Quinze minutos com você...

Tirei o cinto de segurança, e fiquei ajoelhada abrindo os braços para o vento. O carro não tinha capota para minha alegria... A principio pensei em Rose e Jack do Titanic, mas depois cheguei a conclusão de que poderíamos ser mais como Sid e Nancy... Não temos heroína, nosso único vício é a vontade de saciar-nos um do outro. Seja como for. Eu sabia que não queria ir para casa, a estrada estava me fazendo bem. Era o único lugar onde realmente podia continuar com o vento no rosto, os cabelos voando, e a capota aberta. Eu olhava para ele, e ele parecia um pouco preocupado... Talvez porque tirei o cinto de segurança, ou talvez porque eu estava com cara de quem ia aprontar alguma coisa esta noite. Mas eu já tinha dito que só precisava ver gente.

- Vamos voltar pra cidade. Eu estou ouvindo barulho de sirene! – ele disse gritando em um tom suave para não parecer mandão.

- Você quem manda... – sentei na poltrona do carro, e coloquei de volta o cinto. Aumentei a música do rádio, nós dois conhecíamos muito bem.

- Irônico...

- Completamente.

- Uma música sobre a separação pelo amor, foi a música que nos fez ficar juntos... – acendi um cigarro, e coloquei na boca dele, onde deu uma leve tragada e voltei com o cigarro para os meus lábios, ele não tirava os olhos do volante.

- Discordo.

- Como se antes você concordou? Não vale discordar agora – ri em tom debochado.

- A música não fez a gente ficar juntos...

- Mas a gente cantou colado um no outro, esperando alguém tomar alguma iniciativa.

- Se a música estivesse ali, ou não estivesse ali, acha que não teria acontecido?

- O filme era um porre...

- Então eu seria só um passatempo pro filme terminar? - zombou

- Eu estava cansada, meus pés doíam... Você viu o tamanho do meu salto?

- E quem não viu o tamanho do seu salto, assim como seu vestido..?

- Engraçadinho! – Coloquei os pés apoiados na janela do carro.

- Admite, você já tinha segundas intenções... A música não altera nada.

- Por que diz isso?

- Você se viu no espelho antes de sair de casa?

- Sim, o que tem?

- Por que você foi tão arrumada?

- Ahhh, você sabe...

- Então estou certo?

- Ok, você venceu nessa. Mas a música ajudou.

- Ela foi uma influencia externa.

- Além da cerveja que você bebeu.

- Já disse que lembro de tudo perfeitamente. Até o poema eu escrevi...

- Você sempre tocando no meu ponto fraco... – estiquei o cinto, e o abracei. Ele vestia uma blusa social preta, e eu vestia o meu tubinho preto. Novamente as cores de nossas roupas combinavam. Era patético pensar nisso... Na verdade, estar apaixonada é se tornar patética e aceitar todos os pensamentos babacas que surgem na sua cabeça quando você lembra daquela pessoa. Especialmente daquela.

- Aonde você está me levando? – perguntei enfim.

- Você não queria ver gente, e ver luzes?

- Na verdade, queria ver você. Sabe como é, Morrissey foi bom em dar desculpas nessa música... Acho que tenho que agradecer a ele por isso.

- Só espero que a gente não sofra um acidente. – ele disse com uma risada nervosa

- O acidente já aconteceu, pode ficar tranqüilo... – traguei o cigarro e olhei para ele.

- Qual acidente?

- A gente.

Anastásia Ottoni
Enviado por Anastásia Ottoni em 06/04/2009
Reeditado em 06/04/2009
Código do texto: T1524948
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