CAUSOS DA BOLEIA – FRACASSAR É TRISTE, MAIS TRISTE É NÃO TENTAR VENCER

CAUSOS DA BOLEIA – FRACASSAR É TRISTE. MAIS TRISTE É NÃO TENTAR VENCER

Quando o caminhão acabou de ser carregado com produtos de artesanato, já estava anoitecendo. Pretendia sair logo que o sol começasse a despontar. Com o calor que estava fazendo eu queria pegar a estrada ainda fresquinha, ver a serração bater no para-brisa, entrar pela janela e deixar o meu rosto úmido e geladinho. Ah, como eu gosto disso!

Então, tomei um banho relaxante e me deu vontade de tomar uma cerveja para molhar a garganta e amenizar o calor que o Sol deixou na terra depois de um dia inteirinho. Naquele momento, ele estava indo embora para o outro lado da Terra. Dava para ver o vermelhão lá no horizonte e o reflexo nas nuvens de algodão. Passou bem longe, riscando o clarão do ocaso, um vê de pássaros retardatários. Era bonita aquela imagem. Dali a pouco, do outro lado, iria aparecer a Lua cheia, grande e amarela. Subiria devagar, majestosa, a rainha da noite.

Entrei num bordelzinho, daqueles de lâmpada vermelha para indicar o negócio. Algumas quengas estavam sentadas, conversando, perto da porta de entrada. Naquela hora os clientes ainda eram poucos. Então, para passar o tempo, elas ficam jogando conversa fora, compartilhando os seus problemas.

Sentei-me a uma mesa num canto, junto a uma janela, para ficar olhando o movimento na rua. O recinto estava praticamente vazio, a freguesia se constituía de três homens conversando, sentados a uma mesa e outros dois acompanhados cada um com uma quenga da casa. A rádio vitrola tocava uma música lenta e duas mulheres estavam dançando sozinhas numa espécie de palco.

Uma das que estavam do lado de fora, entrou e sentou-se num banquinho perto do balcão. Ficou me olhando muito, o que me deixou curioso. Então, eu fiz sinal para ela, levantando o copo como se estivesse oferecendo a bebida. Ela aproximou-se com outra garrafa na mão e sentou-se.

- Você é do Rio de Janeiro?

- Sou. Por quê?

- Eu vi na placa do caminhão quando você estacionou no posto de gasolina aqui em frente. Eu estava sentada do lado de fora, fumando.

- Então por que perguntou?

- Sei lá! Só pra confirmar. Você não quer ir pro quarto comigo? Não está interessado em fazer amor?

Olhei para ela e pensei: “Bem que estou precisando. Mas o meu receio é tremendo de pegar doença venérea nessas casas”. Nem cheguei a responder, acho que ela notou que titubeei e disse:

- Não tem perigo não. Eu não tenho doença alguma. Inclusive moro com um companheiro. Ele está desempregado e esse foi o único meio que encontrei para sustentar os meus filhos. Eu nunca trabalhei antes. Em todo caso, você pode, até deve, usar preservativo. Se você não tiver, eu sempre trago alguns comigo. Afinal sou a maior interessada em me preservar.

Não esperou que eu respondesse. Pegou a minha mão e me levou para o quarto. É certo que também, não ofereci qualquer resistência. Ela fechou a porta, e eu sentei na cama, que estava coberta por uma colcha de franjinhas muito usada, de motivos florais já bem desbotados pelo tempo e pelas lavagens. O quarto cheirava a perfume barato, alfazema, eu acho. O mobiliário se constituía de uma mesinha de cabeceira, uma cadeira de encosto em palha, que também já estava rasgado, e uma pequena cômoda envernizada, com marcas redondas no tampo, provavelmente de vidros de perfume, ou de copos de bebida. Sobre ela, uma jarra de plástico branca com três rosas vermelhas, empoeiradas, do mesmo material.

- Eu ainda não sei o seu nome – eu disse.

- Eu me chamo Rosalina - falou enquanto desabotoava o sutiã e passava as alças pelos braços, uma de cada vez -, mas aqui as meninas me chamam de Rosa - dirigindo-se para a cadeira e pendurando a peça no encosto do móvel.

