O único amor?

Ele era um surfista de final de semana, ela era uma hippy .

Ele era Meigo, ela era doce. Ele era lindo, ela era interessante.

Ela era apaixonada por ele, ele tinha namorada.

Ela era virgem, ele tinha namorada.

Ele era lindo como o Deus Apolo, ele era uma hippy que se negava a depilar as pernas e raspava as sobrancelhas.

Ambos freqüentavam o mesmo curso na faculdade.

Ambos tinham os mesmos ideais.

Ambos bebiam raramente.

Ambos curtiam uma marijuana.

Ela uma moça que sempre usava saia longa, tênis all star, um vermelho e outro verde. Ele sempre com short , camiseta e chinelos.

Ela lembra ainda hoje o exato momento que se apaixonou por ele.

Era um final de tarde molhado, pois passou o dia todo chuviscando. Tinha acabado a aula. Ambos iam pelo mesmo caminho, era uma descida íngreme, o asfalto estava escorregadio. Ele estava com seus chinelos, e ela com seus all star.

Ela escorrega . Ele pergunta:

-tudo bem?

Ela então o olha e fala:

-sim, quase cai.

Ele então fala:

-tome cuidado, está muito liso.

Aquele foi o momento. Nunca nenhum, homem tinha sido assim gentil antes. Ele estava preocupado com ela. Ela sentiu isso. Ele não caiu na gargalhada como os outros teriam feito, tampouco tirou um saro dela.

Semanas passaram-se. Ela o olhava em sala, toda tarde, não conseguia parar, e cada vez mais ele parecia perfeito, sua pele bronzeada seus cabelos negros seus olhos.

Nos intervalos ele ficava com a namorada. Ela compreendia por que ele estava com ela. A namorada era muito bonita, cabelos cor de trigo, olhos castanhos, alta e magra, resumindo uma modelo. Ela sentada no banco frio de concreto, olhava ambos, juntinhos. Era um casal perfeito.

Sentia-se frustrada.

Foi para casa.

Em uma madrugada sua sorte mudara.

Era uma segunda feira, uma daquelas madrugadas mornas, mas com uma brisa fresca. Ela madrugou por que teria uma excursão da faculdade, quando saiu do seu condomínio assustou-se por vê-lo, sentado na calçada á beira da rua.

“Meu Deus! Será que está aqui para esperar-me? Para irmos juntos?” pensou ela com o coração disparado. Aproximou-se dele e falou:

- Ralf....Ralf...

Ele sentado na calçada, vomitou.

Ela viu os seus pensamentos desaparecerem, e agora seu coração estava disparado de preocupação.

- Ralf você esta bem? Ralf?

Ele levantou a cabeça e com os olhos vermelhos e inchados respondeu:

-tenho que ir para casa.

Então ela notara que ele estava bêbado. Tentou levantar, mas caiu em seguida.

-não Ralf, você não pode. Não esta em condições. Venha suba, comigo.

-Não, tenho que ir para casa.

Ele tentou-se levantar e caiu novamente.

-eu ajudo-o, mas vamos subir por meu apartamento. - ela o ajudou a levantar.

-não! tenho que ir para casa.

-e onde você morra?

- aqui perto.

Ele usava uma calça de moletom com um cordão, o qual estava desamarrado, pisava-o, então ela parou e puxou o fora da calça .

Ela o ajudou a andar por umas 4 quadras até a casa dele.

-nunca imaginei que você morasse tão perto de mim.

Ele nada falou.

-consegue entrar sozinho?

-sim.

Ele entrou.

Ela ficou ali parada, segurando o cordão roxo nas mãos. Olhou para o relógio, e correu, correu para não perder a excursão.

Mas não prestou atenção em nem uma palavra do professor, ela só pensava no Ralf e em como foi burra achando que ele estaria ali esperando por ela.

- que burra que sou! –disse ela apertando o cordão em suas mãos - com uma namorada como aquela, nunca a trocaria por alguém como eu.

Na manhã seguinte ela foi até ele e lhe mostrou o cordão, lhe perguntou:

- conhece isso?

-Carraca! meu cordão! Onde você o achou?

-ontem, eu o ajudei a ir para casa. Não se lembra?

-não lembro de nada. Só que fui a uma festa com uns amigos acabei bebendo demais e acordei em minha cama com ressaca.

-pois você apareceu lá em casa.

