Intensamente

Era a primeira vez que ela se apaixonara. Seus olhinhos meigos mal podiam crer na cena que acabaram de ver. Seu corpo, ainda reagia tremulo ao beijo roubado que deixara seu coração palpitando. Êxtase.

Sentia-se ávida.

É certo que fora pega de surpresa, mas agora que o mal estava feito, a menina, tímida que era, não tinha como concertar. Concentrou então sua atenção na raiz do problema, e em buscar dela uma solução lógica.

Astutamente, resolveu então entregar-se de corpo e alma ao meliante e continuar o delito, afinal o pobre rapaz não podia levar a culpa sozinho, e era bem verdade que ela tinha gostado do ato desesperado do garoto.

Respirou fundo e, pela primeira vez em sua curta vida, tomou de volta para si o beijo que o rapaz acabara de roubar. Fazendo-se de vitima e cúmplice, deliciou-se com os lábios quentes do rapaz.

Ele assustado também se deliciava com o sabor de framboesa da boca da menina, que se doava sem nenhum pudor. Ambos entregavam-se uma ao outro sem reservas.

Era o primeiro contato físico entre ambos, e já puderam perceber a necessidade que um tinha do outro. Então se doavam intensamente.

Segundos depois, ainda sem trocar nenhuma palavra, olharam-se atentamente. Ele podia sentir no olhar dela um desejo insano por liberdade, ela captava no mar de suas retinas um vazio gigantesco que, de alguma maneira, começava a desaparecer.

Fizeram então aquela carinha de criança inocente, autores de um crime perfeito, e despediram-se.

É obvio que o pós-beijo não foi tão mágico quanto o ato proibido em si, mas puderam captar naquela troca de olhares uma cumplicidade nunca antes imaginada.

Ela, depois de inspirar coragem, abraçou finalmente seu primo desejando-lhe boa viajem ainda sem dizer nenhuma palavra. Ele partiu calado, mas com a certeza que voltaria nas próximas férias.

O rapaz que antes não acreditava nessas coisinhas de estar apaixonado, sentia agora crescer em seu peito um sentimento maior que a própria vontade de viver. A moça, agarrando-se à certeza de que ele em breve voltaria, fazia desse novo sentimento uma razão a mais para viver.

Agora ambos partiam para o desconhecido acreditando apenas num amanha vindouro. Era a mais pura esperança.

A moça voltou correndo para casa, pegou seu diário, e numa página perfumada começou a desenhar lindas letrinhas confessando o ardente beijo com seu primo. Descreveu em detalhes picantes as emoções que sua alma perplexa conseguiu captar. Foi apenas um beijo com rápida repetição, mas o suficiente para deixá-la com os pés fora do chão. Finalizou com um “... até breve querido diário...”, e guardou na agenda o papel da bala que ele lhe dera ainda quando estavam a caminho do aeroporto.

Ele, a caminho de casa, não sabia explicar o porquê da atitude desesperado no saguão do aeroporto, só entregou-se a este sentimento que já há algum tempo crescia em seu peito, e entendeu que não precisava de uma justificativa. Ele gostava dela de graça.

Hudson Eygo

Hudson Eygo
Enviado por Hudson Eygo em 07/11/2009
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