Quatro Estações

Quatro Estações

Longos anos se foram, perdidos ao tempo, tragando da memória, as frustrações e descontentamentos. Eric tinha sua jovialidade disfarçada pelos cabelos grisalhos, olhos tristes de amargura e cansados, registrava na face à tristeza de ter perdido a esposa há alguns anos, sentia como se houvesse entregado a própria alma para a morte.

Foi em uma noite chuvosa que Elizabeth deu a luz ao seu primeiro e único filho. Um parto difícil e trabalhoso, a cada hora passada sua vida era tragada lentamente. Em seus últimos momentos de vida, ela agarrou um pequeno terço ao peito. Elizabeth antes era mulher agressiva, determinada e por algumas vezes arrogante e inconstante. Agora estava a cama, com seus longos cabelos colados a face, cansada, empalideceu e assim morreu.

O pequeno Arthur crescia longe dos olhos do pai. Eric se entregava ao trabalho, passando horas e horas perdido entre papeis, uma tola tentativa de esquecer o passado. Arthur agora com nove ano, já revelava sua personalidade difícil e enigmática, sendo assim toda as tentativas de educa-lo falhavam, seu ímpeto causava desistências de suas tutoras. A indisciplina era tamanha que julgavam-no como um atípico caso perdido.

A nova tutora chegou, juntamente com as folhas de outono. Escolhida pela governanta que trabalhava a pouco mais de cinco anos para família winchester. A nova tutora era uma jovem de feições simpáticas, cabelos castanhos e possuía olhos vividos e felizes, sempre de voz calma. A governanta não acreditava que ela poderia educar ou domar a natureza de Arthur, pois todas as outras tutoras recusarão o emprego.

Evelin, assim era o seu nome. Logo quando chegou avistou Arthur, brincando com algumas pedrinhas a beira do lago. Aproximou-se para observa-lo mais de perto, então ele disse;

_ você deve ser a tutora, não é?

_creio que sim, e você deve ser o jovem Arthur?

Arthur disse então sem ao menos se virar para ver com quem falava;

_ Não pense que Será fácil, todas as outras já desistiram. Não pense que irei gostar de você, deve ser como todas as outras, uma velha, bruxa e feia!

Evelin riu, era curioso ver um menino tão jovem e arisco como este.

_ bem, bruxa...Sei que não sou, velha nem tanto, mas feia depende dos olhos de quem me vê...

O menino se virou para olhar de onde surgia aquela risada simpática, e viu que a imagem que fizera dela, que não condizia com a realidade.

Enfim os meses se passaram, e todo o encanto de evelin havia conquistado o pequeno coração de Arthur, agora se dedicando melhor aos estudos que aos poucos se transformava em uma criança mais amável e receptiva.

Certo dia de frio, Evelin estava a caminhar pelas margens do rio, usava um pesado casaco negro, sua face estava levemente corada. Eric a observava através da janela, seus olhos estavam fixos nela. Era a primeira vez que a vira, depois de tampo tempo que havia a contratado, ele fitava aquela jovem. Evelin também o observava pela janela, direto em seus olhos frios de jade, algo dentro dela ardia como fogo falso, isto a perturbava até que a imagem desaparecera.

Eric se aproximou da parede, onde um pano negro cobria um pequeno quadro, ele a retirou, observando a imagem com pesar e espanto;

_ como pode ser...Não é possível ser tão parecida assim com Elizabeth...

Estava pálido, franzia a testa e seus olhos estavam marejados de lágrimas. Pensava que os traços e feições eram tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais. Como um fantasma que ainda lhe persegue em sonhos e pensamentos de saudade.

O inverno trouxe toda frieza a casa dos Winchester. Infelizmente a governanta adoecera, ficando a responsabilidade de Evelin em comandar a casa. Então coisas começaram a acontecer, Eric demonstrava um temperamento implicante e ofensivo, talvez inconscientemente ele odiava estar na mesma sala que Evelin. Esta devido ao seu espírito calmo e cativo suportava seu temperamento em silencio.

Sua paciência era testada entre afrontas e impertinentes comentários, até que um dia cansada e sem saber o motivo pelo qual era tratada de tal forma, foi ao encontro de Eric em seu escritório, secando as mãos em um pequeno lenço. Então disse;

_ Sr Eric...Venho lhe dizer que irei partir. Julgo que não sou mais útil para esta família, então a educação de Arthur ficara a cargo de outra pessoa...

Eric se surpreendeu ao vela ruborizar enquanto falava, sua expressão era a de mais pura simplicidade.

_ quer dizer que não ira mais trabalhar como educadora de meu filho...Ele fez algo que a desagradou?

_ não senhor...Seu filho é uma ótima criança e tenho certeza de que ira ser um grande homem...

Um silencio culminou na sala por alguns minutos, Evelin de olhos baixos não conseguia encarar Eric;

_ bem...Partirei logo pela manhã...Adeus.

Algo no coração de Eric não queria deixa-la partir, seu orgulho finalmente reconhecera que havia errado. Um homem tão sensato, mas ao mesmo tão tolo.

