada! Deu foi errado, a ex-mulher dele resolveu voltar e armou o maior barraco, pois ficaram separados só alguns dias.

   Essa mulher estava já entrando em desespero, todo mundo já estava comentando, não tinha homem que desse certo com ela ou era ela que não dava certo com homem nenhum, mas ela não desistia, era deixando um e de olho em outro. E assim Regina ia deixando o tempo passar, ficava pulando de galho em galho feito macaco, sem encontrar a pessoa certa, sem encontrar seu verdadeiro amor.

   Hoje o tempo para Regina não representa muita coisa, não conseguiu amar um homem que a fizesse feliz, que formasse um lar, lamentando não ter tido a sorte de seus nove irmãos, todos já casados e ela com quase setenta e cinco anos sem nunca ter aprendido o que é amar, a única coisa que conseguiu já no final de sua vida, já "descendo a ladeira", foi arrumar um velho que tinha uma boa aposentadoria e viúvo há muitos anos, para viverem juntos até que a morte os separasse.

  

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 09/04/2022
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