Cabeleira do ZéZico

Cabeleira do ZéZico

Lá se iam dias, meses e a cabeleira de Zico só aumentava.

Não eram poucas, os mandos e reclamos da Mãe Cezê, também de amigos e tal.

Conta ele que até um emprego, ficou em jogo, pois ainda que a preguiça parecia o motivo, o mais forte é que gostava daqueles encaracolados, na altura certa do seu sucesso com as meninas.

Certa feita Dona Eunice, chefe do Recursos humanos, lhe deu ultimato, das tantas já anunciadas, para vê-lo mais comportado no visual.

- Olhe aqui, Zé: Caso na segunda feira, chegue aqui do jeito que está, pode procurar outro local de trabalho.

Nem tomando notas das queixas, com seus dezessete anos, idade adolescente, por onde o que menos contava, seria, mudar dos agrados que tinha, naquele presente romântico e roqueiro, das noites que apresentavam pelos modos da juventude, ao seu ver, ideal.

Dito e feito.

De retorno à Dona Eunice e a frase gélida, repetida, repassada para ele:

- O que foi que disse da última vez?

- Vou preparar a sua saída.

No entanto uma senhora que estava sentada ao lado, antes que houvesse mais uma indagação da Chefe, pergunta:

- Como você faz isso, menino? Que cabelo bonito, me diz!

Zé, então, rapidamente, como se não houvesse amanhã, se põe a contar:

- Mãe Cezê tem um tanque que recebe água da chuva, sempre cheio.

- Usa vezes ou outra para regar suas plantinhas.

- Acordo, me arrumo, tomo café, vou até ele, enfio a cabeça ao máximo que posso, me aprumo, dou umas chacoalhadas, e chispo para chegar aqui:

- Simples assim.

Dia seguinte, passa na secretaria para acertar as contas e ouve:

- Tem gosto pra tudo!

Ocorreu que tinha que passar na diretoria, e avista aquela senhora, junto dos demais, reunidos.

Pergunta a uma colega, quem seria aquela senhora grisalha, e tem o melhor do que poderia imaginar:

- Ela é uma das proprietárias da loja.

- Pensam que o fim ficou nisso?

Mãe Cezê, hábito dela, nunca ia direto quando queria do seu jeito.

A cabeleira já no seu tamanho exagerado, tinha que vir abaixo, e lá foi ele ter com Izaura, acostumada nos seus picotes e sabida da sua, digamos, preferência...

Já que não havia outro modo de torná-lo, dentro da linha que ditavam os mais conservadores, e ao mesmo tempo, imaginando para poucos meses de retorno ao seu chamariz, aceitou gosto, na sua nova aparência momentânea.

Consumado a operação, eis ele, em frente à Mãe Cezê, que não mediu esforço na sua costumeira frase de observação, para, também, com os outros irmãos:

- Zico, Você deixou o Zé no salão?

José Corrêa Martins Filho
Enviado por José Corrêa Martins Filho em 07/08/2023
Reeditado em 11/08/2023
Código do texto: T7855638
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