Violeta III

MAIO: CHUVA DE LÁGRIMAS E FALSIDADES

EXISTIA UM FRIO EM MEU CORAÇÃO. Minhas lágrimas nunca secavam. Eu estava constantemente fazendo coisas que nunca imaginava fazer.

A ficha ainda não tinha caído, mas eu estava completamente perdida. Minhas amigas apenas diziam que ia passar, mas eu sabia que não ia passar.

Eu não sabia o que me aconteceria, mas sentia que não seria um mês fácil. Pedi aos anjos para que me protegessem, eu não estava muito sã.

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QUASE FALSIDADE

Maio chegou, com ele o frio também. Por mais que meu coração já fosse uma pedra fria, eu sentia congelar mais ainda. Eu sorria quase em todos os tempos, sem vontade alguma.

Meu celular nunca era atendido, até que um dia resolvi atender. Era um número desconhecido, senti uma pontada de esperança.

- Violet... Me desculpe, por favor? – Era Jhon, eu não tinha cabeça para isso.

- Jhon, tudo bem, somos amigos.

- A-amigos? – Disse com uma voz desapontada.

- Bons amigos, como sempre fomos e nunca deixaremos de ser, agora tenho que ver algumas coisas. Até mais.

Eu não tive paciência para pensar em pedir desculpas por tudo que disse a ele, eu não queria pedir.

Pensei e cheguei a uma conclusão: ele foi infantil e eu não gostava dele.

Abri meu guarda-roupa, não existia nada de bom. Liguei para Lucy. Marcamos às 6 horas na minha casa. Vamos ao shopping comprar roupas novas, cansei das minhas olheiras e das minhas roupas.

Chegamos e entramos em uma das lojas mais caras do shopping. Eu quase nunca entrava lá, não me sentia bem gastando tanto por tão pouco. Fui até o provador experimentar as roupas, eu estava quase feliz naquele lugar.

Vi meu reflexo no espelho, senti vontade de chorar.

Eu estava completamente horrível. Comprei algumas roupas e Lucy também. Comemos algo que não tivesse carne e fomos para minha casa assistir alguns filmes legais.

Meu dia tinha sido... Uma merda! Uma grande merda, eu estava sendo falsa comigo o tempo todo, eu não estava bem. Fiquei o dia inteiro me escondendo atrás de maquiagens e roupas de marca, criei uma barreira, tentei me fazer acreditar nessa mentira. No final da noite estava péssima, ao deitar não dormi. Precisei beber mais whisky, a cada noite as doses aumentavam mais. Chorei ao pensar na falsa que eu era. Chorei também por ser burra, por amar Poul, por estar bebendo tanto... Eu precisava dormir e então dormi.

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SEM PODER DORMIR

EU DEITEI NA CAMA, ISSO NOS PRIMEIROS DIAS NO HOTEL, E NÃO DORMI! Cada dia que passava parecia ser mais difícil de aguentar. Eu tinha vontade de entrar no meu carro e deixar as malas, correr e poder abraçar a minha Violet.

A cada segundo eu me agitava mais e mais. E eu sabia que não era correto ir embora. Mas eu queria.

Minha vida não tinha sentido algum sem Viol, minha Viol.

Eu não sabia se ela se sentia bem em estar longe de mim, se ela estava pensando ou não, mas eu precisava pensar, na realidade o fraco e covarde era eu.

Eu já sabia que era covarde. Mas eu tinha que voltar.

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UMA PONTADA DE ALEGRIA

MEU CORAÇÃO CONTINUAVA SENDO UMA ROCHA.

Fui ate o meu quarto, liguei o notebook. Entrei no meu MSN e a surpresa foi inevitável. Meu amigo de São Paulo, Nick, estava de viagem para Florianópolis, minha cidade. Ele ficaria algumas semanas.

Pensei que um hotel não seria melhor que a minha “humilde” casa.

Viol diz: Nick, por que você não fica aqui em casa? Vai ser bem mais divertido.

Nick diz: Hey, boa ideia Viol, você é o máximo...

Fiquei alegre por alguns tempos, em cinco dias ele chegaria.

Liguei para Lucy, ela estava chateada com algo. Preferi desligar o telefone para que ela pudesse beber algo.

