Enfim... um beijo.

Onze da manhã. Ela olha freneticamente o relógio de pulso que ganhou da mãe. Lembra que de primeira odiou o bichinho, pela cor ser rosa choque. Hoje nem ligava para o fato. Desvia o olhar e se depara com aquele bando de gente correndo desesperada, outros dormindo, outros ainda lendo e conversando. E ela ali, esperando, trêmula, ansiosa e temendo. Temendo que ele não aparecesse. Ele. Foi pensar nele e no fato que a qualquer instante olharia enfim seus olhos, que ela estremeceu. Sentiu o coraçao bater mais rápido. E lembrou-se como tudo começou. E riu. Aquele sorriso de quem lembra algo bom no meio do dia, aquele sorriso de quem espera. E olhou novamente o relógio. Onze e vinte. Maldita hora que não passava. Lembrou que tinha uma escadaria imensa para descer e pensou: Melhor me apressar. Na escadaria, pensava no que ia dizer, como ia se portar! Deveria beijá-lo de cara sem ao menos dizer oi? Ou aperto de mão era o mais apropriado? Hmm, frio demais talvez. Beijo no rosto. Isso! Esse tava bom. E o vermelhidão? Ai, como iria esconder? Oculos? Óculos! Salvador da pátria. Mas ia parecer... toca o celular. E ela para o pensamento. Quando olha, um número desconhecido. Atende. Aquela voz... aquela voz era conhecida. Ele. Todos os pêlos do seu corpo arrepiaram. Ela sentiu o tempo parar, que nem tinha visto diversas vezes no cinema. As pessoas que a cercavam, a escadaria que descia, tudo sumiu. Era apenas ela com aquele celular. Clichê não? Um dos mecanismos que a fez se apaixonar por ele. Ele dizia que tinha chegado e que já estava ali, na rodoviária. (Coração pulsando a mil, pernas bambas, cabeça girando. Ele está aqui.) Que aliás, já estava subindo as escadas quando se deparou com uma menina pensativa descendo. E que teve a nitida impressão que aquela menina era ELA. Nesse instante, tudo que ela tinha visto parar voltava a se mexer. E a escada que a minutos atrás tinha sumido, voltava a ficar sob seus pés. E ele. Ele está a uns 5 degraus dela. O olhar, o sorriso. Nem ao menos ela sabe direito se desceu os degraus sem desligar o celular ou se desligou e desceu os degraus. Parou um segundo e viu todo um filminho passar em sua cabeça. O dia que falou com ele, o dia que ele lhe disse o quanto gostava dela e o dia que ela admitiu a ele que estava apaixonada e antes que terminasse o pensamento, sentiu uma mão tocar suave seu rosto, olhar seus olhos prestes a despejar algumas timidas lágrimas, e chegando bem mansinho. Antes que ela pudesse pronunciar algo, ele lhe disse: Enfim... um beijo.

Lila Bilac
Enviado por Lila Bilac em 04/12/2008
Código do texto: T1319288
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