É só uma rosa!

O parque era pequeno, com árvores e gramados mais cuidados do que o comum, onde pessoas de todas as idades escreviam parte de suas histórias. Por trás de algumas árvores erguiam-se, frágeis, pequenos canteiros de rosas vermelhas e brancas, intimidantes em seu silêncio, com a grandiosidade dos arbustos escondendo sua beleza. O céu era vasto, de um azul frio e manchado de nuvens.

Era uma tarde de domingo. A única coisa que Luiza almejava era chegar ao seu destino, sem mais danos emocionais. Seu semblante flácido e seus olhos tristes denunciavam parte dos sentimentos que atordoavam sua consciência jovem e imatura.

Luiza tinha 23 anos e já carregava marcas visíveis de uma vida com mais altos e baixos sentimentais do que a sua aparência inexperiente seria capaz de suportar. Pensava que talvez, esse seria o resumo de sua existência “Portar mais decepções do que seu coração aparentemente fosse capaz”.

Estava sempre cercada de pessoas, mas sentia-se numa solidão indescritível cada vez que olhava para dentro de si. Com seu corpo atraente, olhos e cabelos claros, personalidade marcante e mente privilegiada, ela atraía olhares, amizades, amores. E com a mesma facilidade com que Luiza adquiria pessoas em sua diversas relações, amorosas ou não; somava também decepções.

Foi por isso que havia resolvido abandonar tudo e voltar para a cidadezinha onde seus pais moravam. Marilândia era o tipo de lugar que Luiza jamais sonhara colocar em prática sua carreira de jornalista. Mas era também o único recanto onde acreditava ser capaz de inativar seus sonhos.

E era exatamente nisso que pensava, quando estava dentro do ônibus, esperando-o partir. Observava o ambiente fora dele no momento em que se deu conta de uma coincidência deprimente que a cercava. Aquele parque, perto do local de embarques de ônibus para a sua antiga cidade, marcava os principais momentos de sua vida.

Fora ali que anos atrás decidiu-se pela profissão de jornalista, onde conhecera as primeiras pessoas com quem se relacionou na cidade, onde imaginara que seus sonhos se tornariam plausíveis, fora o lugar que conhecera – o primeiro e único grande amor de sua vida, o local onde chorou sozinha por todas as desilusões que a abarrotou, onde decidira abandonar seus sonhos, ir embora.

E ali estava ela, com todos os recomeços diante dos seus olhos. E aquelas rosas? Foi em comparação a elas que um dia chegou a se recompor. Porque como as rosas vermelhas, no passado, assim dizia-se ela: “ com a nitidez dos sonhos tão inabalável que jamais iriam desbotar-se com o orvalho dos problemas, nem com a neblina das desilusões; que cegam, mas sempre passam.”

Ela se enganara. Realmente as rosas vermelhas não se desbotaram. Mas murcharam, secaram e morreram antes mesmo de exalar o bom aroma que guardavam em sua essência.

Foi quando o motorista dirigiu-se a ela e timidamente chamou-lhe a atenção:

- Desculpe-me senhorita, sinto muito em lhe dizer, mas houve um pequeno imprevisto, esse ônibus vai ser substituído por outro porque apresenta alguns probleminhas. O outro veículo vai sair daqui mesmo, dentro de uma hora.

Luiza balançou a cabeça positivamente e se retirou do ônibus sem dizer nada.

Já que não tinha absolutamente nada para fazer, ela foi ao parque para esperar o tempo passar. Quando se deu conta, estava em frente ao canteiro de flores.

Depositou suas bagagens no chão e permaneceu imóvel. De repente, um homem se aproximou dela e disse, sem cerimônias, nem apresentações:

- Admiro esse canteiro de flores há muito tempo, e nunca vi uma moça tão bonita e tão triste perto delas!

Luiza, sentindo-se invadida permaneceu calada. O homem estava tão bem vestido, era moreno alto, com cabelos e olhos muito escuros e não aparentava em nada com um jardineiro. Ele insistiu em continuar com seu diálogo, mas de forma mais gentil:

- Meu nome é Otávio... Você parece perdida, algum problema?

Ela respondeu:

- Não, não é nada. Só to esperando dar o horário para ir embora – olha para outro lado, volta atrás do que havia dito completando – Mas eu to triste sim!