Em meio ao inverno rigoroso ela partiu. Com Sr Darcy, um dos empregados da família a comandar a carruagem, apesar apelos dele, para Evelin era inaceitável a idéia de permanecer na casa Winchester. No caminho para o porto a neve estava densa, e um estranho nevoeiro encobria o caminho. Lentamente uma tempestade de neve cobriu a tudo, fazendo com que a carruagem emperra-se sobre toda aquela neve espessa, estavam perdidos, o frio era tão intenso que podiam sentir doer os ossos.

Foi quando Sr Darcy decidiu caminhar ao redor da carruagem, para tentar encontrar o caminho certo. Mas esta tamanha estupidez acabou por faze-lo se perder em meio ao nevoeiro. Evelin esperou o mais que pode suportar sua paciência e o frio a cada minuto se tornava mais intenso. Saiu e caminhou ao redor da carruagem, a tempestade branca aumentava cegando a visão, quando pode perceber já estava perdida.

Sr Darcy caminhou até perceber uma pequenina luz á alguns metros, era a casa da família Sierra. Exausto e hipotérmico, ele pode conseguir ali a ajuda que precisava para avisar Eric, de que Evelin estava presa na neve.

Ao receber a noticia, Eric sentiu a culpa por deixá-la partir assim, e pelas atitudes agressivas que tomou contra ela, que sempre lhe tratava amavelmente. Então começaram as buscas, Eric e alguns homens gritavam seu nome sem obter resposta. Então um de seus homens lhe chamou, lá estava ela inconsciente sobre a neve, seus lábios estavam levemente azulados.

Rapidamente e levaram para casa Winchester.Aos pés da lareira ela foi aquecida entre cobertores e travesseiros macios, com sua aparência mais sadia e rosada. Eric ficou durante toda noite ao observa-la, em seus olhos expresso o remorso e em certos momentos as lembranças de Elizabeth lhe voltavam à mente. Algo crepitava no coração daquele homem, uma chama junto ao fogo.

Evelin finalmente abriu os olhos. Seu corpo doía um pouco, mas sentia-se confortável, logo reconheceu aonde estava. Eric a olhava fixamente sentado em uma poltrona aos pés da cama, suas mãos estavam unidas em um tímido desconforto, então disse;

_ desculpe-me Evelin...

Evelin surpresa, observou aquela expressão triste.

_ não há nada que deva se desculpar senhor...Uma imprudência a minha foi esta...

_ fui descortês e grosseiro, mas ainda é tempo de redimir meus erros para com você e com meu filho, peço apenas que fique...

Evelin sentiu em suas palavras algo tão diferente, sorriu ao pensar que alguém precisava dela.

As estações corriam como o tempo, a primavera exibia suas primeiras e exuberantes cores, espalhando o tenro verde entre as terras. E com ela as mudanças chegaram, Eric havia se transformado em um homem agradável e amistoso. Pela manhã se divertia entre sorrisos e brincadeiras infantis com Arthur. O que para Evelin era algo maravilhoso, observar aquelas faces alegres, coradas de riso. Às vezes seus olhos se fitavam rapidamente, fazendo-a ruborizar. E um desejo, uma vontade de amar surgia entre o olhar.

Certo dia Evelin foi procura-lo em seu escritório para lhe entregar correspondências que Sr Darcy esquecera. Deixou os envelopes sobre a mesa, mas reparou em algo estranho na parede coberto por um pano negro. Inconscientemente sua curiosidade fora aguçada, ela retirou-o, seus olhos surpresos diante da imagem. Evelin fitava aqueles enigmáticos olhos negros, era assustadora a semelhança. E logo pensou _ por isto ele me tratara com tal indiferença, como pode...

Subitamente Eric entrou na sala, surpreso com a presença dela. Neste momento ele pode observar as duas faces, desconcertado então ele disse;

_ o que faz aqui Evelin?

_ agora eu entendo...O motivo de tanto desprezo...

_ Evelin não sei como explicar, mas apesar da semelhança, você ao mesmo tempo é tão diferente...

Evelin desconcertada pela situação entre sentimentos inexplicáveis e perturbadores. Podia ver claramente que algo ardia nos olhos daquele homem, a luz do sol invadia a sala refletindo em sua face, tornando-o mais belo ainda diante dela. Visivelmente transtornada ela se retirou da sala, fugir daqueles estranhos sentimentos era a única opção. Mas súbito, foi tomada pelos braços daquele homem, tão indefesa entre o calor do corpo que fervia.

_ não quero que vá...Percebo o quanto é importante para mim, não vá...

Sem mais resistências, o coração finalmente se entregou. Selando assim então um beijo de amor.

E assim o tempo atuava sobre os corações, e os dois se entregavam dia após dia a um amor terno e puro. A sombra de Elizabeth sobre Evelin desaparecera e finalmente a luz e a alegria do verão, iluminavam a casa dos winchester.

Fim

Taiane Gonçalves Dias
Enviado por Taiane Gonçalves Dias em 31/03/2009
Reeditado em 11/07/2010
Código do texto: T1516232
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