PISCA-PISCA ou VOLTA, ROSA!

Lembro como se fosse ontem. Estava ali, sentado naquele bar, pensando na vida, questionava um motivo pra viver, todos negativos. Quando ela apareceu, poderia descrever cada momento, acabava de engolir aquela lapada de cachaça e, de olhos fechados, acompanhava o percurso entre a goela e o estômago e, quando abriu os olhos, estava ali, na sua frente, a coisa mais linda e maravilhosa que os seus olhos haviam visto e o mais importante, sorrindo para ele. Não era possível acreditar, uma mulher daquele porte, não que ele fosse de se jogar fora, mas ela era um avião, uma miragem, um milagre. Como poderá parar naquele aeroporto tão pequeno? No seu entender, não havia espaço.
Fecha novamente os olhos para tirar a dúvida de que aquilo não era um sonho. Quando abriu, ali estava ela, era real. Saiu sem querer um “olá!”, meio sufocado com a timidez; como um sinal que abrisse no verde, ela começou a falar. Nome: Rosa, podia chamar de Rosinha. Falou do trabalho, como gostava da vida… Cada vez que abria a boca, era como um convite, aqueles lábios carnudos e vermelhos provocavam a imaginação. Preocupava-me se o corpo estava vermelho, pois poderia denunciar os pensamentos mais malucos que passavam em sua cabeça e ela ali, em sua frente, não o deixava perguntar e nem parava de falar. Ele imaginava posições, opções… já podia vê-la nua. Na realidade, como sem querer, ela já tocara com o pé em sua canela e, como se não o tivesse sentindo, ficou sentindo o tremer pela perna da calça subindo.
Até hoje, não conseguia entender o porquê daquela vontade de urinar. No início, tentou segurar um pouco, mas não conseguiu e teve que pedir que o desculpasse por alguns minutos, ao que não houve nenhuma reação contrária. Lembrava como levantara, já com a mão esquerda no bolso, tentando disfarçar aquilo que se formara desde o momento em que aquele pé o tocou.
Nunca perdoou aquele babaca que entrara na sua frente no banheiro. A verdade é que, mesmo com aquele imprevisto, não demorara mais que dois minutos, tempo suficiente para que Rosa se fosse, para que nunca mais a visse. Procurou por toda a redondeza, nunca a encontrou. Fez até verso,
Rosa, volta Rosinha.
Rosinha, volta, minha flor.
Flor, eu sei, nunca foi Rosa,
mas vem pra mim, meu amor.

Agora estava ali, dois anos depois… Interessante, por dois minutos, já se passaram dois anos. Estava ele, naquele bar, todos os dias, desde a hora que abria até a hora de fechar. Naquele mesmo banco, pedia uma cachaça, bebia, fechava os olhos e abria. Muitos já o chamavam “pisca-pisca”. Isto, no início, o incomodava, agora não, nem ligava, até quando por João Pisca-pisca ou Pisca-pisca o chamavam, respondia. Sabia, era um pouco estranho, mas não podia parar. Foi num fechar e abrir de olhos que Rosa surgira a primeira vez, seria num fechar e abrir que ela iria voltar.
- Garçom, mais uma!

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Nasser Queiroga
Enviado por Nasser Queiroga em 24/12/2009
Reeditado em 08/06/2020
Código do texto: T1994490
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