O Condor e a Águia


                    



Conta-se que há muito tempo atrás, certo rapaz apaixonou-se por uma moça muito especial. Ela, muito tímida; ele, decidido por conquistá-la, investiu por algumas vezes sem sucesso. Havia entre eles uma barreira; um abismo que precisava ser transposto... Mas como?

Encontravam-se e conversavam cada vez mais animadamente sobre vários assuntos. Mas, quando o jovem Rodnoc indiciava seus sentimentos, Águila desconversava alegando os mesmos motivos que lhes separava, com novos argumentos. O tempo passando e Rodnoc insistindo; e insistia...

Foi através de um caderno de perguntas, desses que na adolescência todos já vimos ou tivemos, que o rapaz conseguiu balançar o coração de Águila com uma resposta dada. Águila cedeu aos encantos de Rodnoc e aceitou dar início ao namoro. Rodnoc, apaixonadíssimo, se dispôs a eliminar quaisquer barreiras que por ventura viessem tentar sobrepor-se ao seu amor por Águila...  A barreira social, caiu por terra. A barreira financeira, sobrepujou-se. Mas, a barreira da cultura familiar, quanto aos aspectos da religiosidade, fé, práticas cúlticas e etc., estava pendente. Águila, ao ser ardentemente beijada, tremia nos braços de Rodnoc. Seu coração pulsava tão fortemente que podia ser ouvido pelo seu jovem amor. A tensão era tão intensa que, muitas vezes, optavam por se afastar um pouco para poder atenuar o intenso desejo de entregarem-se mutuamente. O amor que os unia era verdadeiro; era puro, sincero e legítimo. Vez por outra, juravam amor eterno um ao outro.

Um dia, numa experiência de um sonho sobrenatural, Rodnoc percebeu sua impotência contra algo até então desconhecido. A barreira, que os distanciava desde o início, tomando forma palpável, se interpôs investindo abruptamente sobre Rondnoc. Este cedeu... Acovardou-se diante do obstáculo que para ele seria intransponível. Com medo de represálias do desconhecido, Rondnoc comunica o término daquele namoro tão lindo... Seu pavor foi tanto que não comunicou o real motivo de estar desistindo. Marcou um encontro onde disparou que estava indo embora por questões de pertencerem a religiões diferentes... Logicamente, Águila relembrou que era por isso que não queria dar início ao namoro. Acusou Rondnoc de tê-la iludido com falsas promessas, de não amá-la de fato e de verdade e tudo o mais.

Águila sofreu... Rodnoc, por dentro morreu. A dor de amor maltratava o coração de ambos. Águila tentava aproximação e Rodnoc, ainda muito amedrontado pela mensagem incorpórea, se esquivava sempre. Ele a amava; mas temia o desconhecido. Águila definhava de amor. O tempo passava lentamente. A dor de Rodnoc e Águila só aumentava.

Águila cortejada por outro amor, resolveu ceder à esperança de esquecer Rodnoc. Ele, por sua vez, aventurou-se em novas paixões. Águila e Rodnoc apaixonaram-se por outras pessoas; desejavam sentir novas emoções. Pretendiam entregar tudo o que tinham... Mas, como seria possível se o amor de Águila só mirava o coração de Rodnoc. Como amar outra jovem, se Rodnoc só pensava em Águila? Que paradoxo: Amavam um ao outro, mas não podiam ficar juntos! Como a história da vida é cruel! Porque tem que ser assim? Esses eram os pensamentos que permeavam a mente de Águila e de Rodnoc.

Alguns anos se passaram e, num momento raro que a vida proporciona, Ronoc ouve seu nome ser pronunciado por uma voz do passado: "RODNOC! RODNOC!" Ele procurou a dona daquela voz que estava gravada não só na sua mente; mas, principalmente, em seu coração, e pensou: "Esta voz com certeza é de Águila!" Percorreu com olhar apurador e, ao longe, encolhida em sua timidez, avistou a sua amada. Caminhou em sua direção e se atualizaram num alegre bate-papo quanto aos fatos ocorridos ao longo de todo esse tempo, e sobre os acontecimentos últimos. Ela, viúva há pouco tempo, teve dois filhos. Ele, com dois filhos e casado. Dentre os assuntos conversados, enchendo-se de coragem, até mesmo porque o tempo passado ia muito longe, Rodnoc revelou toda a verdade para Águila com respeito ao que o levara a abandoná-la. Falou da inexperiência, e do apavoramento, quanto ao fato ocorrido com aquela assombrosa aparição. Ela asseverou que se decpcionou muito com ele, por não ter cumprido às juras de amor prometidas... Porque prometeu um amor eterno? Porque insistiu para que lhe entregasse seu coração? Águila alegou que sofria desde então. Concordaram em se encontrar novamente, se assim a vida lhes proporcionasse próxima oportunidade.

