PANELADA DE ADVOGADO

Quando a figura ancha de Dr. Chiquinho adentra à secretaria da 4ª Vara Cível da Comarca de Natal, temos todos a garantia de que vamos dar algumas boas gargalhadas. Ele mesmo inspirou-me a crônica “O dia em que Cascudo foi preso”, e desde então tenho tentado convencê-lo a escrever as suas memórias. No que me responde:

_ Não tem futuro não, porque eu corro o risco de ser preso, e eu tenho filhos e netos. Tento persuadi-lo de que ele poderia contar o milagre sem revelar o verdadeiro nome do santo, bastando substituir o nome real dos personagens por nomes fictícios. Os casos continuariam verdadeiros. Não adianta, o velho Dr. Chiquinho passa a mão na testa, balança a cabeça papa-jerimum das terras de Florânia e diz:

_ Rapaz, é melhor não.

São casos em profusão. A cada vinda, conta-nos quatro ou cinco episódios em menos de 10 minutos, todos hilários, deliciosos e que me fazem lembrar a frase, cuja autoria não me recordo, que sentencia: “não há comicidade fora do que é propriamente humano.”

Desta feita registrei um em que ele mesmo fora um dos personagens centrais. Na qualidade de advogado de acusação num caso complicado de assassinato na cidade de Catolé do Rocha, interior paraibano, após a sentença condenatória ter sido proferida e vendo o clima esquentar dentro do tribunal do juri, tratou de sair às pressas para não ter que se explicar junto a alguns daqueles populares que queriam ver o réu absolvido. Quando já ia entrando aliviado em seu carro, um parente do condenado, encostou-se no carro e disse:

_Eu vim convidar o senhor para uma panelada.

Antes que Dr. Chiquinho dissesse qualquer coisa, o cidadão emendou:

E sabe que a mistura vai ser bucho com tripas de advogado. Foi o suficiente para Dr. Chiquinho dar partida no automóvel e sair de lá em disparada.

Marcos Cavalcanti
Enviado por Marcos Cavalcanti em 22/04/2008
Reeditado em 29/04/2008
Código do texto: T957369
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