- E você, como se chama? – perguntou enquanto se abaixava um pouco para passar a calcinha pelos pés, depois de fazê-la escorregar pelas pernas, pondo-a, em seguida, enrodilhada, sobre o assento da cadeira.

- O meu nome é Rui Barbosa, mas pode me chamar só de Rui.

A despeito de ser a primeira vez que nos víamos, desfilou, sem pudor e com toda a naturalidade, o seu corpo ainda em forma, apesar da profissão, indo e voltando, no trajeto entre a cadeira e o local onde eu estava sentado na cama.

Percebendo que eu a estava apreciando, aproximou-se de mim e, servilíssima, tirou a minha camisa e falou:

- Você deve estar perguntando por que tenho os seios firmes apesar dessa profissão. É porque eu não permito que apertem, por isso ainda estão assim.

Ela arrumou o meu blusão no encosto da cadeira, escondendo o sutiã, e me empurrou para eu deitar na cama. Desafivelou o meu cinto e puxou a calça. O sapato eu já havia tirado e arrumado embaixo da cama, como de hábito, com a respectiva meia dentro de cada pé. Ela acomodou a minha calça, também, sobre o encosto da cadeira.

Depois,deitou-se na cama, ao meu lado, após desligar a lâmpada que pendia do teto, envolta por uma luminária redonda que provocava a formação de círculos concêntricos no teto, sombra e luz, alternadamente. Não sei para onde foi a borboleta, uma bruxinha que estava pousada na luminária, depois que lhe faltou o motivo para estar pousada ali. Não sei por que aquele tipo de inseto de hábito noturno é chamado de bruxa. Ela, a Rosalina, acendeu um abajur que estava sobre a mesinha de cabeceira. Lembrei-me da minha mãe, nada a ver uma com a Rosalina além do fato de serem mulheres, mas por que ela chamava aquele tipo de móvel de criado-mudo. Eu uma vez perguntei a ela a razão daquele nome, mas minha mãe não soube responder. Eu deduzo que é porque fica sempre ao lado da cama, dia e noite, segurando a luz e guardando os objetos sem reclamar e sem contar as coisas que ouve e vê. A perna morna da Rosalina sobre meu sexo e os braços sobre o meu peito me chamaram à realidade. Uma realidade macia e gostosa, privilegiando quem tem ao mesmo tempo instinto e razão.

Com a cabeça dela deitada sobre o meu peito, eu consultei o relógio para conferir as horas, eram dez horas da noite. Ela deitou-se de costas olhando para o teto e falou:

- Eu me aproximei de você pra tentar lhe conhecer e ver se é uma boa pessoa – ela disse virando-se para mim, apoiando o rosto na mão e o cotovelo no colchão –. Eu quero pedir pra você fazer uma coisa por mim. Como eu já lhe disse, o meu companheiro está desempregado há mais de um ano e, por isso, estou nessa vida, pra poder sustentar os meus filhos. Eu tenho três: dois meninos e uma moça de dezesseis anos. Estou com muito medo de deixá-los com ele, principalmente a menina. Ele anda bebendo muito, estou até pensando em mandá-lo embora. Tenho medo que ele se aproveite da minha filha, abuse dela. Ele já ameaçou a Daniele algumas vezes porque ela me defende quando ele fica me xingando de vagabunda, já até bateu com um pau na cabeça dele. É por ela que eu vou pedir um favor: Eu tenho uma irmã que é freira num convento em Petrópolis, lá no Rio de Janeiro. Leve a minha filha contigo e deixe com ela - implorou, com os olhos marejados, para eu levar a filha daquele lugar.

- Mas como é que eu vou chegar assim, sem mais nem menos, com a sua filha e dizer pra sua irmã que você me pediu pra deixar a menina com ela?

- Eu vou escrever uma carta pra você levar, contando tudo direitinho. Depois eu vou também, com os outros dois filhos pra juntar a família de novo.

- Mas e se eu não encontrar a tua irmã lá no tal convento? O que é que eu vou fazer com a tua filha no Rio de Janeiro? – Eu perguntei.