O tempo foi passando e seus encontros tornando-se cada vez mais constantes. Quando não se encontravam, algo parecia errado; o vazio tomava conta de seus corações. Até que o inevitável acabou acontecendo... Acabaram atravessando a portinha vai-e-vém e, numa cama de motel, se deliciaram incotroláveis. Fizeram amor e atingiram o clímax uma vez, duas, três, até perderem a conta. Renovaram seus sentimentos e suas juras de amor. Depois de estarem completamente livres de seus preconceitos morais, concordaram em se unirem. Passaram a dividir o mesmo endereço, o mesmo teto, a mesma vida... Afinal, diziam-se um.

Tudo eram flores! Flores regadas com muito amor, carinho e dedicação de ambas as partes. Ela, nunca havia sido feliz daquela maneira. Ele, sentia-se realizado em todos os sentidos. Ela nunca recebera tanto amor e prazer de viver como recebia de seu amado. Ele, então... Tanta dedicação, tanto carinho, tanto amor... Foram meses e meses de felicidade. Até que as barreiras começaram se erguer: Dolo, mentira, traição psicológica. O terror do passado tentava se apresentar mas era banido com fé e autoridade... Mas a fraqueza e o medo de tudo vir a ser perdido, faziam com que Águila voltasse atrás em suas crendices e grilhões. Rodnoc insistia para que ela ficasse firme; mas, qual... Águila enfraquecida e desesperada chafurdava-se cada vez mais em sua tresloucada busca por soluções, onde solução não há.

Até que um dia, Rodnoc cansado de insistir pela perseverança fervorosa, indignou-se e partiu. Ao voltar para casa, Águila desesperou-se ao encontrar o guarda roupas, do lado dele, totalmente vazio. Descontrolada pela possiblidade de perder seu amor, caiu, chorou e pranteou... Mas, ele já não estava lá. Partira, decpcionado pela falta de fé. Embora não pudesse culpá-la com esses argumentos porque ela era neófita, sem experiências profundas com o sobrenatural divino... Suas experiências eram apenas exotéricas e espiritualistas. E, entendia ele, aquelas barreiras só seriam derrubadas com a perseverança, a fé e a devoção total e irrestritas ao Criador.

