Lembranças que a vida traz - Cap. V

As gotas de chuva caindo na janela de seu quarto a fizeram viajar novamente no tempo, voltou àquela noite, à praça quando o conheceu.

Gostava de pensar observando a chuva, lembrar os bons momentos que tiveram. A memória incrível, transportara-a para o momento exato de um encontro...

Foi em uma bela tarde naquele mesmo banco de praça que eles se encontraram, a chuva começou de repente, mas eles não quiseram se esconder dela, andaram de mãos dadas, ora corriam ora se abraçavam e sentiam que a vida os pertencia em plena alegria. Tão jovens, tão sonhadores, parecia que o tempo não lhes interferiria em nada, que nunca se afastariam. Cada momento era único, cada beijo uma promessa de vida.

O que mais lhes importava era pensar no presente, não na despedida que em breve chegaria. O amor estava ali, como obra divina a encantar uma paisagem que lhes ficaria guardada para sempre na alma pura.

Como era bom amar assim. Estava imensamente feliz ao lado dele, e no fundo de seu coração havia uma tristeza, eram seus últimos momentos juntos.

De volta à realidade lembra que seus dias de folga estavam acabando, logo teria que regressar a sua vida atual, o sonho estava prestes a deixar de existir.

Será que em sua vida tudo aconteceria sempre assim? Tantas despedidas e poucos reencontros? Adormece pensando nisso, uma noite agitada com sono inquieto e a alma angustiada.

Amanhecera um lindo e ensolarado dia, convidando a um novo passeio de canoa, mas desta vez, iria por outro caminho, seguiria nas águas mansas até a divisa da fazenda com o outro lado da cidade. Nada como fazer um exercício que amava, poderia parar algumas vezes para mergulhar nas águas frias e tentar esquecer a noite mal dormida. Estar ali lhe fazia viajar em pensamentos, recobrar na memória o que de mais intenso vivera.

Enquanto remava, a canoa deslizava suavemente pelo rio, tinha uma sensação de hipnose, nem sequer percebia o caminho percorrido, apenas seguia em pensamentos e movia-se automaticamente em meio a quietude das águas e o cantar de pássaros ao longe.

Vez ou outra, um ruído de cascas secas caindo das árvores, um animal correndo da beira do rio ao perceber sua passagem. Ela apenas sorria, entendia o receio de animais livres na natureza ao sentir presença de estranhos. Estava bastante distante da cidade, aquele era um de seus lugares preferido, costumava passear de barco com a família naquele trecho de rio, guardara boas recordações do local, seu pai a ensinara conhecer cada caminho percorrido, cada ruído dentro da mata e respeitar a natureza.

Sabia que ao sentir sede dentro da mata poderia procurar algum cipó nas belas árvores e tomar sua água, cada fruta que no primeiro instante poderia lhe parecer apetitosa talvez não fosse o que demonstrava, mas aprendera diferenciá-las também. O Bacuri, a Castanha e o Taperebá? Que saudade de seu sabor tão incomum e ao mesmo tempo irresistível. Sabor delicioso de infância! A sombra da formosa Samaúma à beira do rio, uma belíssima árvore com seus quase quarenta metros de altura, tudo isso a deixava mais saudosa ainda. Quantas vezes passara por aquele mesmo local, jamais se imaginara longe daquela vida, e um dia isso tudo se foi.

Mesmo quando tentava, não conseguia afastar as fortes lembranças, as perguntas insistiam em lhe povoar a mente.

Novamente estaria com seu amor? Após tanto tempo de distância, depois de várias mudanças, nem sabia por onde começar a procurá-lo, mas já que tinha vindo até ali, não iria desistir. Não era de seu feitio fazer isto.

Descobre apenas que ele já não mora na cidade, está vivendo em um lugar não muito distante. Iria conseguir encontrá-lo?

Sua preocupação era natural, fora embora há tantos anos, com o tempo cada um tomou novo rumo, acabaram-se as cartas, telefonemas ou qualquer informação sobre ele. A vida estava ficando tão monótona, faltava algo para dar sentido novamente ao seu sorriso.

Não poderia desistir de encontrá-lo agora, iria até o fim. Desta vez sentia em seu coração que seria decisivo o reencontro...

Resolve voltar, de repente sente uma grande necessidade de ir para casa, se despedir dos amigos que a acolheram com tanto carinho e viajar ao encontro dele...

Quando se aproxima da ponte para devolver a canoa vê que alguém a observa de longe, tinha que ser ele, seu anjo guardião, seu amigo tão querido que, como sempre, parecia adivinhar onde ela estaria.

Sorrindo, recorda-se que ele costumava dizer que percebia sua presença por causa de seu perfume, mesmo de longe ele poderia saber onde ela estava. E vinha sempre ao seu encontro.

Teria coragem de dizer a ele sobre sua decisão? Novamente a despedida entre ambos? Sabia o quanto ia ser difícil, mas teria que fazê-lo.

Continua...

***Samaúma: A Samaúma é considerada a rainha da Floresta. De crescimento relativamente rápido, pode alcançar os 40 metros de altura. Quando em terra firme se apresenta maior em volume e menor em altura, mas também se desenvolve nos terrenos de várzeas inundáveis. A samaúma é possuidora de algumas propriedades medicinais já conhecidas, sua seiva, por exemplo, é empregada contra a conjutivite. Da família da Bombacaceae seu nome científico é Ceiba pentandra Gaertn

Na floresta amazônica, a Samaúma é uma árvore imponente, de raízes enormes e tabulares, conhecidas por sapopemas. Os povos da floresta utilizam as sapopemas para comunicação, uma vez que quando se bate nessas raízes, o ruído reverbera por todo o tronco, e como um tambor, é ouvido a grandes distâncias. Diz a lenda que a árvore-mãe da floresta também é utilizada pelos curupiras, seres mitológicos e sobrenaturais, que defendem a floresta de seus agressores. Nas noites escuras, os caçadores tremem de medo ao ouvir as batidas dos curupiras nas samaúmas(amazonia.org.br) e www.youtube.com/watch?v=hRBMx0CtTIc

Fonte: pesquisa Google e Youtube:

SanMara
Enviado por SanMara em 25/02/2010
Código do texto: T2107275
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