- Se por acaso você não encontrar a minha irmã, mas eu tenho fé que Deus vai me ajudar, você traz ela de volta pra cá, quando vier pra essas bandas de novo. Faça isso por mim e por ela, pelo amor de Deus.

Eu cocei a cabeça pensando que tinha que ser justamente eu a encostar o caminhão naquele posto para refrescar a garganta. “Só você mesmo Rui!” - Disse para os meus botões.

- Você está pedindo a um homem que acabou de conhecer pra levar sua filha de dezesseis anos. Como é que você confia assim nos outros? – Eu disse.

- Eu tenho certeza que você não vai fazer nada com ela. Confiança que deixei de ter no meu companheiro. Sei que você é uma boa pessoa pela maneira que se comportou comigo. Faça isso por mim, por favor! O risco que ela corre aqui é muito maior.

- Está bem, eu sou um bobão mesmo! Espero que eu não me arrependa. Levo a sua menina, mas continuo com muito medo de não encontrar a tal freira, a sua irmã. O que vou fazer com a garota lá no Rio? Vou ter que ficar viajando com ela até vir pra cá de novo...

- Vai dar tudo certo. Você vai encontrar a minha irmã sim. Eu confio em Deus, ele vai me ajudar.

Fizemos amor de novo, e eu senti toda a gratidão que a mulher podia me dispensar. Era quase meia noite quando eu saí do bordel e fui para o meu caminhão. Ela disse que assim que saísse dali iria correndo para casa buscar a filha para não comprometer o meu horário.

Quando eu fui pagar, ela perguntou se podia deixar só o da cafetina.

- Quanto é? – Perguntei.

- O dela é só dez reais – ela respondeu.

Por via das dúvidas deixei trinta reais sobre a cômoda.

Fui para o caminhão dormir o resto da noite. Na verdade não consegui dormir direito, minha cabeça era um turbilhão de pensamentos pela responsabilidade que eu estava assumindo. Poderia simplesmente ter dito que não poderia fazer aquilo, vestido a minha roupa e ido embora. Talvez ela nunca mais me visse mesmo! Mas eu reconheço que tenho esse defeito. O danado do meu coração é muito mole. É por isso que, às vezes, eu me meto em enrascada.

Bem cedinho ela estava lá de volta. Eu ainda estava olhando para o teto da boleia, com a cabeça apoiada nos braços cruzados, o pensamento passeando pelas incertezas e tropeçando nas dúvidas. Ouvi o barulho de sapatos pisando o cascalho da terra, ao lado do caminhão, e o comentário baixinho: “Acho que ele ainda está dormindo. Não sei se bato...” Alguns segundos se passaram. Depois ouvi três leves batidinhas na janelinha do caminhão. Abri a porta e desci. Ela me deu, sem cerimônia, um beijo de leve no rosto, para reforçar a intenção de me convencer ou como um agradecimento antecipado, talvez.

- Eu trouxe a Daniele, a minha filhinha - disse ela, envolvendo a garota pelos ombros. Eu expliquei tudo pra ela, é uma boa menina a minha filha, você vai ver.

Até que a garota era bonitinha mesmo. A mãe tinha razão em ficar preocupada. Eu perguntei se os documentos dela estavam na mochila que ela carregava. A mãe disse que não. Procurou na gaveta onde ela costuma guardar essas coisas, mas não encontrou.

- Assim eu não posso viajar com ela. Sem nenhum documento – eu disse.

Mas como eu já estava comprometido mesmo, combinei que a gente ia esperar o cartório abrir para pedir uma cópia do registro do nascimento dela. Só ia atrasar um pouquinho a partida.

O escrivão perguntou o nome e a data do nascimento da garota.

- O nome dela é Daniele Maria da Silva. Nasceu em 12 de junho de 1992 – disse Rosalina.

Ele Perguntou o nome do pai e da mãe.

Ela falou: meu nome é Rosalina da Silva e o pai Orlando da Silva.

O funcionário do cartório confirmou e emitiu o documento.

