CONTRAILS CLOUDS

Puxem o foco e observem a ponta superior da contrail cloud, tem um prêmio especial, fiquei muito feliz com ele.

 

Desde criança sempre fui muito perfeccionista e simétrica no meu olhar para o mundo. É meu toc, toc... tudo certinho, um lado igual ao outro, os objetos sempre no mesmo lugar. Deslumbravam-me coisas organizadas, enfeitadas e brilhantes.

 

Até meus dezoito anos morei numa cidade muito pequena e não tive contacto com o cotidiano de uma cidade grande. Em consequência, meus sonhos também limitavam-se àquele horizonte.

 

Com a ajuda de um anjo vivo, enviado por Deus, meu tio, nesse tempo vim fazer vestibular e frequentar curso universitário em Goiânia, uma cidade enorme para meu pequeno padrão. O cotidiano agitado ocupava-me dia e noite com estudos.

 

O curso superior que eu fazia era horário integral e tínhamos um intervalo para almoço de duas horas. Após enfrentar as enormes filas do restaurante universitário, costumávamos formar grupos de colegas, para conversas divertidas, no pátio aberto entre os institutos específicos dos cursos.

 

Belo dia de céu límpido, reunida com um grupo de colegas, nesse pátio, face à minha calourice em cidade grande, fiquei totalmente alheia à conversa do grupo, arrazoada em deslumbramento por uma nuvem retinha, branquinha, perfeita, cortando o azul maravilhoso do céu.

 

Achei-a tão esplêndida que postei-me estatificada, quase em reverência por aquela visão, esquecida do tempo e absolutamente alheia ao burburinho dos colegas. Até que um deles interpelou-me: "Ó estátua, o que está fazendo olhando para o céu sem nada?"... Assim começou o diálogo jamais esquecido.

"Estou só admirando aquela nuvem retinha, branquinha e perfeita, linda!"...Respondi.

"Bicho do mato, aquilo não é nuvem, é fumaça dos mirrages que passam aqui para Anápolis"... Esclareceu ele.

"Mirrages?...Fumaça?..." Novidade no meu universo!

"Éeee, coisa esquisita, você nunca viu?...retrucou ele.

"Não"... Eu sentindo-me desinformada.

Nesse ínterim, todos caíram na risada, por aquele diálogo interessante, zombando  da minha situação. Eu chocada, totalmente sem mais palavras, só não chorei ali por vergonha própria, fiquei muda ouvindo os gracejos.

 

Esse foi meu contacto de primeiro grau, absolutamente íntimo, com uma Contrail Cloud da qual me enamorei inesquecivelmente. Aquele momento ímpar entrou para minha memória episódica, ficando aí guardado.

 

No entanto, minha fascinação pela explicada "fumaça de avião" perdura no sempre e nesta viagem já contemplei-a muito.

 

Muitos anos após, viajando com um ex esposo, que é aviador da aeronáutica, de repente, bem à frente do carro, lá estava uma perfeita contrail. Imediatamente, lembrei-me daquele fatídico e desonroso dia de calourice universitária, contei-lhe a história.

 

Ele ouvindo os fatos narrados, disse-me: "Você estava certíssima, aviões não emitem fumaça, eles emitem gases de exaustão que condensam e formam essas nuvens lineares."

 

Nossa, meu coração suspirou, lavei minh'alma, banhei a vergonha intrínseca guardada daquele diálogo e zombarias dos colegas.

 

Hoje, continuo com o mesmo encantamento pelas Contrails Clouds e sou praticamente uma caçadora com objetivas sempre no foco. E penso, existe Beleza de Deus em tudo, no entanto, cada pessoa tem sua individualidade, fetiches, fascinações, etc. Características respeitáveis, pois nesses quesitos encontramos a beleza humana, ou seja, as diversidades emocionais e fenotípicas em nossa espécie conjugadas com o arbítrio de podermos interagir harmonicamente com o universo que nos cerca.

 

 

 

 

 

 

 

 

Mariaga
Enviado por Mariaga em 24/04/2023
Reeditado em 02/05/2023
Código do texto: T7772104
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