Algum tempo se passou. Sentaram e conversaram. Mais uma vez, como o amor sempre vence, sendo  esse o sentimento que sentiam, venceu. Retomaram suas vidas dispostos a deixar o que passou para trás. Mas, a intromissão familiar era muito grande. O pai querendo intrometer-se nas finanças; a mãe, preocupando-se com o comer e o beber, acabava gerenciando a despensa; tios, tias, irmãs, filhos... A pressão era muito grande. Rodnoc, acostumado com sua independência total no que diz respeito à gerência familiar entrou em choque com toda aquela intromissão porque percebia que toda aquela aparente ajuda gerava naquelas pessoas um sentimento de poderem dizer o que fazer ou não. Sentiam-se livres para opinar, conduzir e dirigir a vida de Rodnoc e Águlia. Esta, não querendo contrariar aos pais acabava por contrariar ao seu amado que, mais uma vez decepcionado cobrava atitude drástica da parte dela. Mas, Águila ia protelando... Adiava sua posição... Postulava que aquilo ia passar quando a situação deles melhorasse e etc. Mais uma vez, Rodnoc dá um ultimato: Quero ter uma vida com você, não com teus familiares. Decida-se: Fica com tua família ou comigo? Deu um prazo. Prorrogou uma vez, e outra, e outra... Até que as perturbações retornaram e Águila cedeu às velhas práticas. Procurou seus guias e abandou seu Guia, o Deus Eterno. Rodnoc, passou a observar que sempre ao piorarem as coisas Águila recaía em suas velhas práticas. Alertou-a que se continuasse assim iria abandoná-la definitivamente. Ela não conseguia entender e cada vez mais as coisas pioravam. Rodnoc, mais uma vez partiu. De maneira tal que, decidido estava, não a procuraria mais. Águila entra em forte depressão. Aí mesmo que passou a ter um sentimento nefasto às coisas referentes a Deus. Deus não a ouvira! Deus não cuidara dela! Deus não mantivera o seu amado ao seu lado! Deus era mau e perverso! E outras exclamações parecidas... A depressão aumentou e quase gera uma anorexia. Ao tomar conhecimento desse fato, Rodnoc vai visitá-la e, logicamente não é muito bem recebido pelos familiares. Ao vê-la magra, quase esquelética; descabelada e pálida, sem brilho no rosto; quase sem sangue nas veias... Chorou no íntimo sentindo-se culpado por aquele quadro. Mas culpado ainda ficou quando ela lhe responsabilizou por estar daquela maneira. Conversaram. Ela declarou seu amor por ele, ele atestou que também a amava mas que não podiam continuar com uma relação tão desgastada pela idas e vindas, pelos términos e reinícios. Isso não pode ter as bênçãos de Deus, alegou ele. Ela, desesperada, tenta agarrar-se a ele que, esquivando-se, vai embora prometendo voltar outro dia. Retornou, como prometera, e conversaram mais animadamente. Falaram de muitas coisas, inclusive do amor que sentiam um pelo outro. Porque tudo tinha que ser assim? Questionava Águila. Ao que respondia Rodnoc: Tínhamos que ser totalmente independentes. Mas, ela amedrontada com a vida até então vivida, não concordava.

Coitada de Águila! Desde seu primeiro casamento levou esta vida de total falência e dependência famíliar. Marido trabalhador, mas de certa forma irresponsável. Daqueles que vivem para o trabalho e as diversões, enquanto a família vai ficando em segundo plano. Ela dedicada mãe, maravilhosa dona de casa, cúmplice nas decisões tresloucadas de seu esposo, excelente parceira enfim... O que lhe restava eram noites e noites de espera pela chegada do marido que, quando acontecia, jogava-se na cama alegando exaustão pelo trabalho; e, mal sabia ela, morto pelas traições. Um dia ele mesmo lhe contou que a traía por achar que ela era fraca e que não sentia mais prazer com ela; como uma forte bofetada em rosto, Águila ficou sem saber o que fazer. Pensou em se vingar. Pensou em ir embora para a casa de seus pais, que não a receberam alegando que seu lugar era ao lado de seu marido e de seu filho. "Mas, não o amo e não quero mais ficar com ele", replicava. Mas seu pai, determinou: "Vá para sua casa e seu marido!" Terminou voltando para sua solidão e para suas poesias de desabafo, desencanto, desesperança naquela vida sofrida. Pensava em seu amor, o único amor de sua vida, que ficou para trás quando resolvida casou com este que agora a fazia sofrer tanto. Entre traições de um lado e de outro, pedidos de desculpas e conversas tidas, e a falência matrimonial amenisava, um acidente terrível e fatal seifa a vida de seu esposo. Sofrimento! Sentindo-se culpada, Águila nem tem forças para acompanhar o féretro. E, agora? Como resolver as questões da família? Acaba voltando a morar com os pais que, logicamente, mais uma vez apoderam-se de sua vida e da vida de seus filhos. É nesse quadro, depois de alguns meses de viuvez, que se encontram Rodnoc e Águila.

Rodnoc, estava com seu casamento falido. Aparentemente, um espetáculo de matrimônio. Mas na realidade nua e crua, infidelidades, mentiras e traições. Mas, como poderia ser assim? Um casal tão exemplar! Pena que quase ninguém sabe que a pior inimiga da realidade é a aparência! A maior mentira matrimonial é ela, a aparência! Ao término do casamento de Rocnoc, todos questionavam: Mas, o que aconteceu, vocês se davam tão bem! Não é possível que vocês se separaram... A relação de vocês era tão exemplar! Mas, o que ninguém sabia era que nada daquilo era real. Aparências, nada mais!