Escutei um barulho em minha janela. Meu coração.

Coração? Ele ainda existia?

Sai correndo ate a janela, era apenas uma gota de chuva, umas das primeiras daquela grande tempestade, tempestade que fazia parte de mim... Deitei, levantei, peguei mais uma dose, apenas uma. Eu sentia saudade de Poul.

Saudade.

Desabei.

- POUL, VOLTE PRA CÁ, EU TE AMO! – berrei alto demais, eu queria que ele escutasse, mas eu nem sabia onde ele estava.

Fiquei com medo que os vizinhos escutassem, medo bobo. Era exatamente isso que eu iria falar para ele quando ele chegasse. “Eu te amo Poul, fique sempre comigo!”

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ESPERANÇA

MELISSA ANDAVA DE BICICLETA PELA RUA, eu estava voltando da escola.

- Olá vizinhazinha! – Chateei com ela.

- Oi Viol, tudo bem? – Ela tinha o mesmo sorriso dele.

- Se o seu irmão estivesse aqui eu estaria melhor.

- Ah... Você gosta dele né?

- Gosto sim, dá pra notar?

- Dá sim, pelo jeito que você fala dele... É o mesmo jeito que ele fala de você.

- Ele disse algo sobre mim? Quando?

- Quando ele foi embora, ele pediu pra eu te dizer que ele sente muito.

- Ele não gosta de mim Mel.

- Gosta sim, ele só precisa pensar, ele nunca esteve assim por ninguém.

- Ele volta?

- Volta sim, eu sei que volta. Ele odeia Lages, e ele gosta de você.

- Ele vai demorar?

- Eu não sei, ele liga pra minha mãe do hotel e eu não consegui saber se ele vai demorar, mas ele não vai conseguir ficar muito tempo sem você. Você é tudo pra ele.

Uma pontadinha de esperança percorreu em minhas veias, eu me senti feliz de saber que ele gostava de mim e ainda mais feliz de saber que ele voltaria.

Lages? Ela disse Lages? Por que não?

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RESSACA MORAL

LÁ ESTAVA EU, BEBENDO COM AS AMIGAS. A pista de dança parecia algum lugar desconhecido. Eu estava dançando como nunca. Sentia mãos em mim, em minhas pernas, em minha cintura. Mas tudo muito de leve, como se fosse sem querer. Eu sabia que não era sem querer, mas não me movimentei para fazer algumas brigas, por que eu estava me divertindo muito.

Martini e Whisky, alguém podia ter me dito que a mistura de Martini com outras bebidas não da certo? Fui até o banheiro. Meu rosto estava quase horrível e eu estava vermelha de tanto calor que sentia. Lucy chegou e me deu um abraço, ela estava mais bêbada que eu, com toda a certeza!

Quando cheguei à pista de novo, vi Susan agarradíssima com um garoto que eu acho que era loiro, loiro e um pouco magro. Ele era bonito. Mas eu sabia que aquilo eram só alguns beijos.

Um cara engraçado chegou em mim, um magrelo, um nerd, e alguns eram bonitos. Mas eu resolvi não beijar ninguém. Mesmo bêbada e quase inconsciente eu sei que amo Poul.

Ao chegar em casa, de imediato, fui para o chuveiro. Água quente percorria meu corpo, mas eu nem sentia. Nada me esquentava, nada esquentava a ausência de Poul.

Amanhã, ele chega! Eu tinha que deitar, me acalmar e não ter ressaca. Nick estava vindo.

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SUPER NICK

ACORDEI COM UMA ENORME DIFICULDADE, já era dia 13. Minha cabeça girava, minha mãe me chamava aos berros. Eu precisava me arrumar e ir com ela até o aeroporto.

Coloquei a primeira calça de encontrei, uma camiseta vermelha de botões e um casaquinho branco, fazia frio. Eu estava ansiosa, mas não aparentava. Mas meu coração pulava, com muita velocidade.

Tudo bem Viol, tudo muito bem, você já está no aeroporto e ele já está quase aqui.

Meu celular tocou. Nick está chegando. O alarme denunciou o horário.

