UM NOVO AMANHECER

Abril de 2007. Naquela manhã chovia muito.

As águas rolavam com barulho assustador na cachoeira, dava para se ouvir. Relâmpagos clareavam as colinas. Trovões sacudiam a terra. Era um novo amanhecer. Ainda cansada da viajem levantei-me. Vesti um casaco, desci as escadas que davam para cozinha. No meio dela um gatinho miava, creio que assustado ou com frio. Peguei-o. Assim descemos a rústica escadaria. Dava para perceber que o ambiente em tom escuro combinava com os móveis antigos. Ligeiramente pensei ser por causa da chuva que estava todas as janelas fechadas. As cortinas em tons pastéis realçava a sala de estar sem nenhum toque feminino.

- Bom dia, menina! É cedo. Seja bem-vinda.

- O patrão já saiu, mas ordenou-me para cuidar da senhorita. Sente-se. Vou pôr o café..

- Bom dia.

Foi a única palavra que falei, enquanto colocava o gatinho no chão. Este ficou entrançando em minhas pernas. O olhar daquela senhora fitou-me como interrogando o por quê de estar ali. Fiquei aturdida com aquele semblante grosseiro. O eco de um trovão estremeceu no tempo, tirando-me dos rápidos pensamentos.

- Não tenha medo. Acostume-se com chuvas fortes.Tempestades assim são raras mas todo ano acontece.

- Sirva-se. O leite e as torradas estão quentinhos.

- Meu nome é Anny. Anny Rouston.

- Eu sei. O senhor informou quaze tudo. O almoço só será servido na presença do patrão. Se precisar de algo, é só falar.

Já falava sem mim olhar cuidando de seus afazeres domésticos. Não tive coragem de perguntar seu nome, logicamente saberia mais tarde. Tomei o café em silêncio. Se aquela senhora achava incrível minha presença, agora eu mesma mim perguntava se ficaria até o verão. Afinal era surpreendente a forma como Walter me recebera. Ainda não o tinha visto. O motorista quem foi a rodoviária. Este também esquisito, só respondeu as poucas perguntas que fiz. O jipe parecia pular entre os pedregulhos até chegar a estrada que dava para a fazenda. Já era noite e não deu para ver a paisagem. Da garagem tinha uma outra escada que dava para a esplanada por onde subimos e chegamos ao quarto. Entregou-me a chave, despediu-se e já descendo voltou-se sorrindo:

-Ia esquecendo, o patrão só chegará mais tarde. Melhor dormi e descansar. Boa noite.

O quarto era simples, aconchegante. Vi que tinha um jarro com rosas do campo que enchia o recinto de seu perfume. Estava realmente cansada, logo adormeci. De repente alguém bate na porta dos fundos, a senhora atende. A voz era de homem e falava apressado. Ela deu ordens e voltou para cozinha. Tive vontade de perguntar o que era mas contive a curiosidade. Voltei para o quarto. Só então vi que havia junto as rosas um cartão:

"Querida Anny, seja bem-vinda"

Walter.

A letra era a mesma de dois anos atrás quando conheci Walter em Campinas. Estávamos em férias colegial e naquela tarde resolvi ficar no hotel. Estava muito quente, desci até ao jardim com meu inseparável Diário, iria registrar todos os acontecimentos das nossas aventuras quando fui interrompida por aquele homem que perguntava se desejava acompanha-lo até a piscina para um drink. Não cheguei nem a responder já havia segurado minha mão dirigindo-se a uma mesa já reservada, penso eu. Meio assuntada fiquei a observá-lo. Alto, esberto, bonito, cabelos escuros bem cortados, pouca conversa, mas sorria para mim de forma angelical.

- Vi que seus amigos saíram. Observe-a desde que chegaram e gostei de você.

- Meu nome é Walter Conrad. Quero conhecê-la melhor...

- O meu é Anny Rouston. Estou de férias...

- Sim, senhorita Anny, eu sei. A cidade é pequena embora receba muitos visitantes é raro ver tão bela garota.

Falava e sorria. Sim, foi o seu sorriso que me encantou. Conversamos descontraidos. Walter sempre foi assim, surpreendente... pegou meu Diário e escreveu: "Querida anny, quero vê-la à noite".

- Sua companhia sempre será um prazer.... Levantou e foi-se.

Abri a bolsa e comparei a letra. Sem dúvida era a mesma letra do Diário. Coloquei o cartão na mesma página. A chuva agora estava fininha. Fui a janela e abri. O ar fresco da fazenda fez bem a minha face. Resolvi ir até a esplanada. Havia duas cadeiras de balanço em madeira, alguns bancos e uma enorme palmeira. Os pingos de água caiam nas rosas como que beijando-as. Eram as mesmas rosas que estavam no quarto. O jardim estava bem cuidado. A grama toda aparada. A minha frente um pasto verdejante ... longe alguém acenava para mim e chamou meu nome.

- Anny... Anny, querida...

- Walter!!!

Corri ao seu encontro. Atire-me aos seus braços que me rodopiaram como cirandas à chuva, Sorríamos felizes. Pegou-me pelo colo carregando até em casa. Enquanto corria comigo nos braços, replicava por está na chuva:

- Anny, pequena Anny. Cuide-se. Estou todo encharcado e ... não terminou pois meu desejo foi maior, bejei-o apaixonadamente. A chuva fininha testemunhava naquele amanhecer o nosso amor, como véu de uma nova esperança.

MA SOCORRO

(Não percam o próximo episódio)

ma socorro
Enviado por ma socorro em 15/02/2010
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