A Roseira

Um dia de tarde quando o sol se punha, eu vi minha filha correndo com uma rosa na mão.

- Pai, pai! Olha o que eu peguei pra mamãe!

- Onde você conseguiu essa rosa, minha filha? – disse com uma cara séria, pois eu sabia que ela tinha apanhado da roseira de minha mulher.

- Uma roseira disse para eu apanhá-la, pois logo iria murchar! – Falou com uma doçura tão grande que derreteu meu coração em segundos – Ela também disse para eu colocar em um jarro com água.

- Minha filha, eu sei que você gosta de sua mãe, mas não precisa mentir. Roseiras não falam!

- Mas essa fala! Até disse que está com saudades da mamãe!

Já com um sorriso no rosto peguei minha filha no colo que segurava a rosa com muito cuidado e fomos pra dentro.

- Pai, enche o jarro pra mim? Quero colocar do lado da cama da mamãe!

- Claro, minha filha! Vai lá ver como a mamãe está, mas não a acorde, ela precisa descansar.

Coloquei minha filhinha no chão e ela saiu correndo para o quarto da mãe. Minha mulher tinha uma doença progressiva e estava muito mal. Os médicos disseram que não havia cura. Eu quis quebrar meio mundo, mas depois vi que a culpa não era deles e só me restou chorar.

Peguei um jarro pequeno que tínhamos lá na cozinha e coloquei um pouco de água dentro. Olhei para o jarro e comecei a sorrir. Minha esposa adorava aquele jarro e eu sempre o achei muito pequeno. Até discutimos uma vez sobre isso.

- Filha? – Chamei quase que sussurrando – Filhinha? Aqui está o jarro!

- Pai, porque mamãe está dormindo tanto?

Aquela pergunta bateu na boca de meu estômago. Como dizer para uma criança de quase cinco anos que sua mãe está quase morrendo? Olhei para ela e comecei a dizer:

- Ela está doente, minha filha! Precisa descansar para recuperar!

- Igual aquele dia que eu fiquei doente também?

- Isso! E por isso que precisamos cuidar dela igual cuidamos de você!

Deve ter ficado convencida, pois deu um sorriso doce e logo subiu em cima da cama para dar um beijo na mãe. Minha mulher dormia como um anjo. Fui pegar a rosa das mãozinhas da menina, mas recebi uma bronca:

- Pai, sou eu quem vou colocar a rosa na água!

- Por que, minha filha?

- A roseira que pediu!

Abaixei o jarro até a altura da menininha que colocou suavemente a rosa no vaso e deu um beijo nas pétalas. Que rosa bonita! Fiquei admirado por não ter reparado antes. Sua cor vermelha e vibrante parecia que não murcharia nunca. Devia ser a mais bela daquela roseira.

- Pai, por que você chora a noite?

- Como assim, minha filha?

- Às vezes eu escuto você chorar.

Minha casa humilde tinha esse pequeno problema. Era pequena, tinha um quintal nos fundos e por dentro alguns pequenos cômodos: meu quarto, uma sala que emendava com a cozinha, um banheiro e mais um quartinho onde coloquei minha filha.

- Eu não estava chorando, apenas conversando com Deus.

- A roseira disse que você está sofrendo, pai!

- Essa roseira fala demais, não é mesmo?

Disse para não ficar falando sobre isso. Mas era certo que o motivo de todo meu sofrimento era minha mulher. A pessoa que tanto amo e por quem eu enfrentaria meio mundo para tê-la a salvo. A pessoa que eu jurei eterno amor e agora está indo embora e não tenho como impedir isso.

- Filha! Vamos sair? – Já está ficando escuro e temos que deixar sua mãe aqui.

- Pai, a rosa está murchando!

Olhei para o lado e realmente vi a rosa pender sobre o jarro, parecia que estava perdendo suas forças. Olhei para minha filha com cara de assustado na esperança dela ter respostas. Mas claro que ela também não tinha. E em questão de segundos a rosa já estava murcha.

Peguei o jarro com as mãos, cheirei o jarro a procura de um cheiro estranho, mas não tinha nada de diferente. Tudo normal. Fui sair com o vaso para jogar fora, mas não pude:

- Não! Deixa o jarro aqui com a flor, papai. – Falou com uma carinha tão séria que dei um sorriso – A roseira disse que isso poderia acontecer, mas que era pra ela ficar aqui.

- Tudo bem! Deixarei no mesmo lugar.

Bem mais a noitinha, fui colocar a minha filhinha para dormir e também fui deitar. Fiquei ao lado de minha mulher, dei um beijo em seu rosto e dormi.

No outro dia, minha mulher estava diferente! Acordou e disse que estava muito bem! Com um esforço tentou se levantar e, claro que com minha ajuda e a ajuda de minha filha, ela conseguiu. Fiquei muito feliz! Parecia até que estava curada. Olhei para a rosa no jarro e vi que as pétalas haviam caído.

Depois de um tempo realmente confirmei que minha mulher havia se curado, mas ninguém sabia como. Disseram que foi por milagre.

Em casa fui até o quintal. Eu estava completamente emocionado, vi a roseira e chorando comecei a agradecer por aquela rosa.

-Pai – Escutei a minha filha me chamando – A roseira está tentando falar com você, não está escutando?

- Não estou – disse com curiosidade - E o que ela está dizendo, minha filha?

- Ela disse que não fez nada e sim o seu amor!

Ferrachi Abdtzen
Enviado por Ferrachi Abdtzen em 06/12/2008
Reeditado em 10/12/2008
Código do texto: T1322211
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