Olhei para baixo, procurando algumas palavras, alguma coisa que eu queria falar, afinal, Nick já tinha sido um amorzinho de internet. Era a primeira vez que nos víamos, nós éramos apaixonadinhos um pelo outro, mas era aquela besteirinha de internet e logo passou. Mas mesmo assim, ele havia se tornado um grande amigo para mim. Eu queria que ele ficasse feliz, eu queria ficar feliz, mas estava um pouco difícil. Eu tinha esquecido a ausência de Poul por alguns minutos, mas voltei a lembrar. Bom, Nick é lindo, tem olhos azuis e cabelos pretos, pretos demais, um contraste com a sua pele, que é muito branca.

Eu estava pensando na sua fisionomia, quando olhei para cima, vi um garoto muito parecido com os detalhes de Nick, mas era mais bonito. Baixei minha cabeça.

Olhei novamente, era Nick.

O abraço foi automático, de tantas vezes que eu imaginei esse momento. Ele beijava meu rosto com tanta felicidade. Meus olhos brilhavam por que eu estava feliz, sim, eu estava feliz. Ou quase.

- Ai Viol, que feliz que eu to!

- E eu então, caramba, que momento maravilhoso.

- Ah, é só o primeiro momento, a gente tem ainda algumas semanas.

-Sim... Um mês, por favor.

- Ah Violet, não vai rolar o mês todo, a minha mãe não deixou, até deixou comprada a passagem.

- Sem problemas, eu compro outras.

- Não Viol, não, não rola mesmo. Bem que eu queria né, claro. Mas não dá, tenho a escola e tudo mais.

- Tudo bem, é verdade. Eu nem vou ter aula essa semana e eu não to a fim de ir pra escola.

- Eu também não.

Então pegamos um táxi. Mamãe havia ido trabalhar em alguma coisinha insignificante, no seu escritório.

Ele ficava me abraçando a cada segundo, me senti protegida.

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HISTÓRICOS

Dia 22/07/07 – DOIS ANOS ATRÁS

- Juro que quando eu puder vou te ver, eu juro.

- Se quiser eu vou agora mesmo.

- Não Violet, eu não acho correto. Eu te amo demais ok?

- Tudo bem Nick, tudo bem, eu te amo muito, muito mesmo, preciso muito te ver, poder te abraçar. Por mais que eu seja apenas uma menininha de 13 anos e você um garotinho de 14, eu sei que te amo.

- Eu te amo mais Violet, com toda a certeza. Eu só preciso de tempo e preciso convencer minha mãe, você sabe...

- Ah Nick...

- Viol, eu vou sair... Te amo mesmo.

Dia 12/03/08 – UM ANO E POUCO ATRÁS

- Eu sei disso Nick, mas não posso mais, ta difícil...

- A Viol, faz o que tu quiseres, só não conta mais comigo.

- Mas eu continuo te amando Nick, você tem que entender isso. Eu só não quero mais morrer sofrendo, por que nos estamos longe um do outro. Tu achas que eu to bem com essa decisão?

- Ta melhor que eu, tenho certeza absoluta. Eu também acho melhor assim, já que você diz...

- Quero ser sua amiga ainda, hoje e sempre. Eu te amo mesmo.

- Tomara... Se você me deixar eu te corto o pescoço, sua boba!

- Nunca vou fazer isso! Mesmo por que não quero perder o pescoço.

Nick e eu ficamos lá, lendo nossos históricos. Os que mais chamaram atenção foram aqueles dois. Do dia em que nós havíamos feito as pazes e no dia que eu cansei de tanta ilusão. Desde então ele e eu éramos amigos, no começo aconteceram algumas recaídas, mas continuamos amigos.

- Lembra que no comecinho, eu ficava com a Paulínia e você morria de ciúmes?

- Lembro, claro que sim – Ri baixinho – você lembra que na época eu gostava do Jhon? Que boba que eu fui...

- A verdade, mas então, o que aconteceu a respeito de Jhon?

- A gente quase ficou no começo do ano, mas aconteceram umas coisas.

- Tipo o que?

- Ah, eu estava quase com o Jhon, mas me apaixonei pelo Poul, ele mora aqui do lado. E então ele passou a me visitar, e a gente começou a se gostar, mesmo!

Então contei a história detalhadamente, quando terminei...

- Ah Viol, eu quero te deixar feliz. A gente tem que sair pra beber, quero te conhecer melhor.

