Não quero estragar a festa

No segundo toque do telefone, alguém disse "alô" do outro lado da linha. Não era a mãe, obviamente. Respirou fundo e encostou-se na parede da cabine telefônica.

- Neil? Cadê mamãe?

- Sua mãe... - a voz hesitou por um segundo. - Acho que foi ao mercado, não a vi quando cheguei.

- Tudo bem por aí? - Estava desconfiado, mas tentou soar casual.

- Tudo tranquilo, Pete - assegurou Neil num tom relaxado. - E vocês, já chegaram?

- Faz uma meia hora. Escute essa: o local estava fechado, tivemos que ir atrás do zelador! Ninguém por aqui parece saber do show desta noite.

- Rapaz...

- Terry disse que havia colado os cartazes e agora descobrimos que foram todos rasgados! - Complementou Pete com irritação.

- Que bagunça! - Neil parecia genuinamente condoído. - Eu bem que te avisei que o Sam não conhecia bem essa área...

- Acho que agora isso ficou bem claro. Vamos ter que nos virar do jeito que der.

- Mas mesmo sem os cartazes, ele não pôs um anúncio no jornal local? Isso deve ser suficiente pra encher o local.

Pete mordeu o lábio superior.

- Olha... não teve anúncio nenhum. Uma confusão com o pagamento... só aceitavam dinheiro vivo e o panaca mandou um cheque!

- Diacho! - Exclamou Neil. - Sem cartazes, sem propaganda... não é melhor cancelar tudo e seguir direto pra Londres?

Pete suspirou.

- Não, viemos de longe e vamos tocar. Sam foi até o pub mais próximo, ver se arruma público. Lembre-se que ele reservou esse local por cinco sábados seguidos!

- Pelo visto, aí vão ter prejuízo - vaticinou Neil. - Mas com certeza, Londres será melhor.

Pete ouviu uma segunda voz no receptor. Desta vez, era inequivocamente a mãe falando pela extensão.

- É o Pete? Quero falar com ele...

- É o Pete, Mona, só um segundo...

Pete semicerrou os olhos. Mona? Desde quando Neil passara a chamar sua mãe pelo primeiro nome? Ah, se o pai estivesse em casa... mas ele quase sempre estava viajando a negócios, não é mesmo? Pete pigarreou.

- Neil?

- Oi... é a mamãe, Pete - disse a voz feliz em seu ouvido. - Fez boa viagem?

- Nove horas espremido num furgão, mãe. Mas chegamos e estamos nos preparando pra tocar... mesmo que não venha ninguém.

- Vocês sempre tocam com casa cheia - Mona surpreendeu-se. - Por que aí seria diferente?

- Longa história, mas parece que o Sam não fez o dever de casa, mãe.

E, subitamente, uma ideia que o fez sorrir surgiu em sua mente:

- Talvez fosse melhor trocar o Sam pelo Neil, mãe. Ele poderia ser o nosso "road manager".

Mona ficou silenciosa do outro lado da linha e isso soou como um incentivo para que Pete prosseguisse:

- Afinal, antes de ser meu amigo e nosso inquilino, ele foi colega de escola do John e do George. Pode ter certeza de que irão aprovar a mudança!

A voz de Mona voltou, cautelosa:

- Bem... acho que poderemos discutir isso quando vocês voltarem da turnê. Muita coisa pode acontecer nas próximas semanas...

Quando Pete voltou para casa, semanas depois, a primeira coisa que a mãe lhe mostrou foi um berço novo.

- Sim, você vai ter um irmão - anunciou ela solenemente. - E não, o seu pai ainda não sabe.

- [18-04-2023]