O Estupro

O advogado, mesmo casado, continuava a freqüentar o Chateaux.

Apolônia, mesmo aposentada, ainda era vista no Chateaux.

Vez ou outra ainda dava de graça o ar da graça com algum cliente antigo.

A rotina dela continuava a mesma.

A rotina dele continuava a mesma.

Continuava a freqüentar o Cabaré.

Continuava a sentir algo por Apolônia.

Ela percebendo seu desejo, o evitava.

Ele percebendo que era evitado Fantasiava.

Excitava-se.

Um dia bêbado a forçou.

Pediu para irem a seu quarto conversar sobre seu casamento e lá a forçou.

Tentou fazer sexo com ela.

Ela não consentiu.

Ele usou de sua força.

A estuprou.

Ele não admitia ser desobedecido.

Era filho do Senador.

Era advogado competente.

Conhecido.

Foi criado para ser obedecido.

Ela se recusava

Gritava.

Debatia.

Ninguém acudia.

Ele era gente da casa.

Era gente de bem.

Era o doutor advogado.

Estava bêbado.

Era autoridade.

Era uma autoridade bêbada pelo álcool, embriagada pela autoridade.

Bêbado pela prepotência.

Assim ele a possuiu.

Ele nutria amor por ela.

Imaginava ser um amor igual a um amor de macho por fêmea.

Não sabia que esse amor tinha a ver com amor de filho por mãe.

Não sabia de sua história.

Não sabia que o que sentia era de sangue.

Que era amor de filho por mãe.

Ela sabia.

Ela, que o gerara sem amor, nutria por ele amor, fez com ele amor de lágrimas.

Amor entre lágrimas.

Chorava.

A cada lágrima ficava mais leve.

A cada lágrima que escorria era um alívio.

Era como se elas pesassem uma tonelada.

Chorava de dor.

Chorava das pernas doloridas de tanto dar.

Chorava por todos os homens que tivera dentro de si.

Os murmúrios e seu choro ouvidos de fora do quarto sugeriam que estavam ali num ato de muito prazer.

Ela gemia de dor.

Ele gemia de gozo.

Ele desfaleceu de álcool e de prazer sobre seu corpo.

Foi a única vez que ela teve sobre seu colo esse seu filho.

O filho com o Senador.

Não comentou com ninguém o ocorrido.

Não podia revelar a história.

Tinha que guardar esse segredo.

Jamais revelaria a ninguém o ocorrido.

Agora, apesar de toda sua história, tinha algo muito importante a colocar em sua tela.

Seu estupro pelo filho era algo para ser colocado em sua tela entre lágrimas e cores.

Em tinta guache diluída em solvente de lágrimas.

RAIMUNDO CAMPOS
Enviado por RAIMUNDO CAMPOS em 01/07/2009
Reeditado em 21/12/2011
Código do texto: T1676362
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