Ao evento do encontro com Águila, Rodnoc remoçou. Ali estava ela diante dele, naquela fila de ônibus. Sentiu, que depois de algum tempo reencontrara o sentido da vida. Esperava agora realizar seu sonho de juventude. Amar e ser amado por aquela mulher que sempre permeou seus pensamentos. Aquela que, quando a via, o sangue gelava nas veias e o coração faltava saltar de seu peito; aquela doçura branca e meiga que ilustrava suas conversas à noite, com sua estrela. Mas, como acessá-la se estava tão fechada como dormideira tocada? Como dizer que ainda a amava? Começou escrevendo sutilmente e descrevendo sua admiração que nunca deixou de existir. Detalhando a sua beleza interior, e também a exterior. Enfim, declarou-se em contos e falou de seus encantos. Aos poucos a dormideira se abriu e ele, como ondas impetuosas se lançou fortemente sobre o rochedo. Bateu fortemente até abrir fendas de amor naquele paredão adormecido pelo tempo e pelo sofrimento da solidão.

Foi tudo tão lindo! Uma vida conjugal que tinha tudo para ser perfeita... Pena que interrompeu-se mais uma vez.! Sofrido pelos tantos desencontros de si mesmo, Rodnoc resolve partir para bem longe. Águila mais uma vez sofre com a desilusão. Solidão é agora sua companheira! Os meses se passaram, ele retorna para sua Cidade natal. O amor falando mais alto, leva-o a fazer contato com ela que, anima-se, e aceita um convite para um encontro apenas como amigos. Não daria certo, logicamente. Ela se envolve numa outra relação e ele acaba voltando para sua família, decidido a tentar mais uma vez. Não daria certo, Rodnoc continuar encontrando Àguiila, é claro! Seus pelos não podiam se tocar... Seus olhos não podiam se encontrar... Era como riscar fósforo próximo ao combustível. Incêndio certo! Acabaram se tornando amantes. Mas a perspectiva era tornarem-se marido e mulher; mas, para isso, ambos deveriam se separar dos seus atuais. Ela em breve tempo conseguiu se livrar de suas turbulências conjugais. Para ele foi mais complicado por envolver sérias complicações, por estar de volta e estar mexendo com o emocional e sentimento de todos os familiares novamente. O tempo passou e Águila não querendo esperar a separação definitiva de Rodnoc, resolve enveredar em uma outra relação alegando não querer se responsabilizar em destruir novamente aquele lar, aquela mesma família. Ela conhecia o envolvimento que ele tinha com os filhos e que agora estava mais difícil tomar aquela decisão. Houve algumas situações que, para Águila, Rodnoc poderia ter aproveitado para abandonar a família e assumí-la de vez. Mas, muitas coisas estavam envolvidas e Rodnoc precisava de mais tempo. Mas, para Águila, não havia mais tempo. Egoísticamente, não queria envelhecer só. Não queria ficar mais tempo esperando. Não deu novas chances a Rodnoc. Partiu em busca da possível felicidade que estava batendo em sua porta. Deu o lugar do amor para a paixão; para o ensejo e o desejo de não ficar só aos finais de semana. Queria curtir o que a vida lhe estava oferecendo. Rodnoc insistiu, mas Águila não cedeu. A dormideira voltou a se fechar.

Rodnoc virou-se de costas para o mundo. Acabou por viver e andar de costas e até seu nome trocou. Passou assinar seu nome de trás para frente, a fim de traduzir como se sentia: CONDOR! Sua amada lhe preteriu, agora vivia com dor.

Águila, por sua vez arrependida por sua má decisão e entender que aquele era o seu verdadeiro e único amor, ao qual não consegue esquecer jamais, resolve de seu nome tirar o que é o que lhe é maior: O "L" e passou a assinar Águia, para não se sentir maior do que seu amado.

Assim voam em direções sempre opostas o Condor e a Águia. Procuram-se, vez em quando, e até se encontram... Mas o destino, ou sei lá o quê, não permite que voem juntos. O Condor  vai para o poente enquanto Águia voa para o nascente.

Pena tudo se acabar assim!
 








PaPeL
Enviado por PaPeL em 20/01/2009
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