- Agora a gente já pode viajar sossegado - eu falei quando deixamos o estabelecimento. A gente tem que ir embora.

As duas se abraçaram e choraram muito. Rosalina jurou que logo iria encontrar com a filha. Depois eu ajudei à garota a subir no caminhão e pusemos o pé na estrada, ou melhor, eu pus o caminhão na estrada. Elas ficaram acenando uma para a outra até a mãe ficar pequenininha lá bem distante.

Já estava escurecendo quando avistei um carro de polícia bloqueando parte da pista. Pedi que ela pulasse para o compartimento de dormir do caminhão. Queria evitar problemas.

- Olá Policial! O que houve? – Eu perguntei.

- É só pra avisar que a pista está muito escorregadia a uns três quilômetros daqui, justamente numa curva, um caminhão derramou óleo. Está muito perigoso, principalmente porque a noite está caindo rápido. Vá devagar e muito cuidado! Boa viagem! – disse o Policial.

- Ok, seu guarda, muito obrigado. Boa noite!

Assim que o guarda virou as costas ela já tinha sentado ao meu lado.

- Eu estava tremendo de medo. Já pensou se ele me vê aqui? Será que ia dar encrenca? – Ela perguntou.

- Sei lá, do jeito que as coisas andam por aí, exploração sexual de menores, pai vendendo filha... Pode até ser que ele pensasse que tivesse alguma coisa com essas transações. Nem sei se ele poderia me prender pra averiguar, na certa ia tentar arrancar uns trocados de mim – eu disse.

Naquela noite eu tive que alugar um quartinho num estabelecimento perto de um posto de gasolina e registrá-la como se fosse minha filha e dormimos em duas camas de solteiro. Na manhã seguinte, partimos e o problema maior aconteceu na hora do almoço. Paramos num restaurante com a intenção de comer alguma coisa, mas tinha lá uma cafetina que pensou que eu estava com a menina para vender e foi falar comigo. Inventei que era minha sobrinha e que a estava levando para o Rio de Janeiro a pedido da mãe dela, minha irmã, para que estudasse e pudesse trabalhar e ter uma vida melhor. Onde ela morava a situação estava muito ruim, uma miséria danada por causa da seca. Mas, ela, também, achava que não é vida para uma moça.

A danada da mulher disse que sabia que eu estava tentando enganá-la, porque nos viu lá no cartório. Tinha certeza que eu tinha comprado a garota daquela mãe infeliz e queria a menina de qualquer jeito, senão iria me denunciar à Polícia. Eu perdi a estribeira e mandei que ela fosse para o inferno.

Muito irritado, falei: “Vamos embora Daniele, antes que eu me aborreça e a coisa esquente por aqui”. Saímos porta a fora e entramos no caminhão com ela me seguindo muda e assustada. Fez o caminho entre o restaurante e o caminhão olhando para o chão. Peguei a estrada e arranquei forte para me afastar do problema que estava esquentando os meus miolos.

Mas não é que a danada da mulher ligou para a Polícia e me denunciou!

Quando me aproximei de um posto de polícia, um guarda fez sinal para eu encostar o caminhão. Pediu os documentos do veículo e os meus. Depois, os documentos relativos à carga. Após examinar tudo detidamente, disse que os documentos estavam em ordem, mas tinham recebido um alerta de que eu estava carregando uma menina e que, provavelmente, iria vendê-la em alguma cidade.

- Já até sei quem foi Policial. Foi uma mulher que estava lá no restaurante que a gente estava almoçando, eu e Daniele, uma cafetina. Quer dizer, minha sobrinha. Cafetina é a mulher. Moço, eu não estou traficando garota nenhuma. Ela se referiu a essa menina que está sentada ali no caminhão. Ela é minha sobrinha, tem dezesseis anos e eu estou levando ela pro Rio. A mãe dela morreu. Era minha irmã e me pediu, no leito de morte, coitadinha, que a trouxesse comigo e a deixasse na casa de outra irmã nossa. Ela achava que o pai não ia dar conta de cuidar dela. É uma moça bonita e ele é um beberrão, por isso me fez prometer isso. Vou mostrar a certidão de nascimento dela.

