O príncipe encantado

Antigamente, muito antigamente, quando o mundo ainda era todo encantado,quando todas as crianças podiam brincar nas ruas,andar descalças nas poças de água, os jovens rindo e cantando voltavam das festas madrugada adentro andando a pé pela cidade. Antigamente quando todos eram felizes e não sabiam,havia em uma dessas lindas cidades muitos príncipes e um especial, era encantado.

Seu encanto corria mundo, não apenas as moças de sua cidade, mas também de outros reinados, eram todas apaixonadas por ele.

Lógico que ele, como príncipe encantado, tinha o privilégio de escolher aquela que desejasse para fazer parte do seu castelo. Porém, sua mãe, a rainha malvada, não admitia que a escolha fosse feita pelo príncipe e sim por ela mesma.

O jovem vivia sempre em busca de seu par ideal,aquela que seria a princesa do reinado e, todas às vezes que seu coração lhe dava um alerta de felicidade, a provável princesa aparecia, a rainha estava de prontidão para colocar algum defeito.Lá iam embora a esperança e o desejo de ser feliz.

Príncipe que é príncipe respeita a hierarquia. Obedece a rainha. Para compensar essa tirania, sua majestade, a mãe, cobria-lhe de presentes. Preenchia as frustrações do filho com outros prazeres; dava-lhe castelos, carruagens, roupas elegantes e tantas outras futilidades as quais nunca conseguiram suprir o que o seu coração ansiava. Coitado! Muito mimado pela rainha não percebia as sutilezas e artifícios que ela usava para manipulá-lo.

O tempo foi passando e ele perdendo as pretendentes para outros príncipes do seu condado. Homens mais corajosos tomaram o seu lugar. Ele, sem se dar conta, foi ficando triste e infeliz. Isso não era demonstrado, muito pelo contrário, ao lado da realeza e dos amigos era sempre o mais falante, disposto a todas as aventuras e algumas, bem perigosas. Quem o conhecia de verdade sabia que tudo não passava de disfarce para suas frustrações diárias.

A esta altura fazer sua própria escolha já o confundia. Ele mesmo, muitas vezes apaixonado, tinha dúvidas em tomar decisões. Vivia em conflito constante.

A rainha continuava realizando todos os seus sonhos acreditando estar assim preenchendo o coração do príncipe. Mas qual! Coração solitário, coração sem amor, sem amor de verdade, bate sem ânimo e faz um buraco na alma muitas vezes irreversível, instala a dor do amor.

Percebendo no decorrer do tempo seu condado todo entrando num mesmo ritmo, muitos casamentos, a vida seguindo seu curso normal, o belo e charmoso príncipe, agora perdido, sem saber como reconstruir sua vida partiu para outro caminho o da própria destruição.

Usou e abusou de tudo que sabia fazer mal à saúde, muita bebida, noites e noites em claro, festas glamorosas recheadas apenas por interesses destrutivos, sem ternura, sem afeto, sem aconchego, apenas muita loucura.

Um dia, sem que ninguém esperasse, aparece casado, decidiu num ato de rebeldia, sem autorização da rainha. Diziam lá no reino que ele tomou essa atitude para ter uma companhia, mas, amor mesmo ele, ali não tinha.

Seus filhos nasceram... o tempo passou.... e todos sabem que por vezes até tentou ser feliz. Com a morte da mãe abdicou de seu reinado em favor de seu irmão, foi morar longe de todos. Buscou outras formas de ser feliz.

O destino já havia sido traçado e agora por mais que desejasse nada mais daria certo.

Essa não é uma história que acaba com “e eles foram felizes para sempre”. Muito pelo contrário. O príncipe encantado dessa história nunca pode ser feliz. Morreu sozinho, abandonado, longe de todos. Um final muito triste para quem conviveu e o conheceu. Materialmente sempre possuiu tudo que desejou. Faltou-lhe o principal; tomar para si as rédeas de sua vida, colocar ao seu lado o afeto verdadeiro, a ternura,, o amor puro e real. Buscar a vida.

Triste príncipe encantado!