Subitamente uma bola de futebol atingiu o canteiro e quebrou uma rosa. A criança, dona do brinquedo pegou-a e saiu correndo. Otávio atravessou o canteiro, apanhou a rosa e entregou-na para Luiza sorrindo.

Ela começou a dizer debaixo de uma cortina de lágrimas e sem se dar conta de suas palavras:

- Ela encanta, enfeita e transmite alegrias, até que alguém decide por ela e ela morre. Tão vermelha e inofensiva, tão... bonita!

Otávio assustado com a reação da moça começou a falar:

- É só uma rosa! Não precisa...

Mas ela insiste:

- Não, esta sou eu! Venho aqui para este lugar tentar uma vida nova e no mesmo local em que planto meus sonhos sou obrigada a sepultá-los – diz Luiza amassando a rosa dentro de sua bolsa.

O jovem atordoado com as palavras dela; sem saber onde seu discurso daria e sem ter a mínima noção de que terreno sentimental estaria pisando. Mas ele precisava fazer alguma coisa pela moça que há semanas perseguia seus sonhos e o fazia suspirar feito um adolescente apaixonado, disse:

- Espero que você não esteja olhando só para as outras pessoas para decidir sobre a sua vida. Os caminhos da vida são incertos, mas podem se tornar ainda piores se quiser seguir de acordo com a disposição dos outros.

- Eu to tão sem vida quanto essa rosa! Respondeu ela.

- E o que sobrou? Não dá para renascer? Olha o restante da rosa, ainda está enraizado e pode florir muito. Talvez você consiga recomeçar, que tal?

Luiza abre a boca para responder, mas um garoto passou e surpreendeu-na levando correndo a sua bolsa. Otávio vai atrás dele para recuperá-la e desaparece correndo entre os carros.

O tempo passa e Luiza resolve ir embora sem esperar para conferir se o rapaz voltaria com seus pertences.

Grande lição de vida! Quando um discurso tão comovente começava a convencê-la e surtir efeito em sua consciência... Ocorre a última coisa que faltava para colocá-la ainda mais no fundo do poço!

Agora, além de encontrar-se sem esperanças, estava também sem o pouco de dinheiro que ainda lhe restava, sem documentos... Sem a rosa. Mas, era apenas uma droga de bolsa. Era apenas uma droga de rosa.

Dias depois, já na casa de seus pais, na interiorana cidadezinha para onde voltou, recebeu os seus pertences junto com uma carta que dizia:

“Não sei o que se passava na sua vida quando te encontrei pela primeira vez. Só sei que foram os olhos mais tristes e mais lindos que eu já vi. Eles denunciavam uma série de frustrações que comprometeram todo o desfecho de sua vida. Não sei quais são os seus sonhos, mais qualquer que seja o desejo que foi sepultado por você, sinto que posso ajudar a restaurá-lo. Se sua vida é como essa rosa não deixe que ela tenha o mesmo desfecho. Me encontre na rua Anderson Falcheto, n°:170, centro; às 11:00 horas.”

Atenciosamente:

Otávio Breda

(chefe do Departamento de Jornalismo, O Globo.)

Na semana seguinte, inspirada no que foi escrito na carta do seu mais novo amigo, Luiza resolve voltar à cidade para enontrá-lo. Ao vê-lo no departamento; sentiu que sua vida ganhava um novo contexto. Estava sentado à sua frente o homem responsável pela sua NOVA vontade de viver.

Eles foram almoçar juntos num restaurante próximo ao local, modesto, porém muito aconchegante. Ao saber da excelente formação acadêmica e sua atual situação de desemprego, Otávio prontifica-se a ajudá-la.

O posterior convívio, trás à tona um sentimento que há algum tempo não era comum entre os dois.

A partir desse momento, Otávio e Luiza compartilham a mesma história e ao contrário da rosa; o principal fator que os uniu, a história delas não acabaria com qualquer obra do acaso. Ela renasceria sempre!

... Participação ativa: Tiago P. P. - Parte importante da minha história!

Adrianas
Enviado por Adrianas em 18/01/2010
Reeditado em 18/01/2010
Código do texto: T2036711
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