- É. Verdade. Sabe Nick, as doses de whisky nunca diminuem... Eu to virando uma verdadeira alcoólica. – fui debochada.

Então os históricos ficaram apenas na memória, apertei “delete”.

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RESSACA A DOIS

NICK ESTAVA LINDO, um dos amigos mais lindos que eu tinha era, com toda a certeza, ele. Minha cama dava para duas pessoas, mas nós preferimos que ele ficasse no colchão, para evitar tumultos, claro.

Quando Nick abriu a porta do meu banheiro, um cheiro maravilhoso se espalhou. Eu gostava do perfume de Nick, eu gostava de Nick por completo.

Ele ainda estava de toalha.

- Sim, você quer me matar? – Falei rindo, mas meu rosto estava quente, eu estava muito envergonhada.

- Você não vai tomar banho? Enquanto você toma banho eu me arrumo.

- Tudo bem, tudo bem, eu queria ficar aqui... Brincadeira, calma!

Ele rio, mas me mandou ir para o banho.

Quando eu sai – de toalha, ele me olhou. E eu disse:

- Vai arrumar seu cabelo no banheiro.

Eu havia feito de propósito, claro.

Saimos pra dançar, eu mal pensava em... Poul! Mas eu ainda sentia saudade.

A mistura de whisky e martini não foi repetida. Nós bebemos não muito, mas as pernas já não nos obedeciam. Tive medo de relembrar o passado e acabar beijando Nick, mas meu cérebro lembrava a existência de Poul, em Lages... Em Lages, porque não um passeio a Lages? Não!

Quando chegamos em casa já era dia. Não estávamos com vontade de pegar o colchão. Tirei minhas roupas e Nick tirou as dele, coloquei um camisetão e ele fez o mesmo. Nos deitamos em minha cama. A noite estava um pouco fria, então nos abraçamos.

- Eu ainda te amo Viol.

- Eu sempre vou te amar, já jurei isso. – as palavras saíram um pouco mais distorcidas, pelo efeito alcoólico.

- Então deixa eu te beijar?

- Não posso Nick, por mais que nos estejamos assim, um pouco tontos, eu ainda amo Poul.

- Eu não ligo Viol, juro que não ligo. Demorei muito pra vir pra cá, e vou embora logo. Eu não quero perder essa oportunidade.

- Mas é esse meu medo, voltar a ser como era antes, eu não quero sofrer como antes.

- Deixa?

- O que?

- Eu te beijar.

Resposta? Nenhuma, me virei para o outro lado e tirei as mãos dele de minha cintura. Eu amava e amo Poul, não posso fazer isso. Por mais que ele esteja me evitando é apenas por um tempo. Quando ele voltar vai ficar tudo bem.

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DIAS EM LAGES

EU NUNCA FUI DE FAZER ANOTAÇÕES. Mas agora eu estou muito apaixonado. Quando estou com ela meu coração dispara, eu não sei bem o que dizer a ela, fico com medo de machucá-la, ela parece uma bonequinha, minha bonequinha.

Mas isso não vem ao caso. Eu, como sempre, fui um babaca. Na primeira dificuldade fugi pra Lages.

Nós estávamos indo bem, ela é muito perfeita, ate demais para mim. Mas o que eu poderia fazer? Eu gosto dela, eu amo ela. E eu sinto que ela me ama. Não importa se eu sou um babaca e ela é uma princesa. Uma princesa com cheiro, com gosto, de morango.

Eu nunca me cansaria de beijar seus lábios, são tão quentes e tão... Tão... Me faltam palavras para descrever o que eu sinto quando tenho ela em meus braços, quando sinto que ela é apenas minha e de mais ninguém. Eu não gosto de ser possessivo, mas ela me fez assim.

Meio de Maio, quase um mês que fiz meu ato de covardia. Levantei e sai, sem ao menos dizer a ela o quando eu a amo, o quando ela é importante para mim, o quando ela muda em minha vida. Eu queria poder dizer que com ela eu sou feliz, que com ela eu sou eu mesmo.

Estou praticamente decidido a voltar, em breve. Eu amo Violet.

- CONTINUA -

Aura Ksna
Enviado por Aura Ksna em 15/09/2009
Código do texto: T1812508
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