A lagoa do Seu Sebastião

Tenho um amigo que se chama Edinei (Dinei), e este tem um tio que se chama Eurípedes, Ti Oripi, para os íntimos.

O Ti Oripi mora em um sítio, a uns quatorze quilômetros da cidade e gosta muito de caçar e pescar, assim como meu pai.

Eu e o Dinei também gostamos de pescar e caçar de vez em quando, e certo dia, fomos visitar o Ti Oripi, chegando lá ele veio nos contar que no sítio do vizinho, o Sr. Sebastião, tinha uma lagoa, na qual sempre se via dois jacarés, um grande (1,5 metros, mais ou menos) e um menor e que eram quase domesticados, mansos mesmo, pois quando o Seu Sebastião matava galinhas ou porcos, jogava as barrigadas para os dois comerem e os mesmos foram se acostumando.

Seu Sebastião não deixava ninguém chegar perto da lagoa, dizia que aqueles dois jacarés ninguém matava e nós sempre loucos para comer uma carninha de jacaré à passarinho...

Certo dia, numa quinta, o Ti Oripi veio até a cidade e falou para o Dinei:

_Olha, parece que um dos jacarés pegou o cachorrinho de estimação do Seu Sebastião e ele disse que se vocês quiserem, podem ir lá e dar cabo do bicho...

Quando foi na sexta-feira à noite, fomos para o sítio do Ti Oripi e ele carregou dois cartuchos calibre 12 com chumbo 3T para a gente matar os jacarés do Seu Sebastião, eu peguei uma fisga (espécie de zagaia), pois com o menor, não valia a pena gastar cartucho.

Calçamos as botas e fomos para o sítio do Seu Sebastião. Chegando lá, ele disse que os jacarés não mataram só o cachorrinho de estimação, mas o pastor alemão de guarda também e que ele só ouviu o grito do cachorro na boca da noite e não viu mais nada...

A lagoa era sinistra, cheia de cana-brava e aguapé, e a gente só levou uma lanterna e entramos os três, Ti Oripi, com a lanterna, Dinei com a espingarda e eu com a fisga.

O jacaré aparece melhor à noite, pois quando você joga o foco da luz nele, seus olhos brilham feito lâmpada e fica fácil acertar o tiro, porém, ficamos das 8:00 da noite até a 01:00 da manhã, com água até o peito, andando a lagoa toda e nada de ver nem sinal de um jacaré, sequer, porém, víamos que muitos peixes, pulavam na hora em que a gente passava.

Desanimados, molhados, com fome e frio, resolvemos voltar, frustrados por não ter caça...Mas o Ti Oripi, como não desanima, resolveu, uma semana depois, pedir para o Seu Sebastião para armar umas redes para ver se pegava alguns peixes na lagoa. Seu Sebastião concordou e o Ti Oripi foi lá na boca da noite e armou uns 30 metros de rede, para pegar traíra, chimburé, acará e papa-terra, só que no outro dia, pela manhã, o Ti Oripi foi recolher as redes e se assustou, enrolada na rede, apenas com a cabeça para fora, lutando para não se afogar estava uma sucuri de mais ou menos 9 metros de comprimento e o Ti Oripi, lascou-lhe um tirombaço de 3T, e abriu a barriga da bicha, para a surpresa dele, o jacaré maior tava lá dentro da barriga dela, já quase desmanchando...

Ti Oripi ligou para o Dinei e chamou para a gente ir lá para ver o couro dela, e era realmente enorme; e percebi que dentro da água, a cobrona afogaria e mataria um homem tranquilamente e acho até que conseguiria engoli-lo inteiro...

Acho que esse negócio de entrar em lagoa, ficou perigoso, prefiro ficar no barranco e beber uma pinguinha ou uma cervejinha gelada e esperar a carne fresca, mas o Ti Oripi, não perdoou a sucuri e comeu carne de cobra por mais de um mês...

BORGHA
Enviado por BORGHA em 15/02/2008
Reeditado em 15/02/2008
Código do texto: T860612
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.