Espelho (miniconto)

Doze meses desempregado. Um telefonema muda toda a situação. O Instituto da Bela liga para fazer uma entrevista. Quinta-feira se emboneca todo para a entrevista. Fica três horas em frente ao espelho. Olha e se deslumbra com a sua imagem. Gosta do que vê. Encontra uma pinta do lado do lóbulo direito da orelha. Passa uma base acetinada em cima da pinta. O espelho o encara. Encara o espelho. Fixa o olhar na sua figura. O tempo transforma a sua imagem. Está maduro e muito mais bonito. Nossa! Um cabelo branco! Não acredita! Impossível! Olha mais perto e..., alívio. A luz reflete e embranquece uma parte do seu coro cabeludo. O relógio anuncia a hora. Assume a sua beleza e sai. Anda rápido. Para em frente a uma vitrina. Parece estar com uma dobrinha a mais no pescoço. Não! O vidro modifica a sua imagem. Consegue chegar a tempo para a entrevista. Entrega a pasta contendo os seus documentos. A secretária o encaminha para Izabella, a proprietária. “Boa Tarde. Qual o seu nome completo?” Para..., imóvel. Olhos fixos capturados por um circulo brilhante. Responde olhando para o espelho na parede logo atrás da mulher. “Narciso Silva a seu dispor.”