Colecionei Papéis de Carta

Foi como flash de luz, o gosto.

O de colecionar papéis de carta.

Isto, depois do surto da vontade de colecionar: figurinhas, bolinhas de gude, chaveiros, “santinhos” de candidatos políticos às eleições. Vivi estas paixões.

A geração que participo, na infância e pré-adolescência, viveu também um poucochinho da paixão do colecionar papéis de carta.

Eu me enfastiei em usufruir da oportunidade.

Era pré-adolescente, possuída da medonha timidez para envolver-me a escrever para amigos que moravam noutras cidades, quiçá, para namorados. Assumi namoro sério somente aos dezoito, beijando pela primeira vez, inclusive. Mas, para ser acumuladora de papeis de carta, não! Amava.

Contudo, bem antes, aos meus dez, doze, treze anos, fui contaminada pelo grupo de amigas da época a colecionar papéis de carta. Enlouqueci, andava a cidade inteira de Santo Antônio da Alegria, atrás das meninas para troca dos papéis de carta.

Eram dos mais variados, cheirosos, da turma da boneca moranguinho, os românticos, os de seda.

Tinha os da “tropa de elite”, mais caros, marca Ambrosiana, encontrava-os para compra somente na Loja do Diobel. Eram papéis diferenciados, grossos, continham imagens lindas, casais beijando, abraçados, me realizava na possibilidade de enviá-los para os futuros namorados, nunca os trocava.

Apaixonei pela ideia. Pedir dinheiro para papai para comprá-los, era tortura, mas valia a pena me submeter ao esforço porque queria chegar ao topo; completar a coleção, preencher toda a pasta, ser a menina com mais variedade de papéis. O poder seria meu!

Foram meses, anos da paixão de colecionadora de papel de carta.

Manter-me na fileira de colecionadora de papéis de carta me custou caro.

Incontáveis vezes, me deparei com o fracasso de não poder ter tantos papeis como os das outras colecionadoras, e a aflição de ter que pedir dinheiro para papai comprar os papéis.

Não teve jeito não, fui em direção para mais idade, perdi posto para as colecionadoras que eram de família mais abastadas(algumas, compravam os papéis em bloquinho, as pastas delas viviam derramando dos mais variados, repetidos, outros, nem retirados dos saquinhos).

Eu nunca ia alcança-las no êxito da mais completa colecionadora.

Guardei a pasta com aqueles que tinha em estima, incluindo todos da ambrosiana. Quando comecei com os namoradinhos, usei alguns.

Até que a vida adulta se revelou, levando o gosto de colecionadora para o esquecimento.

A pasta preta com os papeis de carta dentro? Um enigma, fui dar conta de procurá-la anos depois na casa de mamãe, e nada.

Foi-se uma época bem vivida de colecionadora.

Talvez naquele momento, meu Ser dava os primeiros impulsos da paixão pela pena, pela caneta, pelo lápis, e pelo papel.

As letras , as palavras, os livros, os cadernos, os papeis...sempre me encantaram.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 28/01/2023
Código do texto: T7705704
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