Uma cobra não morre duas vezes

Minha mãe era uma mulher audaciosa ,destemida,de uma coragem inabalavel.Saia com uma turma de crianças (seus filhos)pequenas,e enfrentava qualquer adversidade,para defendê-los.Andava uma légua,à pé,indo até à cidadezinha de São Gonçalo do Rio Abaixo,para assistir a Santa missa,aos domingos e dias santos,passava por algum atalho,onde vez por outra ,enfrentava uma vaca brava,ou algum lobo,que acordava com o tropel dos passos,pois muitas vezes iamos com o despertar da aurora,ainda molhando os pes no orvalho dos ramos que beijavam o caminho.

A caminhada até a casa da vovó era rotineira.Sempre íamos correndo na frente,a brincar e saltar,tentando apanhar uma borboleta,ou as belas flores de cipós variados que ornavam a estradinha de areia branca com pedrinhas reluzentes.Volta e meia um coelho , uma lebre ou um preá,atravessavam o caminho nos pregando pequenos sustos.

Cobras por la era coisa muito comum,se não tomasse cuidado,poderia ter alguma surpresa desagradável.Era coisa normal matar alguma delas,em pouca distância de caminhada.

Saimos após o almôço, para a ida à casa da vovó,levando preparos,para o biscoito as bolachas e brôa de fubá.So de imaginar ja vinha o gosto na bôca ,daquela saborosa quitanda,que exalaria o cheiro pelo terreiro,e, até mesmo onde se encontrava o engenho de cana de açucar.

Naquela euforia,caminha a turma animada ,rumo à casa da vovó;as crianças maiorzinhas ajudando mamãe a transportar os ingerdientes,para as quitandas,e os outros a correr na frente ,ouvindo vêz em quando os ralhos da mamãe,alertando sobre os perigos do caminho.

Chegando perto do ribeirão ,onde ja se podia ver a fumaça da chaminé,subindo para o céu azul,sobresalta-nos um barulho de chocalho,bem á beira do caminho.Mamãe vem depressa,procura um pedaço de pau,para matar a cascavel,que se enfeita toda com o bote armado.Ñão encontrando nada melhor ,pega um galho todo torto e ja meio podre,e com aquela abilidade ja adquirida por experiência,acerta o bicho,quebrando lhe a espinha,golpeia-lhe tambem a cabeça até ter certeza que a façanha foi bem sucedida.

As quitandas cheiram longe e dão água na boca,mamãe prepara tudo para retornarmos á nossa casinha,em companhia do papai ,que ja largou o serviço ,pois a tarde ja se faz presente,e as sombras ja tomam conta do caminho.Eis que surge um tio todo prosa ,pois, é de hábito dele, apossar-se dos feitos de outros,e diz todo garboso ,para os presentes, com aquele seu geito arrastado de conversar:

_Cabeeeeeeeei de mataaaaaaà uma cascaveeeeeeeeir inooooooormi aliiiiii inda agooooooora,na boooôca do reberaaaaaaaaão ,a danaaaaaaada nem mexeeeeeu quaaaaaaado mití o paaaau na cabeeeeeeeça deeeeeeeela.Mamãe a sorrir diz um pouco sem graça,pois todos ja zombavam dele:Ôh! João,cobra não morre duas vezes,ela ja estava morta,eu a matei, na vinda pra cá.

Este é mais um causo acontecido la pelas beiradas do Machado,onde coisas inacreditáveis aconteceram.

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Lucina Duarte
Enviado por Lucina Duarte em 10/03/2008
Reeditado em 10/03/2008
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