Ele pegou o cordão e a fitou nos olhos, aqueles olhos castanhos pareciam ver sua alma. Ela sentiu um frio subir por sua nuca.

Meio sem jeito ele falou:

-e como você o conseguiu?...Quer dizer.... Nós...

Ela sem jeito o interrompe.

-oh não, eu o tirei por que você estava pisando em cima dele.

-áh...bom- diz ele e sorri.

O sorriso mais lindo que ela já vira, e nesse exato momento arrepende-se de lhe entregar o cordão. “Burra poderia ter ficado com ele”.

O incidente aproximou ambos, até estavam juntos no trabalho de bioquímica.

Ralf nunca falava em sua namorada.

Ela iria mudar para um apartamento mais barato e ainda mais perto da casa dele, então Ralf ofereceu ajuda com a mudança.

No dia da mudança ele cumpriu com a palavra. Naquele dia almoçaram juntos, jantaram juntos, dividiram um baseado. E quando ele viu já era quase duas horas da manhã, então disse tchau e foi para casa.

Ah aquele homem era incrível, tinham tantas coisas em comum. Ela faria qualquer coisa por ele, lhe pedisse o mundo ela o daria, ao lado dele ela era feliz, não precisava de mais nada. Tinha certeza que era com ele que queria perder sua virgindade afinal já estava na hora.

A janela de sua nova kitinete dava para a rua, não era uma rua movimentada. Estava jantando quando por essa janela entrou a voz inconfundível do Ralf.

Como sempre ela sorriu e seu coração disparou um frio em seu estômago surgiu. Era ele ali no seu apartamento! Será que sentia o mesmo por ela? Mas e a namorada?

Ele entrou e sentaram-se juntos conversaram pela noite a dentro. Falaram de como era idiota as mulheres depilar-se, afinal não tinha o porquê a não ser a estética, falaram sobre Deus e sobre Paz, música e faculdade. Só não falaram sobre a namorada.

Então antes de ir embora ele falou:

-tenho duas filhas.

Ela espantada perguntou:

-como assim?

-tenho duas plantas de maconha e não posso mais ficar com elas, então pensei se você pudesse ficar com elas.

-claro.

-então irei trazer elas amanhã.

E amanhã ele voltou com dois vasos. E conversaram noite á dentro.

Só conversavam.

Na universidade ele sempre pedia:

-e ai como vão nossas filhas?

E ninguém compreendia nada só ela. Como ela amava isso tudo.

Uma noite ele falara que estava tendo problemas com sua namorada, que ela estava brigando demais. Isso acendeu uma chama no coração dela. Será que finalmente ele terminaria com ela e finalmente veria o amor que ela sente por ele.

Sua amiga disse que ele a amava. Se não, por que mais vinha quase toda noite e ficava até madrugada.

Mas a dúvida ainda estava em seu coração, se ele a amava por que nunca lhe dera um beijo, ou mesmo lhe pegara a mão, ou falara algo? Porém ele sempre lhe fazia uma massagem divina.

Ela queria que fosse mais que esse amor platônico.

Mas a felicidade dura pouco. No final da mesma semana ele disse que iria mudar-se. Isso cortou o coração dela.

Então ele lhe deu um beijo no rosto e um abraço, tirando seus pés do chão.

Disse adeus e partiu.

Ela chorou e Chorou.

Perdeu o interesse pela faculdade e a largou.

E agora mais de dez anos depois ela ainda lembra do ultimo e único abraço como se tivesse sido ontem, do calor de seu corpo e dos penetrantes olhos castanhos.

A cada beijo que dera em outros, perguntava se, como teria sido o beijo dele.

E cada homem que encontrava não era bom para ela, por que simplesmente não era o Ralf.

Dez anos depois, ela o procurou e o encontrou no orkut.

Ela ainda esta sozinha.

Ele ainda esta com a namorada.

Ela ainda lembra dele, e se pergunta:

-Alguma vez em todos esses anos ele lembrara dela?

Isso agora já não importa mais.

Em seu coração bate uma dúvida, já gasta pelo tempo, será que amaria novamente?

e logo em seguida vinha a resposta como um tapa em seu semblante:

- não, só existe um Ralf e está para sempre fora de meu alcance, nos braços da namorada. Estou condenada a amar e nunca ser amada.

valmi
Enviado por valmi em 05/06/2009
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