– Pega aí a sua certidão, Daniele, pra eu mostrar pro guarda - falei pra ela.

Mostrei a certidão. Ele examinou, olhou para menina e depois para mim.

- Você confirma o que ele disse? – Perguntou para a Daniele.

- Confirmo, sim senhor – ela respondeu.

- Tá tudo certo. Até que ela tem uns traços seus, deve ser de família. Mas o senhor sabe, seu Rui, que tem muita gente se aproveitando dessas meninas por aí e, como eu recebi a denúncia, tenho que fazer o meu trabalho. Mas podem seguir tranquilos e boa viagem. Se tiver algum problema adiante, peça pra passarem um rádio pra mim – ele disse.

- Obrigado Policial. Espero que não tenha mais problemas mesmo. O que aconteceu hoje já foi o bastante. Agora o senhor vê: a mulher se aproveita das meninas, bota elas na vida, na prostituição; à mercê de todas essas doenças que a gente sabe, e as que a gente não sabe também, e ainda fica tentando prejudicar quem é honesto, um simples caminhoneiro como eu! Talvez a minha sobrinha, tivesse o mesmo destino, se não fosse alguém preocupado como a mãe dela, até na hora da morte, coitadinha. E se não tivesse alguém pra ajudar, também, como eu? Sorte dela que tem um tio. Muitas delas não tem escolha e acabam caindo nas garras desse bando de aproveitadores. É lá no bordel dela que a polícia tinha que dar uma batida, botar essa gente na cadeia.

Voltei para o caminhão e o pus em marcha, de volta à estrada.

- Ainda bem que nós fomos ao cartório tirar essa bendita dessa certidão, senão eu estava enrascado e você ia acabar caindo nas mãos daquela dona – disse para a Daniele. Eu vou te dizer uma coisa – continuei - Esses lugares prosperam porque tem muitas autoridades que em lugar de irem lá e fechar o estabelecimento, vão pra se aproveitar, usufruir das meninas. Muitos têm filhas da mesma idade delas, da sua idade. Não sei como eles têm coragem e não têm remorso de terem relações sexuais com as pobrezinhas desamparadas. Pior que muitos pais e mães vendem as próprias filhas por uma ninharia, muitas vezes pra dar comida ao resto da família e elas é que pagam o preço da miséria. Mas logo o dinheiro acaba, a fome volta e perdem a filha pra vida, até morrer doente com AIDS. Eu não sei o que vai pela tua cabeça, mas pela dedicação da sua mãe, você certamente escapou desse destino.

Chegamos a Petrópolis e logo encontrei o tal convento. Foi muita sorte. A tia dela estava lá, era uma das diretoras. Leu a carta que a menina entregou a ela, olhou-a com lágrima nos olhos e a abraçou por longo tempo. “Você é a cara da sua mãe quando era pequenina!” – Disse para a Daniele.

Fiquei tamborilando os dedos no tampo da mesa, olhando a vista através da janela. No galho de uma árvore florida, pousou um pássaro amarelo. Emitiu um gracioso trinado, e se foi, livre, como tudo deveria ser. Quando despertei do meu devaneio, elas estavam me olhando, sorrindo pela minha distração.

- Eu vou mandar dinheiro pra sua mãe comprar as passagens pra ela e pros teus irmãos. Minha pobre irmã... coitada... Vendendo o corpo pra sustentar os filhos. Em que ponto ela chegou! Mas Deus há de perdoá-la, porque foi pra dar o pão aos filhos – disse a freira. “O senhor é um bom homem, de muita coragem também. Íntegro, bem se vê. Deus há de lhe recompensar muito, porque o seu ato foi impagável.

Eu estava realmente aliviado. Toda aquela apreensão que durou a viagem inteira, a preocupação de não encontrar a irmã, acabou de repente. Então, veio o relaxamento, uma calma incrível. Eu fiquei feliz por ter ajudado aquela mulher. Eu pensei: “Ela vai conseguir realizar o seu objetivo e refazer a sua vida. É uma mulher muito corajosa”.